Hidroxicloroquina na prevenção de pré-eclâmpsia em pacientes autoimunes

Estudo analisou o uso de hidroxicloroquina (HCQ), na profilaxia de pré-eclâmpsia no contexto das doenças autoimunes.

Diversas doenças autoimunes se associam com um risco aumentado de pré-eclâmpsia (PE), especialmente lúpus eritematoso sistêmico (LES) e a síndrome antifosfolípide (SAF). A PE é uma doença multissistêmica da gestação, associada a uma placentação inadequada, que aumenta o risco de desfechos maternos e fetais ruins. O seu tratamento envolve o término da gestação, que frequentemente se associa com partos pré-termo e diversas outras complicações.

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A hidroxicloroquina (HCQ), frequentemente utilizada no tratamento do LES, SAF e outras doenças autoimunes, possui propriedades anti-inflamatórias, antioxidantes e antiproliferativas, o que a torna potencial candidata para a profilaxia de pré-eclâmpsia no contexto das doenças autoimunes. No entanto, faltam dados conclusivos que permitam sua indicação para esse propósito.

Liu et al. conduziram uma revisão sistemática com metanálise para responder a essa questão.

Hidroxicloroquina na prevenção de pré-eclâmpsia em pacientes autoimunes

Métodos do estudo sobre o uso de hidroxicloroquina e pré-eclâmpsia

A revisão sistemática seguiu os procedimentos usuais, com busca de alta sensibilidade e exclusão por título, resumo e/ou texto completo por 2 revisores (dúvidas eram definidas com um terceiro). Foi analisada a qualidade metodológica dos estudos incluídos e, para a meta-análise, foram calculados a heterogeneidade e o risco de viés de publicação.

Os critérios de inclusão para os estudos analisados foram: (1) desenho do estudo: caso-controle, estudos de coorte ou ensaios clínicos randomizados; (2) população: gestantes com doença autoimune; e (3) desfechos: desfechos maternos e fetais relatados tanto para o grupo com quanto para o sem HCQ. Foram analisados diversos desfechos maternos (PE, síndrome HELLP, hipertensão gestacional, diabetes gestacional, trombose, aborto espontâneo, perda fetal) e fetais (nascidos vivos, natimortos, parto pré-termo, pequeno para idade gestacional — PIG, e crescimento intrauterino restrito — CIUR, baixo peso ao nascer, APGAR < 7 e malformações congênitas).

Resultados

Foram incluídos 21 estudos de coorte e 1 estudo caso-controle, totalizando 3.948 gestações. Dessas, 1.617 fizeram uso da HCQ e 2.331 não. Doze estudos foram com pacientes com LES, 4 com SAF ou positividade para anticorpos antifosfolípides, 5 com outras doenças difusas do tecido conjuntivo e 1 com nefropatia por IgA.

Os autores encontraram que a hidroxicloroquina reduziu o risco de pré-eclâmpsia, com OR 0,45 (IC95% 0,33-0,63, p < 0,001; I2 3,68%). Após exclusão dos outliers, a HCQ reduziu a chance de parto pré-termo em pacientes com doenças autoimunes (OR 0,84, IC95% 0,73-0,96), p=0,01; I2 44,81%). Nas análises de subgrupo (estratificado pelas diferentes doenças), a HCQ reduziu a chance de hipertensão gestacional (OR 0,42, IC95% 0,26-0,68, p=0,001; I2 49,33%) e parto pré-termo (OR 0,63, IC95% 0,48-0,82, p=0,001; I2 27,63%). Para os demais desfechos analisados, não houve diferença entre os grupos.

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Considerações sobre hidroxicloroquina e redução de risco de pré-eclâmpsia

A HCQ é uma medicação que possui uma grande importância no tratamento do LES, devendo ser prescrita para todos os casos sem contraindicação. Apesar de muitos médicos ainda terem receio de prescrevê-la durante o período gestacional, esse e outros estudos demonstram sua segurança, sem diferenças significativas em termos de malformações congênitas. Esse estudo demonstra ainda benefício da hidroxicloroquina em termos de redução do risco de pré-eclâmpsia, parto pré-termo e doença hipertensiva da gestação.

A explicação para esses efeitos benéficos provavelmente resulta de uma interferência em 3 pilares distintos: (1) efeito direto da HCQ, (2) melhor controle do LES, reduzindo o risco de flares, e (3) menor uso de corticoide.

Ao contrário do que afirmam os autores, a maioria dos estudos incluídos foi de pacientes com LES. Logo, dificilmente podemos extrapolar os resultados obtidos para outras populações de doenças autoimunes. Estudos específicos para outras doenças ainda são necessários para responder a essas questões.

Mensagem prática

Como dica prática, sempre tente manter o uso de HCQ durante a gestação, especialmente de pacientes com LES e aquelas com SAF que já estão em uso crônico da medicação.

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Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo
  • Liu Y, Wei Y, Zhang Y, et al. Hydroxychloroquine significantly decreases the risk of preeclampsia in pregnant women with autoimmune disorders: a systematic review and meta‑analysis. Clin Rheumatol. 2023;42:1223-1235. DOI: 10.1007/s10067-022-06496-2.