Com a melhora do tratamento da insuficiência cardíaca (IC), muitos pacientes acabam falecendo de causas não cardíacas, como o câncer.
Além dos fatores de risco tradicionais (idade, diabetes, hipertensão, obesidade, álcool e tabagismo) que contribuem para a ocorrência das duas condições, parece também haver influência de inflamação crônica e ativação neuro-hormonal. Alguns estudos sugerem que pacientes com IC tem maior incidência de câncer que a população geral.
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Baseado nisso, foi feito um estudo para investigar o desenvolvimento do câncer em pacientes com insuficiência cardíaca recém-diagnosticada.
Métodos do estudo
Foi um estudo retrospectivo que avaliou dados da população dinamarquesa a partir de registros nacionais. A data de início do seguimento foi um ano após o diagnóstico de IC em pacientes com idade entre 30 e 80 anos entre os anos de 1997 e 2016. Pacientes com diagnóstico de câncer até dez anos antes da data de início do seguimento foram excluídos.
O desfecho primário foi a ocorrência de qualquer tipo de câncer, com exceção do câncer de pele não melanoma, e o tempo de seguimento foi de cinco anos.
Resultados
Foram incluídos 103.711 pacientes. Havia uma proporção maior de homens em todo o período de seguimento e essa proporção aumentou com o passar do tempo. A taxa de incidência de câncer em cinco anos foi de 20,9 e 20,2 por mil pessoas por ano em 1997 e 2016, respectivamente, e não houve diferença estatística após ajustes para sexo, idade, comorbidades e medicações.
A maior taxa de incidência de câncer foi no primeiro ano de seguimento, independente da idade e da presença de doença cardíaca isquêmica e pacientes com idade maior que 60 anos tinham maior incidência que os menores de 60 anos. Esse aumento inicial provavelmente é decorrente de maior avaliação dos pacientes nesse período e não em decorrência da exposição a IC. Os subtipos de câncer mais comuns foram os de trato gastrointestinal, pulmão e mama.
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Ao longo dos cinco anos, o risco de morte por doença cardiovascular mostrou redução importante, enquanto o risco de morte por doença não cardiovascular mostrou redução menos expressiva. A diferença no risco absoluto de morte foi maior para os pacientes com mais de 60 anos comparados aos com menos de 60 e os com mais de 60 anos tinham um risco absoluto de câncer em dez anos maior. A incidência de câncer em pacientes sem IC foi semelhante.
Comentários
Esse estudo mostrou que a sobrevida a longo prazo após o diagnóstico de IC aumentou de forma considerável ao longo do tempo, principalmente em decorrência de novas medicações. As taxas de câncer não tiveram mudança no mesmo período, achado semelhante ao de pacientes sem IC. O risco de câncer foi maior no primeiro ano de seguimento, provavelmente em decorrência de maior vigilância médica.
Mensagem prática
Assim, devemos estar atentos ao diagnóstico de câncer na população de pacientes com insuficiência cardíaca, que tem apresentado sobrevida cada vez maior.
2 abr. 2024 
4 min. 
