Semaglutida pode melhorar o grau de fibrose hepática na cirrose hepática por NASH?

A doença hepática gordurosa não alcoólica (NAFLD) apresenta incidência crescente, relacionada ao aumento dos casos de síndrome metabólica, diabetes tipo 2 e envelhecimento populacional. Sabe-se que pacientes com cirrose relacionada à esteatohepatite não alcoólica (NASH) cursam com alta morbimortalidade por complicações da hepatopatia assim como pelo maior risco cardiovascular.  Apesar da relevância do tema, o …

A doença hepática gordurosa não alcoólica (NAFLD) apresenta incidência crescente, relacionada ao aumento dos casos de síndrome metabólica, diabetes tipo 2 e envelhecimento populacional. Sabe-se que pacientes com cirrose relacionada à esteatohepatite não alcoólica (NASH) cursam com alta morbimortalidade por complicações da hepatopatia assim como pelo maior risco cardiovascular. 

Apesar da relevância do tema, o tratamento farmacológico da NASH ainda é limitado. Atualmente, o tratamento ofertado aos pacientes com cirrose compensada por NASH visa compensar as comorbidades, como controle do peso, do colesterol, da pressão e da glicose. Em relação ao manejo das complicações relacionadas ao fígado, o tratamento é focado na prevenção de complicações da cirrose e do carcinoma hepatocelular.  

Os agonistas do receptor do peptídeo 1 semelhante ao glucagon (GLP-1) melhoram o controle glicêmico e auxiliam na perda ponderal em indivíduos com sobrepeso ou obesidade. Um estudo prévio demonstrou que a semaglutida melhorou os parâmetros metabólicos e a resolução da NASH em pacientes sem cirrose.  Recentemente, foi publicado um estudo na JAMA avaliando a eficácia dessa medicação em pacientes com cirrose compensada por NASH. 

médico consultando paciente com doença hepática gordurosa não alcoólica

Métodos 

Trata-se de estudo fase 2, duplo-cego, controlado por placebo, multicêntrico.  

Critérios de inclusão: Adultos com cirrose por NASH confirmada por biópsia e IMC ≥a 27 kg/m². 

Intervenção: Os pacientes foram alocados para receber 2,4 mg de semaglutida subcutânea uma vez por semana ou placebo, numa proporção 2:1.  

Desfecho primário: Melhora na fibrose hepática de pelo menos um estágio sem piora da esteatohepatite após 48 semanas, avaliada por biópsia.  

Resultados 

No período entre junho de 2019 a abril de 2021, foram selecionados 71 pacientes: 47 no grupo semaglutida e 24 no grupo placebo. Sessenta e quatro pessoas (90%) completaram o tratamento.  

A maioria dos pacientes eram mulheres (69%), brancos (87%), com idade média de 59,5 anos, IMC médio de 34,9 kg/m². Do total, 75% dos pacientes tinham diabetes tipo 2. 

Não houve diferença significativa na melhora da fibrose hepática após 48 semanas entre os grupos OR= 0,28 [IC 95% 0,06–1,24]; p=0,087. Também não houve diferença significativa entre os tratamentos para a proporção de pacientes com resolução de NASH OR 1,97 [IC 95% 0,56–7,91]; p=0,29).  

Ao final do tratamento, foi realizada elastografia hepática por ressonância. Todavia, não foi observada mudança estatisticamente significativa na rigidez hepática entre os grupos. Já a medida da fração de esteatose através de ressonância magnética melhorou significativamente no grupo recebendo semaglutida (OR 0,67 [95% CI 0,51–0,88]; p=0,0042).  

Os principais eventos adversos da semaglutida foram gastrointestinais, incluindo náuseas, diarreia e vômitos, principalmente no início do tratamento. Em pacientes diabéticos, ocorreram episódios de hipoglicemia em 34% do grupo semaglutida e 28% no grupo placebo.  

A semaglutida não foi associada à descompensação hepática e não houve mudança significativa no MELD score dos pacientes recebendo essa medicação. 

Mensagens práticas 

O estudo não demonstrou melhora de fibrose ou resolução de NASH com o uso de semaglutida 2,4 mg/semana em pacientes com cirrose hepática por NAFLD.  Todavia houve melhora do perfil metabólico, incluindo perda ponderal e controle glicêmico,além de melhora nos marcadores não invasivos de esteatose.  

O paciente com NAFLD deve ser abordado de forma multissistêmica, visando reduzir a morbimortalidade cardiovascular. Diabetes e obesidade além de aumentarem o risco cardiovascular também aumentam o risco de descompensação hepática.  Dessa forma, o tratamento com semaglutida pode auxiliar nesse manejo global. 

Esse estudo avaliou que o perfil de segurança da semaglutida nos pacientes com cirrose hepática foi semelhante ao da população geral, sem piora de função renal ou hepática nesses pacientes. 

Alguns pontos precisam ser melhorados para estudos posteriores, como ampliação do “n” e aumento da duração do tratamento.   

O grande ganho do estudo foi avaliar que a semaglutida na dosagem proposta foi bem tolerada em pacientes com cirrose hepática compensada e apesar de não demonstrar melhora da fibrose, demonstrou melhora do perfil metabólico nesses pacientes.

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Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo
  • Newsome PN, Buchholtz K, Cusi K et al. A placebo-controlled trial of subcutaneous semaglutide in nonalcoholic steatohepatitis. N Engl J Med. 2021; 384: 1113-1124  Loomba R, Abdelmalek MF, Armstrong MJ, Jara M, Kjær MS, Krarup N, Lawitz E, Ratziu V, Sanyal AJ, Schattenberg JM, Newsome PN; NN9931-4492 investigators. Semaglutide 2·4 mg once weekly in patients with non-alcoholic steatohepatitis-related cirrhosis: a randomised, placebo-controlled phase 2 trial. Lancet Gastroenterol Hepatol. 2023 Mar 16:S2468-1253(23)00068-7. doi: 10.1016/S2468-1253(23)00068-7.