Vacinas permanecem eficazes contra a Ômicron: as evidências até aqui

Estudos começam a ser conduzidos para avaliar se as vacinas para Covid-19 disponíveis até o momento mantêm sua eficiência diante da Ômicron.

Quando identificada pela primeira vez, análises de sequenciamento genético identificaram que a nova variante do SARS-CoV-2, nomeada B.1.1.529 ou Ômicron, apresentava uma grande quantidade de mutações. Tal fato levou à preocupação de que as mutações pudessem conferir maior infectividade e/ou virulência ao vírus.

Em pouco tempo, tem-se observado que a variante Ômicron tem sido responsável por novas ondas de Covid-19 em diversos países, incluindo naqueles em que parecia ter havido controle no número de casos. Além de aparente maior transmissibilidade do que as variantes anteriores, uma característica se destaca com a Ômicron: a capacidade de infectar indivíduos completamente vacinados.

Mesmo com a aplicação de três doses, parece haver escape vacinal com a nova variante. Nesse contexto, estudos começam a ser conduzidos para avaliar se as vacinas disponíveis até o momento mantêm sua eficiência diante da Ômicron. Embora seja ainda muito precoce para conclusões definitivas sejam, alguns resultados em relação ao assunto começaram a ser publicados.

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Ômicron e os anticorpos neutralizantes

Uma das ferramentas mais utilizadas para avaliar a eficiência de vacinas contra determinada variante é a análise da capacidade de neutralização de anticorpos elicitados pela administração do imunizante.

Um estudo chinês publicado na Clinical Infectious Diseases estudou a neutralização de duas cepas de Ômicron por parte de anticorpos derivados da vacinação com Coronavac e com Pfizer. Os anticorpos eram provenientes de amostras de soro de voluntários de ensaios clínicos de vacinação conduzidos em Hong Kong.

Ao todo, foram incluídas amostras de soro de 50 voluntários, dos quais 25 tomaram 2 doses de Coronavac e 25 receberam 2 doses de Pfizer. Entre os soros dos imunizados com Pfizer, todas as amostras apresentaram neutralização contra o vírus ancestral e as variantes Beta e Delta, mas somente 20% e 24% contra cada uma das linhagens de Ômicron. Já entre as amostras dos que receberam Coronavac, 100% e 68% das amostras apresentaram neutralização contra o vírus ancestral e contra a variante Delta, mas nenhuma apresentou atividade neutralizante contra as variantes Ômicron e Beta.

Os resultados de outro estudo também foram publicados na NEJM na forma de carta ao editor. Os títulos de anticorpos neutralizantes contra o vírus ancestral e contra vírus expressando as mutações da variante Ômicron na proteína S foram mensurados em amostras de voluntários vacinados contra e/ou que se recuperaram de infecção pelo SARS-CoV-2.

Nas amostras coletadas com 1 e com 6 meses após infecção natural, os títulos de anticorpos neutralizantes encontrados foram 58 e 32 vezes menores para a Ômicron do que para o vírus ancestral. Após 1 ano, os valores foram 43 vezes menores.

No plasma dos que foram vacinados com uma vacina de RNAm, após 1 mês, os valores foram 127 vezes menores para a variante Ômicron, estimativa que passou para 27 vezes menor 5 meses após a vacinação. Muitas das amostras de voluntários que foram imunizados com dose única de Janssen não apresentavam atividade neutralizante detectável e, por esse motivo, análises específicas não foram feitas.

Entretanto, a vacinação de indivíduos que se recuperaram da infecção natural ou a administração de uma terceira dose de imunizante pelo menos 6 meses após a segunda dose gerou um aumento significativo no título de anticorpos neutralizantes, inclusive nos testes com Ômicron.

O efeito da terceira dose

Outra carta ao editor divulgou os resultados de um pequeno estudo que visou a comparar a atividade neutralizante de anticorpos em indivíduos vacinados com 2 ou 3 doses da Pfizer. A linhagem ancestral e as variantes Beta, Delta e Ômicron foram analisadas.

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A administração de 3 doses elicitou maior neutralização do que a de 2 doses contra todas as linhagens virais. Em voluntários com 2 doses, observou-se eficiência significativamente menor contra as variantes quando comparadas com as amostras dos voluntários que receberam 3 doses. Cinco meses após a administração da segunda dose, o soro dos que receberam somente 2 doses da vacina apresentavam menor atividade neutralizante contra o vírus selvagem e contra a variante Delta e nenhuma atividade contra a Ômicron. A administração de uma terceira dose esteve relacionada a maior eficiência contra a variante Ômicron, mas, ainda assim, a atividade neutralizante foi menor, por um fator de 4, do que a encontrada contra a linhagem ancestral.

Dados de vida real

Além dos dados de ensaios in vitro, alguns resultados com dados de vida real já foram publicados. Um estudo conduzido na África do Sul procurou estimar a eficiência do esquema de 2 doses da Pfizer contra hospitalização em infecções causadas pela variante Ômicron, que se tornou dominante no país em novembro de 2021. O período de setembro a outubro de 2021 foi usado como comparador, quando a variante Delta era a predominante.

Foram identificados e analisados 133.347 testes de RT-PCR no período comparador, dos quais 38.155 (28,6%) foram obtidos pelo menos 14 dias após a administração de segunda dose. No período mais recente, foram analisados 78.173 testes, dos quais 32.325 (41,4%) foram obtidos com no mínimo 14 dias da segunda dose.

A proporção geral de testes positivos foi de 6,4% e 24,4% nos períodos comparador e de Ômicron, respectivamente. Já a taxa de admissão hospitalar por Covid-19 nos que tiveram resultados positivos foi de 10,8% e 2,2%, respectivamente. Pelos resultados obtidos, a eficiência da Pfizer contra a nova variante foi de 70% (IC 95% = 62 – 76%), enquanto, no período comparador, foi de 93% (IC 95% = 90 – 94%).

Limitações desse estudo incluem o fato de que as amostras positivas não foram sequenciadas, impossibilitando precisar as variantes envolvidas nas infecções. Além disso, em uma proporção dos indivíduos vacinados, não foi possível determinar o tipo de imunizante, o que pode influenciar na validade externa dos resultados.

Mensagens práticas

  • Embora poucas e prioritariamente de estudos in vitro, as evidências têm demonstrado menor eficiência das vacinas de Covid-19 contra a variante Ômicron.
  • Entretanto, os dados da África do Sul sugerem que vacinação se mantém eficaz para proteger contra hospitalizações nos indivíduos infectados.

Referências bibliográficas:

  • Lu L, Mok BW, Chen LL, Chan JM, Tsang OT, Lam BH, Chuang VW, Chu AW, Chan WM, Ip JD, Chan BP, Zhang R, Yip CC, Cheng VC, Chan KH, Jin DY, Hung IF, Yuen KY, Chen H, To KK. Neutralization of SARS-CoV-2 Omicron variant by sera from BNT162b2 or Coronavac vaccine recipients. Clin Infect Dis. 2021 Dec 16:ciab1041. doi: 10.1093/cid/ciab1041.
  • Schmidt F, Muecksch F, Weisblum Y, et al. Plasma neutralization of the SARS-CoV-2 omicron variant. N Engl J Med. doi: 10.1056/NEJMc2119641.
  • Nemet I, Kliker L, Lustig Y, et al. Third BNT162b2 vaccination neutralization of SARS-CoV-2 omicron infection. N Engl J Med. doi: 10.1056/NEJMc2119358.
  • Collie S, Champion J, Moultrie H, et al. Effectiveness of BNT162b2 vaccine against omicron variant in South Africa. N Engl J Med. doi: 10.1056/NEJMc2119270.

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