Tratamento de padrões rítmicos e periódicos de EEG após parada cardíaca

Estudo buscou compreender a possibilidade de supressão dos padrões rítmicos de EEG por monitorização contínua do uso de anticonvulsivantes.

Apesar de representar apenas 2% do peso corporal, o cérebro recebe mais de 20% do débito cardíaco total para manter sua homeostase, já que a viabilidade do tecido depende, fortemente, do fornecimento consistente de substratos. Sendo assim, a cessação de fluxo sanguíneo cerebral (FSC) leva a uma interrupção imediata da atividade cerebral.1,2 Devido à falta de reservas intrínsecas de energia, os neurônios são particularmente vulneráveis ​​à isquemia e o dano celular começa imediatamente após a interrupção do fluxo sanguíneo cerebral. Mioclonia é a apresentação dominante. Porém, convulsões generalizadas ou localizadas ou tônico-clônicas também são comuns no mesmo paciente. O EEG é fundamental para confirmar que uma convulsão clínica está relacionada à atividade convulsiva cortical, pois convulsões simuladas são usuais na UTI e o uso de sedativos e relaxantes musculares elimina as manifestações clínicas das convulsões. A mioclonia é considerada um preditor menos robusto do que a reatividade pupilar.1,3

A razão para monitorar o EEG no coma pós-anóxico é detectar convulsões, que podem potencialmente causar lesão cerebral secundária.3 Em uma parcela dos pacientes em coma após parada cardíaca foram detectados padrões eletroencefalográficos rítmicos que podem culminar em convulsões, sendo elas eletrográficas ou clínicas. Essas ocorrências convencionais são infrequentes, mas as descargas periódicas generalizadas são comuns, sendo associadas a um mau resultado de estado neurológico. Assim, a ideia de realizar um tratamento com medicamentos anticonvulsivantes foi premente para o entendimento dessa situação em sobreviventes pós parada.1,2

Leia também: CBMI 2022: O uso do eletroencefalograma (EEG) na UTI

Tratamento de padrões rítmicos e periódicos de EEG após parada cardíaca

Métodos do estudo sobre tratamento de padrões rítmicos e periódicos de EEG

Um estudo europeu fez um ensaio clínico multicêntrico e randomizado para compreender a possibilidade de supressão desses padrões rítmicos de EEG, por monitorização contínua do uso de anticonvulsivantes. Sendo usado dois grupos, em que o de controle foi composto por 84 pessoas e o de teste, 88 — os quais foram submetidos a tratamento com anticonvulsivantes. O monitoramento contínuo de EEG deve ser iniciado dentro de 24 horas após a ressuscitação como parte do padrão de atendimento nas UTIs participantes e continuado por pelo menos três horas até a alta da UTI ou cessação da atividade rítmica e regular do EEG.2

Resultados

O resultado do teste foi obtido de acordo com a pontuação na escala de Categoria de Desempenho Cerebral (CPC) em três meses, dessa forma, dicotomizado em bom ou ruim. Nesse ínterim, como desfecho secundário, foi possível obter a mortalidade em três meses, tempo de permanência na UTI e duração da ventilação mecânica.2

No protocolo de cuidado após parada (o qual foi obedecido em todos os grupos), há certos elementos que já são direcionados à preservação do estado neurológico. Sendo mais frequentes a prevenção da hipertermia e a administração de sedação contínua. O uso de anticonvulsivante seria um adendo para uma melhor profilaxia dentro da unidade de terapia intensiva.1,2

O tratamento envolvendo paciente em coma pós parada não resultou em menos desfechos ruins em três meses. Foi usado medicamentos de sedoanalgesia como suporte para ventilação mecânica e mioclonia, sendo um possível obstáculo para a cessação da atividade rítmica e periódica do EEG.2

Considerações sobre o uso de EEG

Em uma gravação contínua de EEG, a persistência de um padrão maligno ao longo do tempo pode ser mais significativa do que um único valor, demonstrando a importância da análise contínua. Contudo, ainda há obstáculos que podem interferir nas conclusões. As limitações do estudo rodearam os aspectos de suporte à vida tais quais sedação e óbito dos pacientes em 24 horas, apresentando uma certa redução de dados para análise.2,3

Entretanto, aspectos como um projeto prospectivo e randomizado, uso contínuo de EEG foram importantes para a validação.

Saiba mais: A pupilometria se correlaciona com o eletroencefalograma (EEG) não reativo em pacientes neurocríticos

Conclusão e mensagem prática

A lesão cerebral é a principal causa de morte em pacientes em coma após ressuscitação de parada cardíaca. Um mau resultado neurológico — definido como morte por causa neurológica, estado vegetativo persistente ou deficiência neurológica grave. Cuidados pós-parada são imprescindíveis ao prognóstico. Portanto, pacientes em coma após parada cardíaca com atividade no EEG de descargas rítmicas e periodizadas, com o estabelecimento de um tratamento para convulsões por 48 horas não mostrou melhora nos resultados a nível neurológico no período de três meses.

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Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo
  • 1) Sandroni C, Cronberg T, Sekhon M. Brain injury after cardiac arrest: pathophysiology, treatment, and prognosis. Intensive care medicine. 2021;47(12):1393-414. DOI: 10.1007/s00134-021-06548-2
  • 2) Ruijter BJ, Keijzer HM, Tjepkema-Cloostermans MC, Blans MJ, Beishuizen A, Tromp SC, et al. Treating rhythmic and periodic EEG patterns in comatose survivors of cardiac arrest. New England Journal of Medicine. 2022;386(8):724-34. DOI: 10.1007/s00134-021-06548-2
  • 3) Sandroni C, D'Arrigo S, Nolan JP. Prognostication after cardiac arrest. Critical care (London, England). 2018;22(1):150. DOI: 10.1186/s13054-018-2060-7