São Paulo é sede do Primeiro Simpósio Latino-Americano de Delirium

São Paulo sediou no dia 13 de março o Primeiro Simpósio Latino-Americano de Delirium em ocasião do Dia Mundial de Conscientização do Delirium. Saiba mais:

Tempo de leitura: [rt_reading_time] minutos.

São Paulo sediou no dia 13 de março o Primeiro Simpósio Latino-Americano de Delirium em ocasião do Dia Mundial de Conscientização do Delirium. O evento, organizado pelo Serviço de Geriatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP) e pelo Latin American Delirium Special Interest Group, capítulo da American Delirium Society na América Latina, contou com a participação de diversos pesquisadores do tema no Brasil e na América Latina, de diferentes especialidades clínicas.

Participaram do evento como moderadores os pesquisadores brasileiros: Enf Rennan Martins (enfermeiro intensivista), Dr. Orestes Forlenza (psiquiatra), Dra Viviane Veiga (intensivista), Dra Gisele Sampaio (neurologista), Dr Ciro Leite Mendes (intensivista, presidente da Associação de Medicina Intensiva Brasileira – AMIB), Dra Denise Kusahara (enfermeira pediatra intensivista), Dr Thiago Avelino-Silva (geriatra) e Dr Arnaldo Prata Barbosa (pediatra intensivista).

Iniciando as palestras, o geriatra chileno Dr Felipe Salech abordou o histórico, a definição e a epidemiologia do delirium na América Latina. Ele mostrou como o diagnóstico de delirium sempre foi bastante controverso desde os tempos de Hipócrates e esclareceu que, atualmente, o delirium é definido como uma desordem aguda e flutuante da atenção e da cognição, mas que apesar de extremamente frequente, ainda é pouco diagnosticado e gera custos hospitalares exorbitantes.

Em relação à epidemiologia, o pesquisador relatou que são poucos os estudos latino-americanos sobre esta temática. No entanto, destacou um estudo uruguaio de 2017 realizado em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) em Montevidéu, onde foi encontrada uma prevalência de 80% de delirium em pacientes adultos submetidos à ventilação mecânica (VM).

A segunda palestra, ministrada pela intensivista brasileira Dra Viviane Veiga, teve como tema os aspectos legais do delirium. O diagnóstico dedelirium deve estar sempre documentado em prontuário e os termos de consentimento informado para o tratamento devidamente preenchidos para que o paciente com este diagnóstico possa ter seus fatores de risco abordados pela equipe, pois em delirium o paciente não tem discernimento mental para ter qualquer tipo de decisão no momento em que o apresenta. Além disso, o uso de contenção física deve ser bastante restrito, respeitando-se a dignidade do paciente.

A terceira palestra foi dada pelo intensivista chileno Dr Eduardo Tobar. O Dr Tobar descreveu as manifestações clínicas do delirium e seus subtipos motores e citou trabalhos realizados em diferentes populações concluindo que as formas hipoativa e mista são as mais frequentemente encontradas, sendo, muitas vezes, confundidas com depressão.
A quarta palestra, cuja apresentadora foi a psiquiatra colombiana Dra Carmenza Ramírez, focou nos principais diagnósticos diferenciais do delirium. Dentre eles, estão a demência e a depressão. No entanto, deve-se ter cuidados porque ambos diagnósticos podem se sobrepor.

A fisiopatologia foi abordada pelo intensivista brasileiro Dr Heraldo Possolo. Dr. Possolo  descreveu  que existem inúmeras hipóteses para a ocorrência do delirium. No entanto, essas hipóteses são complexas e ainda não foram elucidadas, o que dificulta as recomendações para a abordagem farmacológica do delirium. Seguindo esta sequência, o intensivista brasileiro Dr Felipe Dal Pizzol relatou a importância dos neurotransmissores na fisiopatologia do delirium e mostrou dados de um estudo recente conduzido por ele que demonstrou que a neurogranina parece ser um bom biomarcador precoce de delirium em pacientes graves em UTI. No entanto, dados sobre biomarcadores para delirium ainda são inconsistentes.

O psiquiatra colombiano Dr José Gabriel Franco divulgou os primeiros resultados da ferramenta Delirium Diagnostic Tool-Provisional (DDT-Pro) em espanhol. Já a intensivista argentina Dra Rosa Reina apresentou sua experiência clínica com as ferramentas CAM e CAM-ICU. Ambas permitem o diagnóstico de delirium por profissionais da equipe multidisciplinar de saúde sem formação em psiquiatria, facilitando o diagnóstico precoce.

O terceiro módulo do simpósio incluiu as seguintes aulas: abordagem não farmacológica (Dra María Orellano, intensivista uruguaia), mobilização precoce (Beatriz Fagundes, fisioterapeuta brasileira) e o ABCDEF bundle (Dra Rosa Reina). As palestrantes frisaram a importância da humanização no ambiente hospitalar e o quanto a mobilização precoce vem demonstrando excelentes resultados na prevenção e no tratamento do delirium. Além disso, o ABCDEF bundle vem ganhando bastante espaço, principalmente após a introdução do componente F, relacionado à inclusão da família nos cuidados do paciente, para que ele seja libertado o mais rápido possível do ambiente de UTI. Por fim, o manejo farmacológico foi abordado pelo Dr Daniel Apolinario, geriatra brasileiro).

As conclusões deixadas pelo Dr Daniel incluíram a importância de minimizar os fatores de risco para odelirium antes de considerar a terapia antipsicótica; que ainda não há papel para terapia antipsicótica em baixas doses para prevenir o delirium em pacientes de UTI de alto risco; que há evidências mínimas para apoiar a administração rotineira de terapia antipsicótica para o delirium, a menos que os sintomas sejam graves; que os antipsicóticos devem ser administrados na dose mais baixa e na menor duração possível; e que pesquisas adicionais são necessárias para determinar os papéis específicos da terapia antipsicótica para o delirium.

Ademais, o Dr Daniel mostrou que apenas a dexmedetomidina tem sido recomendada para o manejo farmacológico do delirium segundo o último guideline de 2018 de Devlin et al. O Dr Daniel destacou que ainda há pouca evidência para o uso de melatonina na prevenção e no tratamento do delirium.

O Dr Thiago Avelino-Silva, geriatra brasileiro, falou sobre delirium em Geriatria e em Cuidados Paliativos. De acordo com o Dr Thiago, o deliriumsuperposto à demência e o delirium isoladamente são independentemente associados a um pior prognóstico em idosos hospitalizados. Portanto, os profissionais de saúde devem reconhecer a importância do delirium como um preditor de mortalidade hospitalar nesta população, independentemente da coexistência com demência.

Leia maisComo avaliar instrumentos para medição da gravidade do delirium?

A intensivista uruguaia Dra Patricia Mesa apresentou o tema “delirium em UTI” e mostrou os resultados de seus estudos na UTI onde atua em Montevidéu, Uruguai. Além de ter encontrado uma prevalência de 80% de delirium em pacientes em VM, como descrito na primeira palestra do dia, ela enfatizou a necessidade de uma avaliação objetiva para delirium com o uso de uma ferramenta confiável e válida.

Como palestrante do tema “delirium em Pediatria”, abordei a necessidade de pesquisas adicionais sobre o delirium pediátrico no Brasil e em toda a América Latina e enfatizei que a triagem de rotina do delirium é necessária em todas as crianças graves. Destaquei o estudo de Traube et al. (2017) que englobou diversas Unidades de Terapia Intensiva Pediátrica (UTIP) em nove países: neste estudo, a prevalência de delirium foi de 25%.

Além disso, citei os fatores de risco mais comuns para o delirium em crianças relatados pela literatura incluindo: idade abaixo de 2 anos, a gravidade da doença (especificamente o uso de VM e vasopressores), fatores iatrogênicos e o maior tempo de permanência na UTIP. Por fim, encorajei o público para uma mudança no perfil de sedação em pediatria, deixando as crianças sendo mais alertas e participativas e menos profundamente sedadas.

Finalizando as palestras do dia, a geriatra brasileira Dra Flávia Garcez abordou os desfechos clínicos e cognitivos do delirium. De acordo com a pesquisadora, o delirium é um preditor independente de mortalidade hospitalar, tanto quando presente na admissão como quando observado durante a internação hospitalar.

Além disso, a Dra Flávia relatou que os profissionais de saúde precisam estar cientes da possibilidade de ocorrência de declínios cognitivos em pacientes que apresentaram delirium durante a internação hospitalar, principalmente idosos, pois podem evoluir para quadros demenciais mesmo após a alta hospitalar. O próximo simpósio latino-americano de delirium será realizado em março de 2021, em Santiago, Chile.

É médico ou enfermeiro e também quer ser colunista do Portal da PEBMED? Inscreva-se aqui!

Referências:

Avaliar artigo

Dê sua nota para esse conteúdo

Selecione o motivo:
Errado
Incompleto
Desatualizado
Confuso
Outros

Sucesso!

Sua avaliação foi registrada com sucesso.

Avaliar artigo

Dê sua nota para esse conteúdo.

Você avaliou esse artigo

Sua avaliação foi registrada com sucesso.

Baixe o Whitebook Tenha o melhor suporte
na sua tomada de decisão.

Especialidades

Tags