Síndrome pré-eclâmpsia-like induzida por Covid-19

Em meio a pandemia de Covid-19, observou-se um aumento no número de pré-eclâmpsia entre as gestantes infectadas em relação à população geral.

Em meio a pandemia de Covid-19, foi observado um aumento no número de pré-eclâmpsia (PE) entre as gestantes infectadas pelo novo vírus em relação à população geral. Como se sabe até o momento, a Covid-19 é principalmente uma infecção respiratória, tendo importantes efeitos sistêmicos, incluindo hipertensão, doença renal, trombocitopenia e lesão hepática. O vírus SARS-CoV-2 invade o hospedeiro através do receptor de entrada na célula da enzima conversora da angiotensina 2 levando disfunção do sistema renina angiotensina aldosterona e, então, vasoconstricção.  Em contraste, a PE é, em suma, um resultado do dano endotelial originado pelo estresse oxidativo da placenta e estado antiangiogênico, que leva ao aparecimento de hipertensão e proteinúria, enzimas hepáticas elevadas, insuficiência renal, trombocitopenia, entre outros.  Logo, os achados clínicos de Covid-19 e PE podem ser muito semelhantes sendo desafiador diferenciá-las.

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Mulher grávida durante a pandemia se preocupa com síndrome pré-eclâmpsia-like induzida por Covid-19

Estudo recente

No dia 01 de junho de 2020, foi publicado um estudo observacional prospectivo pelo Royal College of Obstetricians and Gynaecologists avaliando 42 gestantes. As pacientes foram classificadas em dois grupos: Covid‐19 grave e não grave, de acordo com a ocorrência de pneumonia grave, sendo o diagnóstico de infecção dado por confirmação em PCR de swab nasais e faríngeo.

No estudo, foram avaliados os seguintes dados: contagem de plaquetas, dímero D, lactato desidrogenase, aspartato aminotransferase (TGO), alanina amninotransferase (TGP), proteína urinária para relação da creatinina, pressão arterial sistólica, diastólica e média, creatinina e idade gestacional (IG) em semanas.

Este estudo mostrou que das 42 mulheres avaliadas, oito desenvolveram pneumonia grave, e cinco dessas pacientes graves desenvolveram características de PE. Com isso foi observado que só apareceram essas semelhanças com pré-eclâmpsia nos casos de Covid‐19 complicados por pneumonia grave. No entanto, o estado angiogênico anormal, aumento de LDH e subperfusão placentária só puderam ser confirmados em um deles, o que sugere que dos 5 casos, apenas um era provavelmente uma PE real. Os autores sugerem que sinais e sintomas compatíveis com PE/HELLP presentes em quatro desses cinco casos, podem ser derivados da polifarmácia complexa administrada ou da disfunção renal e cardiovascular para infecção grave do SARS‐CoV‐2.

Até o momento, este parece ser o único estudo que relaciona Covid-19 simulando pré-eclâmpsia, e nele há várias limitações: um n escasso, apenas uma das quatro mulheres que desenvolveram uma síndrome semelhante à PE permaneceu grávida após uma pneumonia grave e, apesar da síndrome semelhante à PE se recuperar espontaneamente, não podemos afirmar que os outros três casos não melhoraram devido ao parto. E por último, embora UtAPI e razão sFlt‐1/PlGF tenham um alto valor preditivo negativo para PE, ainda não são critérios diagnósticos, sendo assim, não há como afirmar categoricamente que o caso com características de PE e UtAPI e sFlt‐1/PlGF elevados era uma PE real e não uma síndrome semelhante à PE.

Pré-eclâmpsia

Sabemos de longa data que vários distúrbios podem simular achados de PE como doença renal crônica, esteatose hepática aguda da gravidez, púrpura trombocitopênica trombótica, síndrome urêmica hemolítica, exacerbação aguda de lúpus eritematoso sistêmico, hipotireoidismo grave e sepse, sendo muita das vezes sendo potencialmente fatais para a mãe e o feto. A Covid-19 entra como mais uma patologia para essa lista. Portanto, o diagnóstico preciso é essencial, pois o manejo e o prognóstico dessas patologias se diferem amplamente.

Neste cenário de incertezas, os fatores angiogênicos apoiam o diagnóstico diferencial entre PE e essas outras patologias, já que são fatores relacionados à placenta altamente específicos para a insuficiência placentária, e o desequilíbrio sFlt‐1/PlGF é detectável na circulação materna pelo menos 5 semanas antes do início da EP clínica. Assim, os pacientes com Covid‐19 com fase inicial normal de implantação placentária devem ter valores normais de sFlt‐1/PlGF e UtAPI, apesar de proteinúria, trombocitopenia, enzimas hepáticas elevadas ou hipertensão.

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Portanto, os profissionais de saúde devem estar cientes da existência da síndrome semelhante à PE induzida por Covid-19 e monitorar as gestações com suspeita de PE de forma cautelosa. Ao contrário da PE grave, a síndrome pode não ser uma indicação para antecipação de parto, pois parece não haver complicação placentária, podendo resolver-se espontaneamente após a recuperação da pneumonia grave.

Referências bibliográficas:

  • Mendoza, M, Garcia‐Ruiz, I, Maiz, N, Rodo, C, Garcia‐Manau, P, Serrano, B, Lopez‐Martinez, RM, Balcells, J, Fernandez‐Hidalgo, N, Carreras, E, Suy, A. Pre‐eclampsia‐like syndrome induced by severe COVID‐19: a prospective observational study. BJOG 2020; 127: 1374–1380. doi: 10.1111/1471-0528.16339.

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