Você sabia que pode salvar muitas vidas com a detecção precoce de angina instável na emergência?

Sabia que a maioria dos casos de IAM é precedida por alguma manifestação sub-valorizada de angina instável nos dias anteriores ao IAM?

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Sabia que a maioria dos casos de infarto agudo do miocárdio (IAM), senão todos, é precedida por alguma manifestação sub-valorizada de angina instável nos dias anteriores ao IAM? Você sabia que o sistema arterial vascular se comporta de maneira bastante parecida ao exercer a sua função de perfundir os diversos tecidos e órgãos do corpo?

Por exemplo, conhecemos um quadro clínico que ocorre nos membros inferiores chamado claudicação intermitente. Em geral, utilizamos essa denominação para nos referir à doença arterial aterosclerótica obstrutiva periférica (DAAOP). O que muitas vezes não é considerado e tampouco pensado em atendimento emergencial é que os vasos que se dirigem ao encéfalo (artérias carótidas e vertebrais), assim como as artérias coronárias, apresentam comportamento muitas vezes claudicante.

No caso das artérias coronárias, essa eventual claudicação vascular (isquemia vascular intermitente) origina o conhecido quadro clínico de angina pectoris, o qual, quando acompanha o paciente de longa data e não exibe alteração em seu desencadeamento ou em sua intensidade, denomina o quadro conhecido por angina estável.

Quando a referida claudicação arterial ocorre nas artérias que nutrem o encéfalo, temos o quadro clínico denominado acidente isquêmico transitório. Nesse caso, não há, em geral, diferenciação médica quanto ao tempo de instalação ou intensidade dos sintomas em termos de interpretação clínica e posterior conduta, diferentemente de como ocorre no caso das artérias coronarianas. A claudicação de artéria que nutre o encéfalo sempre gera nos neurologistas o ímpeto por uma investigação médica completa na tentativa de surpreender possíveis causas desse quadro neurológico emergencial, incluindo possíveis obstruções vasculares, implementando sempre o tratamento indicado, seja ele clínico ou cirúrgico, seja emergencial ou eletivo.

No caso das artérias nutrizes do coração, as coronárias, sua eventual claudicação pode se expressar de vários modos com diferentes intensidades, nuances e tempos, caracterizando o espectro dos quadros anginosos cardíacos. Quando o quadro apresenta caráter temporalmente mais agudo (dentro dos últimos 30 dias), tem-se a angina instável.

Essa patologia, quando detectada em uma emergência ou mesmo consultório, deve obrigatoriamente gerar no médico a atitude de indicar imediata transferência do paciente para uma emergência hospitalar, onde se possam iniciar as intervenções médicas objetivando aumentar a chance de sobrevivência e redução de danos à saúde associados ao quadro.

Observemos que, no caso do encéfalo, uma obstrução arterial, ainda que leve e fugaz, leva a manifestações clínicas mais comumente exuberantes, o que nem sempre ocorre no caso da isquemia cardíaca.

Uma história de dor, opressão ou angústia torácica, principalmente se precordial, com ou sem irradiação para qualquer dos membros superiores (mais comumente o esquerdo), pescoço, mandíbula, ombros ou nuca, acompanhada de um ou mais dos fatores de risco maiores para cardiopatia isquêmica (hipercolesterolemia, HAS, DM, tabagismo, idade masculina superior a 55 anos, idade feminina superior a 65 anos, história de DAC precoce em familiar de primeiro grau), deve nos chamar a atenção (e a ação) para um possível quadro de angina instável.

Lembremos que diagnosticar angina instável é diagnosticar uma emergência médica e pode salvar a vida do paciente. A claudicação coronária associada à doença aterosclerótica coronária, em geral, reflete o dinâmico processo de aposição e subsequente lise de coágulo que ocorre nessa situação patológica junto ao ateroma coronariano.

A apresentação do quadro anginoso instável caracteriza o “momento-ouro” da intervenção coronária, fazendo-se analogia à “hora de ouro” (golden hour) no trauma. Desenvolver-se a perspicácia clínica em relação a essa importante forma de apresentação da cardiopatia isquêmica nos atendimentos de emergência, trata-se de capacitarmo-nos cada vez mais a intervir antes do início do processo patológico agudo do IAM ter se iniciado. Assim, podemos interferir nessa doença aguda, mórbida e mortal antes que ela ocorra, prevenindo morte ou futura insuficiência cardíaca.

O cenário anginoso instável na emergência é um dos poucos contextos em Medicina no qual temos a oportunidade de interferir no processo saúde-doença-vida-morte de forma a alterar-se rápida e abruptamente a potencial mortalidade associada ao quadro clínico, implementando intervenções farmacológicas e encaminhando para avaliações especializadas com implementação de procedimentos percutâneos intervencionistas, alterando de forma determinante a história natural de uma doença de alta e aguda morbiletalidade, não raramente causadora de morte súbita: o infarto agudo do miocárdio.

Coronária também claudica, o nome dessa patologia, quando o sintoma de dor torácica ou equivalente clínico, ocorre de forma mais abrupta, em contexto emergencial, é angina instável. Estejamos atentos e salvemos vidas!

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Referências:

  • Coronary artery surgery study (CASS): a randomized trial of coronary artery bypass surgery. Survival data. Circulation. 1983;68:939-950
  • 2014 AHA/ACC Guideline for the Management of Patients With Non–ST-Elevation Acute Coronary Syndromes. Journal of the American College of Cardiology. Volume 64, Issue 24, December 2014.
  • Unstable Angina. Updated: Dec 26, 2017. Author: Walter Tan, MD, MS; Chief Editor: Eric H Yang, MD. Medscape.
  • Framingham Heart Study

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