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Pesquisadores da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) identificaram a percepção da comunidade científica sobre a viabilidade de tecnologias de redução segura e eficaz do uso de antidepressivos em pacientes.
O questionário aplicado por essa pesquisa conseguiu obter uma ampla visão sobre as perspectivas de pesquisadores e cientistas sobre as tecnologias que garantam um processo de descontinuação do uso de drogas psiquiátricas entre seus usuários.
A partir dos resultados encontrados, a pesquisa considera que uma das maiores dificuldades é a indisponibilidade no mercado de drogas psiquiátricas em doses fracionadas que possam facilitar o processo.
Os resultados do estudo foram obtidos durante o segundo semestre de 2018, pelos pesquisadores Fernando Freitas, do Laboratório de Estudos e Pesquisas em Saúde Mental da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz), e Camila Motta Gomes, do Centro de Estudos Estratégicos (CEE/Fiocruz).
As conclusões estão disponíveis online em sua íntegra no relatório de pesquisa Tecnologias de retirada de drogas psiquiátricas neste link.
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“A medicalização em psiquiatria tem se mostrado uma crescente tendência internacional e transformado situações normais do cotidiano em problemas de saúde, principalmente, a mental. Hoje, a tristeza virou depressão e, como tal, uma doença passível de ser medicada.”, ponderou Fernando Freitas, da pesquisador da Ensp/Fiocruz.
Ele ainda explicou em entrevista ao portal da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), que desde a década de 80, diversos comportamentos passaram a ser considerados como transtorno. Isso aconteceu a partiu do momento em que foi lançado o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, proposto pela Associação Americana de Psiquiatria.
O objetivo da pesquisa foi saber o que a comunidade científica pensa a respeito da viabilidade de desenvolvimento de uma tecnologia que possa oferecer às pessoas, pelo Sistema Único de Saúde (SUS), uma redução segura e eficaz do uso de antidepressivos.
Uma das tecnologias benéficas apontadas no estudo é baseada nas tiras de redução (tapering strips). Essa tecnologia foi desenvolvida na Holanda, em estudo liderado por pesquisadores da Universidade de Maastricht. O método consiste em doses atenuadas de medicação, fornecidas em embalagens de tiras. A redução obedece a um planejamento a curto, médio e longo prazo.
De acordo com esse estudo, a redução gradual da medicação possibilita uma retirada segura, utilizando pílulas de baixas dosagens para reduzir o consumo, muito menor do que pode ser obtido usando dosagens registradas padrão. Essa abordagem facilita a redução gradual para o usuário de antidepressivos e também para o médico.
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O estudo mostra que mais pacientes são bem-sucedidos usando tiras afiladas quando comparadas àquelas que tentaram reduzir o uso de outros métodos. E permite que pacientes que já tentaram e não conseguiram retirar a medicação tenham a oportunidade de sair do medicamento antidepressivo.
“O ideal é a redução gradual com acompanhamento médico, mas aqui no Brasil há vários obstáculos a isso, como uma formação médica pouco voltada para o campo da saúde mental e psicológica. Infelizmente, uma parte razoável da comunidade científica é avessa ao procedimento de redução das drogas. Isso porque parte das pesquisas e periódicos científicos é financiada pela indústria farmacêutica”, avaliou o pesquisador.
*Esse artigo foi revisado pela equipe médica da PEBMED
Referências:
- https://portal.fiocruz.br/noticia/pesquisa-analisa-reducao-segura-e-eficaz-do-uso-de-antidepressivos
- https://cee.fiocruz.br/sites/default/files/CEE_Relat%C3%B3rio%20de%20pesquisa_Retirada_Drogas_Psiqui%C3%A1tricas_Fernando%20Freitas_VALE_VALE_novo%20t%C3%ADtulo.pdf
- https://www.taperingstrip.org/
- https://www.tandfonline.com/doi/full/10.1080/17522439.2018.1469163