Síndromes respiratórias: aumento expressivo de internações pode indicar subnotificação de Covid-19

Identificou-se um aumento expressivo nas internações por SRAG neste ano. Para estudiosos, esses dados indicam uma subnotificação dos casos da Covid-19.

Um aumento expressivo nas internações por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) neste ano no país em comparação com a média dos últimos dez anos foi identificado pelos pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Para estudiosos da área de infectologia e epidemiologia, esses dados indicam uma subnotificação dos casos da Covid-19.

Aumento no caso de Síndromes Respiratórias pode indicar grande subnotificação em casos de Covid-19, segundo Fiocruz.

Monitoramento das síndromes respiratórias

Pela contagem do Sistema InfoGripe, da Fiocruz, até o dia 4 de abril de 2020, o Brasil teve 33,5 mil internações por SRAG, um número muito acima da média desde 2010, de 3,9 mil casos. Mesmo analisando o ano atípico de 2016, quando houve um surto de H1N1, foram registrados apenas 10,4 mil casos no mesmo período.

Segundo o coordenador do projeto, Marcelo Gomes, o número de casos está muito alto, completamente fora do padrão, por três motivos: os casos de hospitalizações pela Covid-19, maior rapidez de disseminação do vírus e o maior número de notificações de hospitais particulares.

“Por isso, a comparação deste ano com os anteriores não é perfeita. Mas, mesmo descontando os dados de hospitais particulares, a alta seria expressiva. Outro fator, cuja contribuição não é tão grande, é o fato de que nos últimos anos quem reportava era praticamente somente a rede pública. E, neste ano, a particular também passou a reportar. Mas a contribuição não é tão grande quanto os outros fatores”, explica Marcelo Gomes.

Por que a Covid-19?

São listados três motivos que apontam o novo coronavírus como o responsável pelo expressivo crescimento dos casos:

  • Aumento das internações fora da época;
  • Idosos como a faixa etária mais afetada;
  • Percentual mais elevado de testes negativos para outras gripes.

“Nada justifica o aumento do número de casos de idosos. Até houve a vacinação antecipada dessas pessoas neste ano. Pode ter certeza que é a Covid-19. Não tem outra explicação para isso”, frisou Antônio Bandeira, epidemiologista, infectologista e diretor da Sociedade Brasileira de Infectologia, em entrevista ao Portal G1.

De acordo com o Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde, a partir da 8ª semana deste ano foi inserida a variável de diagnóstico para o novo coronavírus, tornando o Sistema de Informação de Vigilância da Gripe capaz de captar os casos graves confirmados de Covid-19. Desde então, a principal causa de hospitalizações por SRAG vem sendo pelo acometimento da doença.

Do início do ano até agora, foram 772 casos de internação por SRAG em decorrência de todos os subtipos do vírus da gripe. Outro dado interessante é que somente de 17 de fevereiro em diante, o país registrou 1.769 hospitalizações confirmadas pelo novo coronavírus.

Idosos versus crianças

Ao analisar os números do estudo, os pesquisadores da Fiocruz constataram que havia uma mudança no perfil dos pacientes. As gripes comuns, registradas nos anos anteriores, afetam principalmente crianças, menores de dois anos. Já os novos casos são predominantemente de idosos e pessoas com comorbidades, principalmente diabetes e hipertensão.

Das internações por SRAG em 2020, 36% foram de idosos. Já os pacientes com menos de dois anos responderam por apenas 10% dos casos.

Outro dado importante a ser destacado foi o grande número de testes negativos para outras gripes, como a influenza A. Segundo os especialistas, isso indica que o motivo da SRAG é outra doença, uma nova enfermidade.

“Chama a nossa atenção a alta negativação dos testes laboratoriais de SRAG na vigilância, tanto historicamente, como em 2020. A negativação dos testes alcançou 91%, um nível antes nunca encontrado”, disse Marcelo Gomes.

Além disso, não há testes disponíveis de Covid-19 para todos os pacientes. E mesmo entre os que foram testados, muitos ainda aguardam o resultado.

O Ministério da Saúde afirmou nesta quinta-feira, dia 23 de abril, que 1.269 óbitos por SRAG aguardam investigação laboratorial.

As 1,2 mil mortes investigadas não estão computadas entre os dados já divulgados sobre os óbitos causados pelo novo coronavírus. De acordo com o mais recente balanço, há 3.313 mortes já confirmadas por Covid-19 no Brasil.

Leia também: Covid-19: estudo indica que metade das transmissões ocorre antes dos sintomas

Hospitalizações subiram 578% na Paraíba

Desde março, a Paraíba registrou mais de 100 internações por SRAG por semana. Casos de internação passaram de 79 em 2019 para 536 neste ano.

O estado registrou nos três primeiros meses de 2020 um número 578% maior de hospitalizações por SRAG que o mesmo período do ano passado. Entre janeiro e março deste ano, foram internados nos hospitais da Paraíba 536 pacientes com síndromes respiratórias. No ano passado, foram apenas 79 internações notificadas no primeiro trimestre, segundo números do Sistema de Informações de Vigilância da Gripe (Sivep-Gripe).

Os dados ainda indicam que o salto no número de hospitalizações na Paraíba por SRAG começou na semana epidemiológica 12, iniciada no dia 15 de março, com 122 internações. O padrão de mais de 100 internações foi seguido nas semanas consecutivas.

O período de aumento de internações por SRAG coincide com a chegada do novo coronavírus no estado, que registrou seu primeiro caso em 18 de março. No balanço geral, foram 536 internados por SRAG contra um total de 101 casos confirmados de coronavírus acumulados até o dia 11 de abril, quando se encerrou a semana epidemiológica 15.

O confronto dos dados é mais um indício de subnotificação ou, pelo menos, da demora entre a notificação de um caso suspeito e a confirmação para o novo coronavírus.

O resultado é uma grande subnotificação da doença e uma enorme dificuldade de rastrear as pessoas infectadas, o que impede ações mais eficientes para conter essa pandemia no país.

*Esse artigo foi revisado pela equipe médica da PEBMED 

Referências bibliográficas:

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