Tratamento de viremia de citomegalovírus em pacientes críticos com covid-19 é capaz de alterar desfechos?

Citomegalovírus (CMV) é um vírus capaz de permanecer em latência após infecção aguda. Veja mais sobre os efeitos em pacientes com Covid-19.

Citomegalovírus (CMV) é um vírus que pertence à família dos herpes-vírus e, como tal, é capaz de permanecer em estado de latência no hospedeiro após infecção aguda. Em indivíduos imunocompetentes, normalmente não há doença sintomática, mas em imunossuprimidos ou nos criticamente doentes pode haver comprometimento sistêmico ou de órgão-alvo. 

Alguns estudos têm mostrado associação entre a presença de CMV e maior mortalidade em pacientes críticos, porém nenhuma relação causal foi estabelecida até o momento. Ao mesmo tempo, não há evidências de que o tratamento contra CMV traga benefício.

Leia também: As infecções fúngicas causadoras de alta morbimortalidade e maiores custos hospitalares

Pacientes com infecção grave por Covid-19 estão sujeitos, tanto pela doença quanto por seus tratamentos, a supressão e desregulação imune e, por esse motivo, poderiam apresentar um perfil diferente de pacientes graves por outras doenças. Um estudo norte-americano procurou investigar se o tratamento para CMV em pacientes com Covid-19 grave estaria associado a menor mortalidade. 

Especialistas alertam sobre o risco iminente do aparecimento de novos vírus

Materiais e métodos 

Trata-se de um estudo retrospectivo conduzido em um hospital universitário em pacientes adultos com diagnóstico confirmado de infecção por SARS-CoV-2 e viremia por CMV em qualquer nível admitidos em leitos de CTI entre março de 2020 e abril de 2021. Indivíduos transplantados, com viremia de CMV detectada antes do diagnóstico de Covid-19 ou que permaneceram internados após o período do estudo foram excluídos. 

O grupo de tratamento incluiu os pacientes que receberam ganciclovir e/ou valganciclovir por pelo menos 5 dias. Indivíduos não tratados foram incluídos no grupo controle. No período do estudo, não havia protocolo em relação a manejo de viremia por CMV no contexto de Covid-19 e CTI. Assim, testagem e tratamento foram realizados a critério do médico assistente. 

O desfecho primário foi mortalidade intra-hospitalar por todas as causas. Desfechos secundários incluíram duração de internação hospitalar e em CTI, necessidade de ECMO, duração de ventilação mecânica (VM) e preditores de mortalidade intra-hospitalar. 

Resultados 

Dos 107 pacientes admitidos em CTI com diagnóstico de Covid-19 e com viremia por CMV detectável que foram identificados, 80 foram incluídos no estudo, sendo 43 no grupo de tratamento e 37 no grupo controle. As características demográficas foram semelhantes entre os grupos, com mediana de idade de 66 anos. A maioria era homem (67,5%). 

Os participantes do grupo de tratamento apresentaram maior probabilidade de serem testados mais cedo quando comparados com o grupo controle. Entretanto, o tempo da admissão hospitalar até detecção de viremia foi semelhante entre os grupos. Não houve diferença entre os grupos em relação ao tempo entre admissão em CTI e nem entre início de VM e detecção de viremia. Os pacientes tratados tinham maior probabilidade de terem recebido corticoides e/ou tocilizumabe e de terem recebido doses mais altas de corticoides. Contudo, somente essa última variável apresentou significância estatística. 

Não houve diferença estatística entre os grupos em relação à mediana de carga viral de CMV, mas mais pessoas no grupo de tratamento tinham 1000 cópias/mL, assim como valores iniciais mais elevados de TGO, TGP e ferritina. Nenhum paciente no grupo tratado apresentou mielotoxicidade. Em relação às modalidades de tratamento de Covid-19, também não houve diferença estatística entre os grupos no uso de remdesivir, tocilizumabe ou corticoides. 

Na análise do desfecho primário, não houve diferença estatisticamente significativa entre os tratados e não tratados em relação à mortalidade intra-hospitalar, mortalidade no CTI e tempo entre viremia e óbito. Os resultados mantiveram-se após ajuste para incluir todos os pacientes que receberam pelo menos uma dose de ganciclovir. 

Para os desfechos secundários, não houve diferença no tempo de internação hospitalar, mas pacientes no grupo de tratamento apresentaram maior tempo de internação no CTI e maior probabilidade de terem necessitado de ECMO. Os grupos foram semelhantes em relação à necessidade de VM, tempo entre admissão no CTI e início de VM e tempo de VM. 

Mensagens práticas 

Em pacientes com diagnóstico de Covid-19 criticamente doentes e que apresentaram viremia por CMV, tratamento viral específico com ganciclovir não esteve associado à diminuição de mortalidade intra-hospitalar.

Avaliar artigo

Dê sua nota para esse conteúdo

Selecione o motivo:
Errado
Incompleto
Desatualizado
Confuso
Outros

Sucesso!

Sua avaliação foi registrada com sucesso.

Avaliar artigo

Dê sua nota para esse conteúdo.

Você avaliou esse artigo

Sua avaliação foi registrada com sucesso.

Baixe o Whitebook Tenha o melhor suporte
na sua tomada de decisão.
Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo
  • Schoninger S, Dubrovskaya Y, Marsh K, Altshuler D, Prasad P, Louie E, Weisenberg S, Hochman S, Fridman D, Trachuk P. Outcomes of Cytomegalovirus Viremia Treatment in Critically Ill Patients With COVID-19 Infection. Open Forum Infect Dis. 2022 Jun 10;9(7):ofac286. doi: 10.1093/ofid/ofac286. 

Especialidades