Paciente do sexo feminino, 32 anos, com queixa de empachamento pós-prandial, cólicas abdominais e abaulamento do abdome há 6 meses. Qual é a conduta?
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1. Pergunta
Paciente do sexo feminino, 32 anos, com queixa de empachamento pós-prandial, cólicas abdominais e abaulamento do abdome há 6 meses. Ao exame físico, observou-se massa palpável no hipocôndrio e flanco esquerdo. Sinal do piparote negativo. Nega emagrecimento. Foram solicitadas ultrassonografia (US) e tomografia computadorizada (TC) de abdome, colonoscopia e laparoscopia, cuja biópsia mostrou tratar-se de tumor desmoplásico de células pequenas e redondas.
Pergunta:A partir da história clínica, das imagens e do diagnóstico indicado pela biópsia, qual é a conduta mais adequada?
Correto
Resposta: a) Quimioterapia e cirurgia
Imagem 4: Laparoscopia da cavidade peritoneal na topografia do omento maior (A e B), da pelve (C) e do fundo de saco de Douglas (D). Presença de múltiplos implantes peritoneais e lesões tumorais confluentes (em vermelho).O tumor desmoplásico de células pequenas e redondas é um tipo raro e agressivo de sarcoma primário do peritônio, caracterizado pela translocação patognomônica entre os cromossomos 11 e 22, que pareia os genes do sarcoma de Ewing e do supressor de tumor de Wilms. Afeta principalmente crianças, adolescentes e adultos jovens do sexo masculino, com proporção de 9:1.
A presença de massas associada à semeadura visceral e parietal do peritônio é a apresentação típica em mais da metade dos casos. A sintomatologia é escassa até que a superfície peritoneal seja infiltrada pelo tumor, quando há prejuízo da reabsorção do líquido peritoneal, gerando ascite. Por isso, a maioria dos pacientes já apresenta doença avançada ao diagnóstico, com história de dor e distensão abdominal, náusea, constipação, dor nas costas e perda de peso.
Embora os achados de imagem possam se sobrepor aos de outras neoplasias peritoneais, a presença de certas características favorece o diagnóstico desse tumor e acelera o início do tratamento. Um achado marcante é a presença de múltiplas massas de tecidos moles (sarcomatose) que envolvem a cavidade peritoneal, no omento ou no mesentério, sem a identificação de um órgão de origem definido.
Tais achados podem ser evidenciados pela ultrassonografia, mas a tomografia computadorizada é normalmente realizada para melhor avaliação das relações anatômicas, do realce e estadiamento. A confirmação diagnóstica é feita por meio de imuno-histoquímica e da identificação da translocação em amostras de biópsia do tecido, obtidas sob orientação de exames de imagem, laparoscopia ou laparotomia.
Neoplasias que produzem massas peritoneais ou mesentéricas – rabdomiossarcoma, linfoma, neuroblastoma, tumor neuroectodérmico primitivo, mesotelioma e tumor desmoide intra-abdominal – são diagnósticos diferenciais. Deve-se pensar também em doenças granulomatosas, como a tuberculose, quando formam o omental cake; e em carcinomatose peritoneal, causada por metástases peritoneais extensas de tumores epiteliais ocultos do aparelho digestivo ou dos ovários.
Devido à presença de sarcomatose, esses pacientes são considerados estádio IV logo ao diagnóstico. O sítio mais comum de metástase é o fígado, seguido pelos pulmões, pleura e mediastino. Por ser uma neoplasia agressiva, que se apresenta clinicamente já em estágio avançado e com mortalidade de cerca de 70% após 3 anos da detecção, a terapêutica para abordagem do tumor desmoplásico de células pequenas e redondas deve ser multimodal (Figura 1).
Todos os pacientes com este diagnóstico recebem quimioterapia neoadjuvante com esquema semelhante ao do sarcoma de Ewing, devido à quimiossensibilidade da maioria dos tumores. Em casos com boa resposta clínica e sem doença extraperitoneal, realiza-se cirurgia citorredutora e quimioterapia intraperitoneal hipertérmica (Imagens 5 e 6) para ressecção completa do tumor, além de quimioterapia adjuvante ou de resgate.
A associação de tratamento quimioterápico e cirúrgico possibilita uma sobrevida global de até 58% em 3 anos e de 25% em 5 anos. Isoladamente, a cirurgia não é recomendada, já que o tumor é extenso, e quase sempre há grande quantidade de lesões na pelve e no fundo de saco de Douglas, inviabilizando sua excisão completa. Além disso, a resposta à quimioterapia atinge um platô após 4 a 6 meses de tratamento, o que prejudica a redução do tamanho das neoplasias.
Não há consenso sobre o uso da radioterapia, mesmo como adjuvante em casos selecionados, devido à falta de evidências de aumento da sobrevida global e à significativa toxicidade hematológica e gastrintestinal.
Revisores: Almir Marquiore, Bruno Chaves, Gabriella Shiomatsu, Leandra Diniz, Rafael Arantes, Prof. Júlio Guerra Domingues.
Orientadores: Prof. Dr. Rodrigo Gomes da Silva, professor associado do Departamento de Cirurgia da FM-UFMG, coloproctologista e coordenador da Residência Médica em Coloproctologia do Instituto Alfa de Gastroenterologia do HC-UFMG.
Dra. Ana Carolina Guimarães de Castro, oncologista clínica do Grupo Oncoclínicas. Mestre e doutora em Gastroenterologia pela UFMG.
Referências bibliográficas:
Hayes-Jordan A, LaQuaglia MP, Modak S. Management of desmoplastic small round cell tumor. Semin Pediatr Surg. 2016;25(5):299‐304.
Subbiah, Vivek et al. Multimodality Treatment of Desmoplastic Small Round Cell Tumor: Chemotherapy and Complete Cytoreductive Surgery Improve Patient Survival. Clin Cancer Res. 2018;24(19):4865‐4873.
Izquierdo, F.J et al. The Chicago Consensus on Peritoneal Surface Malignancies: Management of Desmoplastic Small Round Cell Tumor, Breast, and Gastrointestinal Stromal Tumors. Ann Surg Oncol 27, 1793–1797 (2020).
Incorreto
Resposta: a) Quimioterapia e cirurgia
Imagem 4: Laparoscopia da cavidade peritoneal na topografia do omento maior (A e B), da pelve (C) e do fundo de saco de Douglas (D). Presença de múltiplos implantes peritoneais e lesões tumorais confluentes (em vermelho).O tumor desmoplásico de células pequenas e redondas é um tipo raro e agressivo de sarcoma primário do peritônio, caracterizado pela translocação patognomônica entre os cromossomos 11 e 22, que pareia os genes do sarcoma de Ewing e do supressor de tumor de Wilms. Afeta principalmente crianças, adolescentes e adultos jovens do sexo masculino, com proporção de 9:1.
A presença de massas associada à semeadura visceral e parietal do peritônio é a apresentação típica em mais da metade dos casos. A sintomatologia é escassa até que a superfície peritoneal seja infiltrada pelo tumor, quando há prejuízo da reabsorção do líquido peritoneal, gerando ascite. Por isso, a maioria dos pacientes já apresenta doença avançada ao diagnóstico, com história de dor e distensão abdominal, náusea, constipação, dor nas costas e perda de peso.
Embora os achados de imagem possam se sobrepor aos de outras neoplasias peritoneais, a presença de certas características favorece o diagnóstico desse tumor e acelera o início do tratamento. Um achado marcante é a presença de múltiplas massas de tecidos moles (sarcomatose) que envolvem a cavidade peritoneal, no omento ou no mesentério, sem a identificação de um órgão de origem definido.
Tais achados podem ser evidenciados pela ultrassonografia, mas a tomografia computadorizada é normalmente realizada para melhor avaliação das relações anatômicas, do realce e estadiamento. A confirmação diagnóstica é feita por meio de imuno-histoquímica e da identificação da translocação em amostras de biópsia do tecido, obtidas sob orientação de exames de imagem, laparoscopia ou laparotomia.
Neoplasias que produzem massas peritoneais ou mesentéricas – rabdomiossarcoma, linfoma, neuroblastoma, tumor neuroectodérmico primitivo, mesotelioma e tumor desmoide intra-abdominal – são diagnósticos diferenciais. Deve-se pensar também em doenças granulomatosas, como a tuberculose, quando formam o omental cake; e em carcinomatose peritoneal, causada por metástases peritoneais extensas de tumores epiteliais ocultos do aparelho digestivo ou dos ovários.
Devido à presença de sarcomatose, esses pacientes são considerados estádio IV logo ao diagnóstico. O sítio mais comum de metástase é o fígado, seguido pelos pulmões, pleura e mediastino. Por ser uma neoplasia agressiva, que se apresenta clinicamente já em estágio avançado e com mortalidade de cerca de 70% após 3 anos da detecção, a terapêutica para abordagem do tumor desmoplásico de células pequenas e redondas deve ser multimodal (Figura 1).
Todos os pacientes com este diagnóstico recebem quimioterapia neoadjuvante com esquema semelhante ao do sarcoma de Ewing, devido à quimiossensibilidade da maioria dos tumores. Em casos com boa resposta clínica e sem doença extraperitoneal, realiza-se cirurgia citorredutora e quimioterapia intraperitoneal hipertérmica (Imagens 5 e 6) para ressecção completa do tumor, além de quimioterapia adjuvante ou de resgate.
A associação de tratamento quimioterápico e cirúrgico possibilita uma sobrevida global de até 58% em 3 anos e de 25% em 5 anos. Isoladamente, a cirurgia não é recomendada, já que o tumor é extenso, e quase sempre há grande quantidade de lesões na pelve e no fundo de saco de Douglas, inviabilizando sua excisão completa. Além disso, a resposta à quimioterapia atinge um platô após 4 a 6 meses de tratamento, o que prejudica a redução do tamanho das neoplasias.
Não há consenso sobre o uso da radioterapia, mesmo como adjuvante em casos selecionados, devido à falta de evidências de aumento da sobrevida global e à significativa toxicidade hematológica e gastrintestinal.
Revisores: Almir Marquiore, Bruno Chaves, Gabriella Shiomatsu, Leandra Diniz, Rafael Arantes, Prof. Júlio Guerra Domingues.
Orientadores: Prof. Dr. Rodrigo Gomes da Silva, professor associado do Departamento de Cirurgia da FM-UFMG, coloproctologista e coordenador da Residência Médica em Coloproctologia do Instituto Alfa de Gastroenterologia do HC-UFMG.
Dra. Ana Carolina Guimarães de Castro, oncologista clínica do Grupo Oncoclínicas. Mestre e doutora em Gastroenterologia pela UFMG.
Referências bibliográficas:
Hayes-Jordan A, LaQuaglia MP, Modak S. Management of desmoplastic small round cell tumor. Semin Pediatr Surg. 2016;25(5):299‐304.
Subbiah, Vivek et al. Multimodality Treatment of Desmoplastic Small Round Cell Tumor: Chemotherapy and Complete Cytoreductive Surgery Improve Patient Survival. Clin Cancer Res. 2018;24(19):4865‐4873.
Izquierdo, F.J et al. The Chicago Consensus on Peritoneal Surface Malignancies: Management of Desmoplastic Small Round Cell Tumor, Breast, and Gastrointestinal Stromal Tumors. Ann Surg Oncol 27, 1793–1797 (2020).
Revisores: Almir Marquiore, Bruno Chaves, Gabriella Shiomatsu, Leandra Diniz, Rafael Arantes, Prof. Júlio Guerra Domingues.
Orientadores: Prof. Dr. Rodrigo Gomes da Silva, professor associado do Departamento de Cirurgia da FM-UFMG, coloproctologista e coordenador da Residência Médica em Coloproctologia do Instituto Alfa de Gastroenterologia do HC-UFMG.
Dra. Ana Carolina Guimarães de Castro, oncologista clínica do Grupo Oncoclínicas. Mestre e doutora em Gastroenterologia pela UFMG.
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