Todo paciente que se apresente à admissão hospitalar com alteração do sensório ou sintomas de qualquer natureza de forma súbita e sem história clínica definida deve ser investigado aventando-se a possibilidade de intoxicação exógena.
Neste episódio, Juliana Sartorelo, toxicologista e conteudista do Whitebook, nos guia através da importância crucial de identificar a síndrome tóxica em casos de suspeita de intoxicação. Descubra como essa identificação pode influenciar diretamente no tratamento do paciente e na sua classificação e ainda os insights sobre diferentes tipos de intoxicação e os tratamentos específicos que devem ser seguidos em cada caso.
Leia mais: Fragilidade no idoso: panorama clínico [podcast]
Manifestações Clínicas
Anamnese Toxicológica Específica
Durante a anamnese, as informações mais relevantes na suspeita de intoxicação são:
- Qual(is) os supostos intoxicantes: Se a informação não é clara, perguntar sobre todas as medicações presentes no ambiente, orientar familiares a investigar os pertences do paciente, lixeiras e gavetas; As principais substâncias associadas a óbito são os antidepressivos tricíclicos, sedativo/hipnóticos, pesticidas, anticonvulsivantes, Paracetamol, medicações cardiovasculares e drogas de abuso;
- Tempo de ingestão: Se impreciso, perguntar quando foi a última vez que o paciente foi visto bem; A necessidade/possibilidade de descontaminação gástrica é indicada para medicações potencialmente tóxicas, com até 1 hora de ingestão, se não houver contraindicações;
- Necessidade de uso de antídotos: Poucas substâncias demandam uso de antídoto específico durante a abordagem inicial, entre elas os anticolinesterásicos, opioides, antidepressivos tricíclicos, betabloqueadores e Paracetamol;
- Quantidade ingerida: Se há cartelas ou frascos vazios, considerar sempre o pior cenário no cálculo das doses;
- Intercorrências: Identificar possibilidade de vômitos e broncoaspiração no domicílio, convulsões, traumas;
- Contexto: Contexto acidental em crianças é o mais frequente, já em adultos, a tentativa de suicídio é mais comum e associado a maior gravidade;
- Comorbidades: Identificar possíveis patologias prévias que possam interferir no prognóstico.
Exame Físico
A monitorização dos dados vitais é importante em qualquer paciente com alteração de sinais vitais.
Através da avaliação respiratória, cardiovascular e neurológica são identificadas as principais alterações ameaçadoras à vida:
- Via aérea/ventilação: Presença de corpo estranho, restos alimentares, edema/obstrução de via aérea alta, dessaturação, alterações de ausculta pulmonar e contagem da frequência respiratória;
- Circulação: Realizar ECG, avaliar perfusão, pulso, pressão arterial, frequência cardíaca, ausculta cardíaca, presença de arritmias, hipotensão e choque, sangramentos;
- Neurológico: Agitação, agressividade, convulsões, sonolência, torpor e coma, sinais meníngeos, distonias, tremores, TCE;
- Glicemia capilar: Hipoglicemia, hiperglicemia, variações glicêmicas.
Além da avaliação habitual, o exame físico em um paciente com suspeita de intoxicação tem peculiaridades que precisam ser levadas em consideração e ajudam a identificar as síndromes tóxicas:
- Pele e mucosas: Pele seca e quente, sinais de desidratação, hipertermia, hipotermia, piloereção, sudorese profusa, lesões de pele e de mucosa, rash, alterações de coloração, sialorreia, presença de restos de substâncias em mucosa nasal ou molares;
- Tônus: Hipotonia, hipertonia, fasciculações musculares, distonias, tremores, mioclonias;
- Pupilas: Avaliação de presença de miose, midríase ou anisocoria traz elementos que podem ajudar a identificar a toxissíndrome envolvida ou diagnósticos diferenciais;
- Odores: Alguns intoxicantes têm odores bastante característicos, abaixo alguns exemplos:
- Etanol (hálito etílico);
- Hidrocarbonetos solventes: loló, tíner, cola de sapateiro;
- Naftalina;
- Organofosforados (odor de alho);
- Produtos de limpeza.
Veja também: Morte súbita do lactente: o que devo saber?
Saiba mais conferindo o episódio completo do podcast do Whitebook. Ouça abaixo!