O “piolho de cobra” ou “gongolo” é o nome popular de um artrópode da classe dos diplópodes, estando presente em diversas regiões brasileiras e não sendo raro entrar no ambiente doméstico.

Uma característica relevante é que produz substâncias irritantes como a benzoquinona, que ao entrar em contato com a pele humana é capaz de gerar típicas alterações pigmentares, podendo ser referida sensação de queimação local breve, muitas das vezes nem mesmo percebida,

As alterações pigmentares podem variar de tonalidade preta, vermelho escuro e tons azulados, podendo demorar semanas e até meses para completo desaparecimento.

Os locais mais acometidos são os pés, uma vez que a maioria dos contextos de acidente com o animal envolve pisar com os pés descalços ou utilizar meias ou sapatos onde ele pode estar dentro sem ser percebido. Alterações pigmentares nas unhas também são possíveis.

Muitas das vezes o aspecto da lesão é que mais gera temor no paciente e motiva o atendimento médico, sendo fundamental a história clínica com possibilidade de contato ambiental, e também o exame físico que geralmente não mostra alterações além da mácula. 

Quando acometimento digital, diagnósticos diferenciais relevantes devem ser levantados no contexto de oclusão arterial, como na síndrome do dedo azul, sendo que a história clínica e alterações no exame vascular periférico geralmente podem guiar para esses quadros mais graves.

O manejo básico é a lavagem local e observação da lesão, embora alguns autores pontuem o uso imediato de solução de álcool ou éter por provável capacidade de solubilizar a toxina, algo sem eficácia comprovada.

A paciente em questão provavelmente pisou no animal enquanto brincava, de forma que a mãe confirmou que no quintal e dentro de casa sempre são observados “gongolos”. A conduta foi expectante e as lesões desapareceram por completo em cinco semanas.