O ceratocone, também conhecido como córnea cônica, é uma doença ectásica que resulta em afinamento progressivo da córnea, levando a alterações estruturais e déficit visual. Um dos achados patognomônicos no ceratocone avançado é a fragmentação da membrana de Bowman.
A restauração parcial da anatomia corneana é feita através de um implante estromal de um enxerto de membrana de Bowman para aplanar a curvatura corneana. O procedimento se mostrou benéfico em reduzir a ectasia em ceratocones avançados com complicações intra e pós-operatórias mínimas. O transplante de camada de Bowman de doador no estroma médio também tem bons desfechos no manejo do haze subepitelial persistente após excímero laser.
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A camada de Bowman é uma camada acelular que forma uma interface entre o epitélio e o estroma. Tem espessura de mais ou menos 12 μm e fibrilas de colágeno tipos 1 e 3 predominantemente e proteoglicanas. A função da camada de Bowman não é clara e sugere se que pode ser supérflua já que olhos que perderam a camada de Bowman não costumam ter complicações adversas (ex: pós PRK).
No ceratocone avançado, as modalidades de tratamento cirúrgico são a ceratoplastia penetrante e o DALK. Nenhuma dessas medidas leva obrigatoriamente a uma melhora visual satisfatória. O DALK tem o benefício de manutenção do endotélio do receptor, mantendo a integridade imunológica e estrutural. De qualquer forma, pode também enfraquecer a estrutura corneana, podendo haver complicações intra e pós-operatórias.
Vantagens do transplante de camada de Bowman
O transplante é uma estratégia para reforçar a estrutura fina e frágil da córnea deixando a mais plana. A primeira vantagem é a de que ele seria uma arma contra a progressão, preservando e em alguns casos restaurando a tolerância as lentes de contato. Os candidatos ideais seriam pacientes com ceratocones avançados em progressão, com boa visão corrigida com lentes de contato, não elegíveis ao crosslinking e com piora da tolerância ao uso de lentes. Pacientes com cicatriz central não seriam bons candidatos ao procedimento.
Nos casos de haze corneano pós-excímero, a transparência corneana é reduzida por depósito anormal de matriz extracelular. Atualmente as opções para diminuir o risco de ocorrência de haze são o uso de mitomicina intraoperatória ou esteroides pós-operatórios. Podem ter efeitos colaterais e não serem efetivos em todos os casos. O transplante de membrana de Bowman nesses casos auxilia no manejo do haze. É feita uma dissecção do local do haze com posterior transplante da membrana de Bowman. Os resultados foram promissores num período de 6 meses, sem novo haze e melhora da acuidade visual.
Conclusões
Os estudos sobre transplante de membrana de Bowman ainda são limitados e com poucos casos na literatura. Uma grande vantagem é que é um procedimento com menos sutura. Além disso, como o enxerto é acelular, o risco de reação é significativamente reduzida. A quantidade de corticoide pós-operatória substancialmente menor reduz a ocorrência das complicações relacionadas.
O risco de complicações é muito mais baixa que nas cirurgias intraoculares. Caso seja necessário, o tecido transplantado ainda pode ser removido posteriormente. Em contrapartida de todas as vantagens, a técnica é relativamente complexa necessitando de expertise e com uma curva de aprendizado importante. No futuro, o uso do laser de fentossegundo pode tornar a técnica mais fácil.