Rotina de estudos: como se motivar para aprender o conteúdo?

O estudo precisa ter um nível de exigência com dificuldade alcançável. Nem tão fácil para não criar tédio, nem tão difícil para não gerar ansiedade.

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Todos nós, para sermos felizes no que fazemos, sentimos a necessidade de alguma empolgação além da mera obrigação de fazer por fazer. Gostamos de nos sentir desafiados, sentir que nossas habilidades estão em evidência e que estamos crescendo e caminhando em direção a um patamar maior.

E isso não poderia ser diferente nos estudos.

Imagine que você adora cardiologia, sabe tudo sobre ECG e tem que assistir uma aula sobre sístole e diástole. Pois é, quando nos deparamos com um assunto e não nos sentimos desafiados, ficamos entediados ao estudá-lo, lemos de forma distraída e constantemente nos preocupando se não estamos perdendo nosso tempo. Cremos que nem precisaríamos estudá-lo ou revê-lo para acertar todo o tema na prova, mas acabamos fazendo-o pelo medo de pular o assunto e errar alguma questão no dia do teste.

Porém o inverso também é verdadeiro.

Quando o desafio é além das nossas habilidades (agora você pode parar e pensar como se sentiu na sua primeira intubação), nos sentimos nervosos, ansiosos e, certas vezes, até com um medo real. Quando levamos esses sentimentos para o lado do estudo, lembramos das vezes que nos sentimos incapazes de aprender determinado conteúdo ou que simplesmente parecia não valer a pena estudá-lo, que o esforço exigido para sequer entender o assunto era grande demais e que provavelmente não iria gerar resultados no dia da prova.

Nesse momento você já deve ter vivido em ambos os cenários:

  • Quando o desafio é muito maior que a sua habilidade = ansiedade
  • Quando a sua habilidade é muito maior que o desafio = tédio

Ai você pensa “mas todo mundo não é assim?”. Certamente. Isso não acontece com uma ou duas pessoas, mas sim com a grande maioria da população.

Porém, o que acontece quando você consegue equilibrar o desafio com a sua habilidade? Ninguém mais te segura. Parece que o mundo inteiro é seu, que você acaba de descobrir o maior segredo para passar na prova. Seria capaz de passar horas estudando aquele assunto com o máximo de foco e rendimento, parece que seu tempo está o mais otimizado possível! Quando vai parar para beber água, percebe que já passaram algumas horas e você nem percebeu! O cansaço é quase inconcebível, como poderia alguém não gostar desse assunto? Você faria isso por mero hobby!

E fica imaginando… “Quem dera eu conseguisse estudar todos os conteúdos dessa forma… passaria fácil até em Havard!” Foi exatamente de um professor dessa tão renomada instituição que eu ouvi pela primeira vez a definição desse processo tão natural da nossa experiência: “dificuldade desejável”.

Durante o Simpósio Internacional de Educação em Saúde do Hospital Albert Einstein desse ano, o professor Dr David Hirish explicou que, ao estudarmos, precisamos que o nível de exigência possa crescer de forma semelhante ao avanço do nosso conhecimento.

Leia mais: Residência Médica: por que estudar resolvendo questões é tão essencial?

Como o nome sugere, para otimizarmos nosso estudo, o nível de exigência necessita trazer uma dificuldade, ou seja, um desafio, de forma desejável, ou seja, alcançável. Nem tão fácil para não criar o tédio e a falsa sensação de domínio absoluto do assunto, nem tão difícil para não gerar ansiedade.

Então para você entrar nesse estado de empolgação constante, denominado flow, você precisa que o nível de cobrança de um determinado assunto seja equivalente ou levemente superior ao seu nível de conhecimento nesse mesmo assunto (Csikszentmihalyi, 2014) . Exemplo, se você dominar de forma intermediária um assunto, o nível de cobrança nele deve ser em um nível médio.

Fonte: Sebastian 2017

Sendo o efeito teste, artigo escrito na semana anterior, uma forma bem conhecida de proporcionar dificuldade desejável (Bjork; Soderstrom; Little 2015).

E agora?

Mas agora complicou. Como eu vou conseguir organizar o que eu deveria estudar baseado nas minhas dificuldades? Não vou perder muito tempo para identificar de forma verdadeira meu nível de conhecimento em cada conteúdo e, ainda mais, como conseguir questões de nível equivalente ao meu? Existe alguma técnica eficaz para me ajudar com isso ou seria melhor ir no famoso “eu acho”? “Eu acho que sou bom nisso porque fiz 1 mês de internato nesse assunto”, “eu acho que sou ruim nisso, porque não passei na prova da liga” , “eu acho que… “.

Se formos pensar, a maioria das nossas auto-impressões são pouco confiáveis, ou somos muito duros ou muito gentis com nós mesmos. Para esse tipo de definição o ideal é utilizar técnicas de avaliação baseada em questões, como o TRI utilizado no ENEM, que não simplesmente lhe diz quantas questões você acertou ou se você sabe ou não sabe alguma matéria, mas lhe diz qual seu nível em cada assunto em relação aos demais usuários.

O ideal é utilizar plataformas capazes de identificar seu nível de conhecimento em cada assunto de forma dinâmica e constante, de modo a possibilitar uma progressão automatizada da dificuldade das questões a partir do seu desempenho, deixando o estudo sempre mais estimulante.

Quando você estiver em um nível básico em algum dos conteúdos, a complexidade abordada será de nível básico, mas vai lhe possibilitar crescer com o aumento progressivo das dificuldade das questões, sempre com um desafio administrável.

Dessa forma você se sente útil, seu tempo está sendo bem utilizado, você está efetivamente aprendendo e evoluindo, as questões estão cada vez exigindo mais. Com o tempo a dificuldade aumenta, você começa a necessitar analisar e relacionar conceitos de forma cada vez mais complexa, chegando a casos clínicos e a prática clínica. Quando passamos por essa trilha de conhecimento, adquirimos confiança de que aprendemos, que dominamos plenamente aquele assunto e não simplesmente acertamos algumas questões ao fim da apostila.

Isso parece ser muito difícil de ser feito de forma individual. Vendo essa dificuldade e para ajudar nossos colegas, nossa startup criou uma plataforma de estudo gratuita que permite utilizar o seu nível de conhecimento baseado nos outros alunos para criar uma progressão do conteúdo baseado no que você está estudando, de forma que você não fique entediado a estudar um assunto mais fácil para você ou desestimulado em um conteúdo que parecesse impossível e que você acha que não tem capacidade de aprender.

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Referências:

  • Bjork EL, Soderstrom NC, Little JL. Can multiple-choice testing induce desirable difficulties? Evidence from the laboratory and the classroom. The American journal of psychology. 2015 Feb 23;128(2):229-39.
  • Csikszentmihalyi M, Larson R. Flow and the foundations of positive psychology. Dordrecht: Springer; 2014.
  • SEBASTIAN, Justin. In Search Of Flow. 2017. Disponível em: <https://medium.com/@jayseb11/in-search-of-flow-bde419052cef>. Acesso em: 09 out. 2018.

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