Sífilis: veja o que muda no rastreio de mulheres grávidas

A infecção por sífilis, se não tratada, em mulheres grávidas pode ser transmitida ao feto a qualquer momento durante a gravidez ou no parto.

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A US Preventive Services Task Force (USPSTF) dos EUA, publicou em 04/09/2018 “Screening for Syphilis Infection in Pregnant Women US Preventive Services Task Force Reaffirmation Recommendation Statement”, cujo objetivo é atualizar a recomendação de 2009 para rastreamento de infecção por sífilis em mulheres grávidas.

A infecção por sífilis, se não tratada, em mulheres grávidas pode ser transmitida ao feto (sífilis congênita) a qualquer momento durante a gravidez ou no parto. A sífilis congênita está associada a morte fetal, morte neonatal e morbidade significativa em bebês (por exemplo, deformidades ósseas e comprometimento neurológico). Após um declínio constante de 2008 a 2012, os casos de sífilis congênita aumentaram acentuadamente de 2012 para 2106, de 8,4 para 15,7 casos por 100.000 nascidos vivos (um aumento de 87%). Ao mesmo tempo, as taxas nacionais norte-americanas de sífilis aumentaram entre as mulheres em idade reprodutiva. Tendência semelhante também é observado no Brasil.

A assistência pré-natal tardia ou limitada tem sido associada à sífilis congênita. Embora quase 70% das crianças com sífilis congênita sejam nascidas de mães que receberam cuidados pré-natais, a detecção e o tratamento da sífilis materna geralmente ocorrem tarde demais para trata-lo e preveni-lo. Dados recentes sugerem que, embora as taxas de rastreamento para infecção por sífilis sejam geralmente altas, a proporção de mulheres rastreadas no início da gravidez permanece baixa (por exemplo, 20% das mulheres são examinadas apenas no momento do parto).

Diante disso, segue o resumo das recomendações 2018 pela USPSTF:

Todas as mulheres grávidas devem fazer o teste de sífilis precocemente. Se não tiver recebido atendimento pré-natal, ela deve ser testada no momento em que se apresentar para o parto. Na maioria dos casos de sífilis congênita, as mulheres grávidas receberam cuidados pré-natais, mas não foram rastreadas e tratadas para sífilis cedo o suficiente para evitar a transmissão para o feto.

A USPSTF não encontrou novos estudos que examinaram a eficácia dos testes de triagem repetidos para a sífilis durante a gravidez. Os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) e diretrizes conjuntas da Academia Americana de Pediatria (AAP) e do Colégio Americano de Obstetras e Ginecologistas (ACOG) endossam triagem repetida. Especificamente, esses grupos recomendam que as mulheres com alto risco de sífilis sejam reexaminadas no início do terceiro trimestre (com aproximadamente 28 semanas de gestação) e novamente no parto. As mulheres com alto risco de infecção por sífilis são aquelas que vivem em comunidades ou áreas geográficas com maior prevalência de sífilis, pessoas vivendo com HIV, pessoas que vivem em penitenciárias ou exercem trabalho sexual comercial. AAP e ACOG também recomendam repetir a triagem após a exposição a um parceiro infectado. Os clínicos devem estar cientes da prevalência da infecção por sífilis nas comunidades em que trabalham.

Leia mais: Sífilis congênita no RN: um agravo ainda muito prevalente nas maternidades cariocas

A infecção da sífilis é causada pela bactéria Treponema pallidum. Os atuais testes de triagem para a sífilis dependem da detecção de anticorpos contra a infecção, em vez da detecção direta da bactéria. A triagem para infecção por sífilis é um processo de duas etapas. Tradicionalmente, a triagem envolvia um teste inicial de anticorpos “não treponêmicos” (isto é, teste de laboratório de Pesquisa de Doenças Venéreas VDRL) para detectar biomarcadores liberados de danos causados ​​por sífilis, seguido de um teste confirmatório de detecção de anticorpos treponêmicos (isto é, absorção de anticorpos treponêmicos fluorescentes).

Como os testes não treponêmicos são complexos, um algoritmo de rastreamento de sequência reversa foi desenvolvido, no qual um teste treponêmico é realizado primeiro, seguido por um teste não treponêmico. Se os resultados do teste do algoritmo de seqüência reversa forem discordantes, um segundo teste treponêmico (preferencialmente usando um anticorpo treponêmico diferente) é realizado. A USPSTF não encontrou estudos comparando a taxa de falso-positivo do algoritmo de rastreamento tradicional com o do algoritmo de rastreamento de seqüência reversa entre mulheres grávidas. O CDC forneceu orientações mais detalhadas sobre testes e tratamento de doenças sexualmente transmissíveis, incluindo a sífilis.

Em 2015, o CDC recomendou a penicilina benzatina para o tratamento da sífilis em mulheres grávidas. Evidências sobre a eficácia ou segurança de medicamentos antibióticos alternativos para gestantes e fetos são muito limitadas; portanto, mulheres que relatam uma alergia à penicilina devem ser avaliadas e, se realmente portadoras de alergia, devem ser dessensibilizadas e tratadas com penicilina. Como o CDC atualiza suas recomendações regularmente, os médicos são incentivados a consultar o site da entidade para obter as informações mais atualizadas.

As tendências nas taxas de incidência de sífilis congênita estão intimamente relacionadas com as tendências nas taxas de infecção primária e secundária da sífilis entre todas as mulheres. O rastreamento da sífilis em não gestantes também é uma importante abordagem de saúde pública para prevenir a transmissão sexual da sífilis e a subsequente transmissão vertical da sífilis congênita. A USPSTF recomenda o rastreio da sífilis em adolescentes não grávidas e adultos com risco aumentado de infecção.

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