Embora comuns, infecções por Vírus Sincicial Respiratório (VSR) podem ser uma grande preocupação na prática clínica, especialmente entre os profissionais que trabalham com determinados grupos populacionais.
O espectro de doença causado pelo VSR pode variar de quadros respiratórios leves e autolimitados a acometimentos graves de trato respiratório inferior. Idosos e crianças pequenas são particularmente suscetíveis ao desenvolvimento de doença grave.
Para o ano de 2019, por exemplo, as estimativas foram de 5,2 milhões de casos de infecção por RSV em adultos com mais de 60 anos de idade em países de maior renda, levando a 470.000 hospitalizações e 33.000 mortes intra-hospitalares. Ao mesmo tempo, crianças com menos de 6 meses de idade apresentam risco desproporcionalmente mais elevado de doença do trato respiratório inferior por RSV, especialmente em países de menor renda.
O que temos agora?
Até recentemente, a estratégia mais amplamente disponível para prevenção de doença grave por VSR era a administração de anticorpo monoclonal de forma sazonal, cuja indicação, pelas diretrizes do Ministério da Saúde no âmbito do SUS, é restrita a crianças prematuras nascidas com idade gestacional até 28 semanas e seis dias e que tenham menos de 1 ano ou crianças de até 2 anos de idade com doença pulmonar crônica da prematuridade (displasia broncopulmonar) ou doença cardíaca congênita com repercussão hemodinâmica.
Contudo, a aprovação recente pela Anvisa de vacinas contra VSR traz a possibilidade de uma nova estratégia preventiva contra infecções desse vírus e suas complicações. Vejamos as principais informações sobre essas vacinas.
Quais as vacinas, como funcionam e quais as evidências?
As vacinas aprovadas para registro no Brasil são vacinas inativadas, baseadas na proteína F do VSR, uma glicoproteína de fusão localizada na superfície do vírus e que apresenta estrutura altamente conservada entre isolados de subgrupos A e B. São de administração intramuscular, em dose única.
A primeira a ser registrada tem o nome comercial de Arexvy®, produzida pela GSK, e está autorizada para administração na população a partir de 60 anos de idade. O estudo de fase 3 que motivou a aprovação teve como desfecho primário para avaliação de eficácia a prevenção de doença do trato respiratório inferior confirmada por RSV durante a primeira temporada de sazonalidade desse vírus no hemisfério norte em indivíduos com 60 anos ou mais, em condições clínicas estáveis. O estudo incluiu idosos considerados frágeis e pré-frágeis e contou com voluntários de 17 países.
Os resultados desse estudo, que incluiu 24.960 participantes, mostraram eficácia de 82,58% com a administração da vacina em comparação com o placebo (IC 96,95% = 57,9 – 94,1%). No subgrupo de indivíduos com 70 anos ou mais a eficácia encontrada foi de 84,4% (IC 95% = 46,9 – 97,04%) e em idosos pré-frágeis, de 92,9% (IC 95% = 53,44 – 99,8%). Análises em relação aos subgrupos de indivíduos frágeis ou a partir de 80 anos de idade não puderam ser feitas devido ao baixo número de casos acumulados.
Para os casos graves, houve redução significativa de risco no grupo vacinado (94,1%; IC 95% = 62,4 – 99,9%), embora, em números absolutos, poucos casos tenham sido registrados (um caso no grupo vacinado vs. 17 no grupo placebo).
A outra vacina registrada, mais recente, tem o nome comercial de Abrysvo™ e é produzida pela Pfizer. Além da faixa etária acima de 60 anos, essa vacina está aprovada para imunização em gestantes durante o segundo e terceiro trimestre da gestação. O objetivo é prevenir a doença do trato respiratório inferior e doença grave do trato respiratório inferior em crianças desde o nascimento até os 6 meses de idade, por imunização ativa em gestantes.
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Evidências de eficácia
O estudo de eficácia dessa vacina incluiu 6.975 mulheres saudáveis de até 49 anos, com idade gestacional entre 24 e 36 semanas, com gestações únicas, não complicadas e de baixo risco. O objetivo primário foi avaliar a eficácia na prevenção de infecção do trato respiratório inferior em bebês, avaliando em paralelo a ocorrência de doença do trato respiratório inferior com atendimento médico e de doença grave do trato respiratório inferior com atendimento médico, ao longo de 90, 120, 150 e 180 dias.
A vacina foi considerada eficaz na redução de doenças graves do trato respiratório inferior com atendimento médico devido ao VSR, em todos os pontos de tempo (eficácia de 81,8% aos 90 dias; IC 99,5% = 40,6 – 96,3%) e para hospitalização por VSR até 180 dias (eficácia de 67,7% aos 90 dias; IC 99,17% = 15,9 – 89,5%).
Para o desfecho de doença do trato respiratório inferior por VSR com atendimento médico, a vacina foi considerada eficaz de 90 até 180 dias após o nascimento (eficácia de 56,8%, 52,5% e 51,3% aos 120, 150 e 180 dias, respectivamente).