No dia 1º de abril comemora-se o dia da mentira, data que por muitos anos é celebrada com “pegadinhas” entre amigos e familiares a fim de trazer falsas informações, boatos e difamações para diversão das pessoas. A comemoração existe em diversos países europeus e ocidentais e, também, é chamada de Dia das Petas, Dia dos Tolos, Dia da Gafe, ou Dia dos Bobos. Embora hoje o intuito seja outro, sua origem foi na imprensa francesa ao publicar notícias falsas em consequência de divergências de opiniões entre a população e o rei Carlos IX. Nesse sentido, vale refletirmos sobre falsas informações dos meios de comunicação, ou seja, as “Fake News” nos dias de hoje, e quais repercussões elas desencadeiam para a saúde.
Impactos reais
Em primeiro lugar, cabe destacar que veicular e compartilhar informações falsas trazem prejuízos imensuráveis para as ações de serviço da saúde, sobretudo com consequências degradantes aos programas de atenção básica. Em virtude disso, os tratamentos cientificamente aceitos pela sociedade acadêmica tornam-se questionáveis, bem como as ações de saúde pública tornam-se comprometidas. Dessa forma, a “Fake News” é uma das barreiras do serviço de saúde e pode levar a resistência da população à ciência.
Um exemplo desse contexto é o Programa Nacional de Imunização (PNI), que tem sofrido com as informações falsas, muitas vezes de natureza política. A circulação de notícias falsas sobre vacinas geram questionamentos à segurança e à eficácia destas, sem que haja qualquer evidência científica. Embora haja redução regular da adesão vacinal devido aos movimentos antivacinas, a pandemia acelerou e acentuou o número de pessoas com os seus esquemas vacinais incompletos, inclusive provocando risco de surtos de doenças já esquecidas.
Frente a essa realidade, é importante citar que o Brasil, ao longo da sua história, presenciou campanhas sanitaristas que tiveram grandes impactos como: a erradicação da varíola (na década de 1980), a erradicação da poliomielite (na década de 1990) e a abrupta diminuição da rubéola após os anos 2000. Hoje, há uma situação atípica, uma vez que temos baixa vacinação de vacinas de rotinas em crianças e surtos de sarampo, potencializado pela não imunização de crianças.
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Ademais, afastando-se do ambiente político e das vacinas, a circulação das “Fake News”, sobre dietas milagrosas, alimentos que curam doenças complexas como o câncer, métodos para melhoria de doenças mentais e tratamento alternativo, por exemplo, vêm fazendo parte do cotidiano dos brasileiros. Nessas condições, temos um enfraquecimento de um sistema de saúde que baseia suas práticas na ciência e um fortalecimento da desinformação por intermédio de influenciadores digitais.
O que fazer?
Por fim, para evitar a difamação da falsa notícia, é indispensável identificar a sua fonte ─ por meio dos Órgãos e das instituições responsáveis pelo assunto abordado ─ e ler atentamente as Normas Técnicas, as Leis, os Decretos, as Bulas de medicamentos, bem como solicitar opiniões de profissionais que atuam nas áreas específicas, a fim de ser um enfermeiro comprometido com a verdadeira ciência, e não com julgamentos políticos. Nesse viés, cabe ressaltar que profissionais de saúde ao reproduzir “Fake News”, podem sofrer sanções penais e éticas, visto que é um ato criminoso não só para aqueles que as criam, mas para aqueles que a difundem. Além disso, é oportuno esclarecer a população sobre o contexto mediante a educação em saúde, que é a maior aliada dos profissionais da saúde no combate às falsas notícias em circulação.
Autores(as):
Rafael Polakiewicz
Doutorando em Ciências do Cuidado em Saúde (UFF), Mestre em Ciências do Cuidado em Saúde (UFF) e Especialista em Atenção Psicossocial.
Mariana Marins
Enfermeira, especialista em saúde da família. Mestre em educação pela Universidade Federal Fluminense. Experiência na gestão de unidade básica de saúde no Município do Rio de Janeiro e atualmente Gestora em Saúde no Município de Maricá.