Recomendações de cuidados para mucosite em pacientes com câncer

Segundo a ESMO, mucosite é descrita como o surgimento de lesões inflamatórias e/ou ulceradas na cavidade oral ou trato gastrointestinal.

Segundo a European Society for Medical Oncology (ESMO), mucosite é descrita como o surgimento de lesões inflamatórias e/ou ulceradas na cavidade oral ou trato gastrointestinal provenientes de infecções, deficiência imunológica ou algumas medicações.

Nos casos de pacientes com câncer a principal causa é a toxicidade causada pela exposição às doses elevadas de quimioterapia ou radioterapia no tratamento antineoplásico.

enfermeiro ajeitando agulha de quimioterapia em paciente com câncer e mucosite

Mucosite em pacientes com câncer

Esse tipo de lesão causa intenso desconforto e dor, afeta a capacidade de deglutição e fala e consequentemente a qualidade de vida do paciente. A Organização Mundial da Saúde (OMS) desenvolveu um sistema de classificação baseado principalmente na aparência das lesões e na preservação da capacidade funcional do trato gastrointestinal, que pode ser umas das ferramentas utilizadas durante a avaliação.

Classificação de mucosite segundo a OMS:

Grau Características
0 Sem alterações
I Dor e eritema
II Dor, eritema e úlceras.

Dieta sólida tolerada

III Dor, eritema e lesões ulceradas, somente dieta líquida tolerada
IV Dor, eritema e lesões ulceradas, nenhum tipo de dieta tolerada.

Fonte: World Health Organization. (‎1979)‎. WHO handbook for reporting results of cancer treatment

Pesquisas demonstram que a incidência de mucosite grau 3 ou 4 na cavidade oral em pacientes que recebem radioterapia na região cabeça e pescoço chega a cerca de 85%, e afirma que todos os pacientes irão apresentar algum grau de mucosite durante o tratamento. Já nos pacientes que realizam transplante células troncos hematopoiéticas (TCTH) a ocorrência de lesões grau 3 e 4 pode chegar a 75%. Estudos também demonstram que em alguns protocolos de quimioterapia a presença de algum grau de mucosite pode atingir até 90% dos pacientes.

O surgimento desse tipo de lesão na cavidade oral e trato gastrointestinal é um dos principais desafios para continuidade da abordagem terapêutica e prevenção de complicações em pacientes com câncer, muitos deles necessitam suspender o tratamento até que seja restabelecida condições clínicas para o retorno, portanto, os profissionais inseridos no cuidado devem estar aptos em realizar principalmente a identificação de grupos de risco, prevenção e plano de cuidados orais para estes pacientes.

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Principais recomendações

Prevenção e cuidados com cavidade oral:

  • Realizar triagem de pacientes com risco de complicações orais.
  • Monitorar pacientes com risco de mucosite.
  • Orientar no início do tratamento de forma verbal e escrita como manter a higiene bucal.
  • Encaminhar para avaliação no odontólogo antes do início do tratamento.
  • Orientar sobre a importância de parar de fumar e se necessário dispor recursos que auxiliem o paciente.
  • Incentivar a ingestão de líquidos.
  • Evitar alimentos açucarados e muito condimentados.
  • Fio dental: ao menos uma vez ao dia com indicação após avaliação do dentista. Evitar o uso de fio dental nas seguintes condições: dor e sangramento, contagem de plaquetas menos que 50 000 mm3. Atenção aos pacientes com câncer de cabeça e pescoço o uso de fio dental está contraindicado.
  • Escovação: escovar duas a quatro vezes ao dia. A escova deve ter cerdas macias e de nylon e o creme dental com flúor de sabor neutro, não abrasivo. Os movimentos devem ser delicados durante a escovação. Escovar a língua de trás para frente. A escova deve ser limpa com água corrente e deve secar ao ar.
  • Enxaguantes bucais: podem ser utilizados após a escovação desde que não contenha substâncias que irritem a mucosa. O enxaguante caseiro feito com Bicarbonato de sódio – ¼ a ½ colher de chá diluído em 250 ml de água filtrada pode ser utilizado para enxague bucal.
  • Lábios: utilizar lubrificantes solúveis em água (ex: lanolina) para proteger os lábios e a cavidade oral, pode ser utilizado em pacientes submetidos a oxigenoterapia para prevenir ressecamento de mucosa e lábios. Os lubrificantes a base de óleo estão contraindicados pelo risco de aspiração e por facilitarem o acúmulo de patógenos.
  • Dentaduras: remover para realizar a higiene bucal, realizar escovação da dentadura após as refeições e enxague com soluções antibacterianas , não utilizar se estiver frouxa ou desconfortável.

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Principais intervenções:

  • Realizar avaliação e classificar a gravidade das lesões.
  • Mensurar a gravidade dos sintomas associados (ex: dor).
  • Avaliar necessidade do uso de medicações para os sintomas associados junto à equipe médica (ex: analgésicos).
  • Orientar sobre o uso de medicação analgésica tópica que pode ser indicada por um dentista ou médico.
  • Avaliar necessidade de mudança em via de administração de medicações (ex: de via oral para parenteral).
  • Observar a capacidade de deglutição e junto ao nutricionista propor mudança de textura dos alimentos e cuidados durante as refeições.
  • Propor adaptações para higiene oral que causem menos desconforto.
  • Orientar sinais e sintomas de complicações provenientes da mucosite.
  • Evitar medicações pela via oral que possam causar desconforto (ex: xaropes).
  • Mucosite com ulceração: Aplicar vitamina E (cápsulas oleaginosas) sobre as lesões. Perfurar cápsula e utilizar cotonete para auxiliar a aplicação
  • Dor durante as refeições: diluir xilocaína 10% spray (em torno de 15 borrifadas) em 30 ml de água. O paciente deve bochechar e engolir a solução 10 minutos antes das refeições.
  • Laser: é uma das alternativas para regressão das lesões principalmente à partir de mucosite grau II.
  • Chá de camomila: realizar bochechos para aliviar desconforto da mucosa oral. Apesar de não ter efeito comprovado, parece aliviar o desconforto em alguns pacientes.

A mucosite sem dúvida é uma condição angustiante para o paciente oncológico e a melhor abordagem para este problema deve ser realizada de forma multidisciplinar, onde a equipe de enfermagem tem papel fundamental na realização dos cuidados necessários para recuperação do paciente.

Recomenda-se também que as instituições possuam protocolos de triagem, prevenção e intervenções onde a educação em saúde seja indispensável para a prevenção e promoção do autocuidado diante desta condição.

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Referências bibliográficas:

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