A pandemia de covid-19 redirecionou a atenção da comunidade científica para estratégias de prevenção de infecções agudas do trato respiratório. Ainda que a vacinação seja a principal medida preventiva, sua eficácia pode ser comprometida por fatores como custo, disponibilidade, hesitação da população e escape vacinal. Dessa forma, outras abordagens estão sendo estudas e uma delas é a suplementação de vitamina D.
Os metabólitos da vitamina D participam da resposta imune inata e regulam processos inflamatórios ao induzirem o peptídeo antimicrobiano catelicidina LL-37 e β defensina humana a se ligarem à proteína S do SARS-CoV-2 e inibirem a ligação do vírus à enzima conversora de angiotensina 2.
Estudos longitudinais que investigaram possíveis associações entre alto nível sérico de vitamina D e risco menor de infecção pelo SARS-Cov-2 por vezes mostraram resultados divergentes. Meta-análises que incluíram esses estudos longitudinais e alguns observacionais mostraram associações protetoras de uma forma geral. Ensaios clínicos randomizados de suplementação de vitamina D para prevenir infecções respiratórias como covid-19 e outras também tiveram resultados heterogêneos e meta-análises desses e outros ensaios clínicos mostraram, ainda que com significância estatística, efeito protetor pequeno.
O estudo
Buscando avaliar melhor o papel da vitamina D na prevenção de infecções agudas respiratórias, um estudo aberto de fase 3 foi realizado no Reino Unido entre dezembro de 2020 e junho de 2021, quando a incidência de covid-19 era alta e a cobertura vacinal ainda baixa. Foram selecionados participantes que não suplementavam vitamina D (25(OH)D) e eram maiores de 16 anos. Cada participante teve seu nível sérico basal de 25(OH)D avaliado e, então, os que tivessem menos que 75 nmol/L seriam randomizados para realizar suplementação por seis meses. A suplementação poderia ser de baixa (800 UI/dia) ou alta (3200 UI/dia) dosagem.
O desfecho primário foi a proporção de participantes com pelo menos um teste positivo ou diagnóstico clínico para qualquer infecção respiratória aguda. O desfecho secundário foi a proporção de participantes com teste positivo para covid-19. A regressão logística foi usada para calcular as razões de risco e os intervalos de confiança, que eram de 95%. A análise primária foi realizada por intenção de tratar, ou seja, todos os desfechos foram analisados.
Resultados
Foi avaliado nível sérico de 25(OH)D em 2.958 participantes e 2.674 tiveram concentrações inferiores à 75 nmol/L.1328 foram randomizados para suplementação de baixa e 1346 para suplementação de alta dosagem. Com relação ao desfecho primário, 4,6% dos participantes do grupo controle tiveram pelo menos uma infecção respiratória aguda, contra 5,7% no grupo de baixa dosagem (1,26; 0,96 – 1,66) e 5% no grupo de alta dosagem (1,09; 0,82-1,46). Com relação ao desfecho secundário, 2,6% do grupo controle tiveram covid-19, contra 3,6% (1,39; 0,98-1,97) do grupo de baixa dosagem e 3% (1,13; 0,78-1,63) do grupo de alta dosagem. Além disso, não houve diferença estatística entre os grupos com relação à severidade ou prolongamento dos sintomas nos casos de covid-19. Com relação aos efeitos adversos, quatro pacientes do grupo de alta dosagem apresentaram hipercalcemia que foi resolvida após suspensão da medicação.
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Mensagem prática
O estudo conclui, então, que a implementação de uma abordagem do tipo “teste e trate” foi efetiva em aumentar o nível sérico de vitamina D na população estudada. Contudo, isso não foi associado a um efeito protetor contra doenças respiratórias agudas e covid-19.