Síndromes hipertensivas na gravidez: últimas evidências de profilaxia e manejo

Uma revisão recente foi publicada no The British Medical Journal reunindo as últimas evidências sobre as síndromes hipertensivas na gestação.

As síndromes hipertensivas da gravidez (SHG) são um grupo de morbidades caracterizadas pelo aumento da pressão arterial sistêmica. Apresenta alta taxa de morbidade e mortalidade materna e perinatal. A prevalência varia de acordo com a região, com uma estimativa global de 116 por 100 mil mulheres em idade fértil.  

Recentemente foi publicada uma revisão de literatura no periódico The British Medical Journal sobre síndromes hipertensivas na gestação, reunindo as últimas evidências sobre a definição, classificação, rastreio, profilaxia e manejo pré e pós-natal.  

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síndromes hipertensivas na gravidez

Classificação das síndromes hipertensivas na gravidez

Hipertensão arterial sistêmica na gravidez é definida como a pressão arterial (PAS) sistólica maior ou igual a 140 mmHg e/ou a pressão arterial diastólica (PAD) maior ou igual a 90 mmHg. As SHG podem ser classificadas em: 

  • Hipertensão arterial crônica (HAC): diagnosticada previamente à gravidez ou antes de 20 semanas de idade gestacional; 
  • Hipertensão do jaleco branco: PA ≥ 140/90 mmHg no serviço de saúde, entretanto < 135/85 mmHg na monitorização domiciliar; 
  • Hipertensão arterial mascarada: PA < 135/85 mmHg no serviço de saúde, porém ≥ 140/90 mmHg na monitorização domiciliar; 
  • Hipertensão arterial gestacional (HAG): diagnosticada após a 20ª semana de gestação; 
  • Pré-eclâmpsia (PE): HAG e alteração clínica ou laboratorial correspondente à lesão endotelial de órgão-alvo (proteinúria, trombocitopenia, elevação de enzimas hepáticas); 
  • Hipertensão arterial crônica com pré-eclâmpsia sobreposta: diagnosticada previamente à gravidez ou antes de 20 semanas de idade gestacional que evolui com alteração clínica ou laboratorial correspondente à lesão endotelial de órgão-alvo. 

Fatores de risco e profilaxia 

Todos os protocolos ao redor do mundo recomendam que todas as gestantes sejam estratificadas para o risco de PE. Quando esse risco é considerado alto, recomenda-se a prescrição de aspirina e cálcio, especialmente em regiões onde a dieta é pobre nesse micronutriente. 

O algoritmo da Fetal Medicine Foundation (FMF) incorpora fatores de risco maternos, pressão arterial, biomarcadores placentários (proteína plasmática A associada à gravidez (PAPP-A) e proteína fator de crescimento placentário (PlGF)) e Doppler das artérias uterinas. Devido à logística e alto custo desse rastreio combinado, muitos protocolos recomendam o rastreio baseado apenas em fatores de risco materno. 

Avanços no diagnóstico das síndromes hipertensivas na gravidez

O diagnóstico das SHG se apoia muito nas características clínicas. Entretanto, às vezes, encontra dúvidas quando a elevação da PA é transitória ou encontra-se lesão de órgão alvo em mulheres com HAC. 

Progresso em direção a um teste de diagnóstico mais preciso para PE foi acelerado pela descoberta de um desequilíbrio angiogênico anormal na doença. O estudo inicial identificou concentrações muito altas da proteína solúvel FMS-like tirosina quinase 1 (sFlt) nas placentas de mulheres com pré-eclâmpsia.

Essa observação foi seguida por um segundo estudo que mostrou altas concentrações da proteína antiangiogênica sFlt e baixas concentrações do proangiogênico PlGF na circulação materna de mulheres antes do diagnóstico clínico de pré-eclâmpsia.  

Além disso, uma relação entre a gravidade das características clínicas da doença e a escala do desequilíbrio angiogênico também foi observada. Com base nesses dois estudos, o Painel de Avaliação de Diagnóstico do NICE fez uma recomendação de que o teste baseado em PlGF deva ser oferecido a mulheres que apresentam quadro clínico sugestivo de pré-eclâmpsia antes de 37 semanas de gestação.   

Manejo das síndromes hipertensivas na gravidez 

A maioria dos protocolos indicam a prescrição de anti-hipertensivos sempre que a PA esteja maior ou igual a 140/90 mmHg, objetivando como alvo terapêutico valores abaixo disso. 

Os anti-hipertensivos mais usados na gestação são o labetalol, a nifedipina e a metildopa. Lembrando que no Brasil, não dispomos do labetalol. 

O manejo durante a gestação, também envolve a monitorização pressórica, a avaliação do crescimento e vitalidade fetal, a programação do parto, uso de corticoide quando necessário e uso de sulfato de magnésio para profilaxia de dano neurológico materno e fetal.  

Seguimento pós-parto 

A revisão chama a atenção para a importância do controle pressórico no puerpério, sobre os desdobramentos das SHG ao longo do tempo na saúde cardiovascular dessas mulheres e da necessidade de aconselhamento para futuras gestações.  

Veja também: Riscos do uso materno de benzodiazepínicos e drogas Z no início da gestação

Questões para pesquisas futuras 

  • A triagem universal do primeiro trimestre apresenta bom custo-benefício para a prevenção da pré-eclâmpsia? 
  • Quais são as opções terapêuticas para prevenção e tratamento da pré-eclâmpsia? 
  • Existem diferentes subtipos de pré-eclâmpsia que devem ser tratados de forma diferente na prática clínica? 
  • Quais são as estratégias de triagem mais eficazes e intervenção para reduzir o risco de doenças cardiovasculares após distúrbios hipertensivos da gravidez? 

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Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo
  • Wu P, Green M, Myers JE. Hypertensive disorders of pregnancy. BMJ. 2023 Jun 30;381:e071653. DOI: 10.1136/bmj-2022-071653. PMID: 37391211.