Tuberculose: Estudo busca opções de tratamento de menor duração

Novos fármacos vêm sendo estudados como parte de esquemas terapêuticos para o tratamento de menor duração da tuberculose. Saiba mais.

Uma das grandes dificuldades no tratamento adequado da tuberculose é o longo tempo em uso de medicação. O protocolo clássico com duração de seis meses é, muitas vezes, uma barreira contra a adesão completa, especialmente com a melhora importante dos sintomas que acontece antes desse tempo.

Muitas pesquisas sobre a doença vêm avaliando justamente a possibilidade de esquemas terapêuticos de menor duração sem perda de eficácia. Nesse sentido, novos fármacos vêm sendo estudados como parte de esquemas terapêuticos ou profiláticos simplificados. A rifapentina é um agente promissor, já com aprovação em vários países.

tratamento curto para tuberculose

Novos tratamentos para tuberculose

A rifapentina é uma rifamicina, mesma classe de antibióticos a qual pertence a rifampicina. As rifamicinas são antibióticos bactericidas que agem por interação com a RNA-polimerase bacteriana, comprometendo a síntese de material genético. Como agentes contra micobactérias, têm capacidade de esterilização de lesões, reduzindo a carga bacilar. Por possuir maior meia-vida, o uso de rifapentina permitiria maior tempo de exposição a uma rifamicina, sem necessidade de aumentar a frequência diária de tomada dos comprimidos, o que tornaria possível um tratamento mais curto.

Esquemas simplificados para quimioprofilaxia de tuberculose latente com rifapentina – em associação com isoniazida com doses semanais por três meses ou com doses diárias por um mês – já foram avaliados e são recomendados pela Organização Mundial de Saúde em seu guideline mais recente. Agora, um estudo publicado no NEJM avalia o uso de rifampetina, com ou sem moxifloxacino, para tratamento encurtado de tuberculose ativa.

Materiais e métodos

Trata-se de um estudo de fase 3, internacional e multicêntrico, randomizado e aberto que envolveu participantes com 12 anos de idade ou mais com diagnóstico recente de tuberculose pulmonar comprovadamente sensível a isoniazida, rifampicina e fluoroquinolonas. Para inclusão, era necessário exame de escarro com baciloscopia ou teste molecular positivo. Indivíduos com infecção pelo vírus HIV podiam ser incluídos se tivessem uma contagem de linfócitos T-CD4 de pelo menos 100 células/mm³.

Os participantes incluídos foram randomizados para um de três braços de tratamento possíveis: oito semanas de rifampicina, isoniazida, pirazinamida e etambutol seguidas de 18 semanas de isoniazida e rifampicina (grupo controle) vs. oito semanas de rifapentina, isoniazida, pirazinamida e etambutol seguidas de nove semanas de isoniazida e rifapentina (grupo com rifapentina) vs. 8 semanas de rifapentina, isoniazida, pirazinamida e moxifloxacino seguidas de nove semanas de isoniazida, rifapentina e moxifloxacino (grupo com rifapentina-moxifloxacino). Todos os esquemas eram de doses diárias.

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O desfecho primário do estudo foi sobrevivência livre de tuberculose um ano após a randomização. Para cada participante, o desfecho foi considerado como favorável se todos os seguintes estivessem presentes: vivo e sem tuberculose 12 meses após a randomização, escarro sem evidências de infecção por Mycobacterium tuberculosis ou incapaz de fornecer escarro e nenhum critério para desfecho desfavorável ou sem possibilidade de avaliação (2 amostras de escarro consecutivas positivas para infecção por M. tuberculosis a partir da semana 17, morte ou perda de seguimento durante o período de estudo ou tratamento adicional para tuberculose). Também foram realizadas avaliações de segurança de cada um dos regimes de tratamento.

O estudo foi desenhado para avaliação da não-inferioridade dos esquemas contendo rifapentina em comparação com o grupo controle de tratamento padrão.

Resultados

Participaram do estudo 34 centros, com 2.241 participantes completando o seguimento de 12 meses ou com morte conhecida nesse período (728 no grupo controle, 759 no grupo com rifapentina-moxifloxacino e 754 no grupo com rifapentina).

Para o desfecho primário de sobrevivência livre de doença em 12 meses, o grupo com rifapentina-moxifloxacino mostrou-se não-inferior em relação ao grupo controle, o que não aconteceu com o grupo com rifapentina.

Na análise de subgrupos que haviam sido pré-especificadas, não houve diferença de eficácia entre os grupos com rifapentina-moxifloxacino e o grupo controle. Para o grupo com rifapentina, as diferenças de eficácia foram menores em mulheres, participantes sem cavitação pulmonar, participantes com menores cargas bacilares na baciloscopia do escarro e em participantes com maior tempo para crescimento de M. tuberculosis em cultura na entrada do estudo.

O tempo para negativação estável do escarro (definida como dois exames consecutivos com cultura negativa) foi menor nos grupos de tratamento com rifapentina do que no grupo controle.

Não houve diferença na ocorrência de eventos adversos entre os grupos controle e com rifapentina-moxifloxacino (diferença ajustada de -0,6; IC 95% = -4,3 a 3,2). O grupo com rifapentina vivenciou menos eventos adversos do que o grupo controle (diferença ajustada de -5,1; IC 95% = -8,7 a -1,5). A mortalidade por todas as causas foi semelhante entre todos os grupos. Entretanto, avaliando-se somente aumento de transaminases como evento adverso, a frequência observada foi semelhante entre três grupos. Não houve diferença de descontinuação prematura entre os grupos controle e com rifapentina-moxifloxacino, mas a frequência foi menor no grupo com rifapentina em relação ao grupo controle.

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Mensagens práticas

  • Um regime de tratamento de quatro meses contendo rifapentina e moxifloxacino foi não-inferior ao tratamento padrão de seis meses, sem diferença na ocorrência de eventos adversos.
  • Apesar de mais bem tolerado, o regime de quatro meses contendo rifapentina, sem moxifloxacino, não alcançou os critérios de não-inferioridade quando comparado com o tratamento padrão.

Referências bibliográficas:

 

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