Quais os cuidados de enfermagem durante o óbito e pós-óbito?

Temas relacionados ao óbito ou como abordar doenças que não possuem tratamento ainda são pouco presentes durante a formação dos profissionais da saúde.

Temas relacionados à morte ou como abordar doenças que não possuem tratamento ainda são pouco presentes durante a formação dos profissionais da saúde e, para colaborar com o despreparo teórico, as experiências práticas destinadas à formação profissional ainda são muito focadas no aspecto curativo das doenças e insuficientes em preparar o profissional para uma realidade na qual muitas doenças não têm cura.

enfermeiro segurando mão de paciente em fase final de vida, pensando no cuidado após óbito

Óbito e pós-óbito

A morte não é um acontecimento que deve ser temido ou enfrentado a todo custo diante de doenças progressivas e intratáveis, contudo, deve ser compreendida como um aspecto natural do avanço de muitas doenças e até da trajetória da própria vida.

A partir desse novo olhar a ser construído, os profissionais inseridos no cuidado direto devem estar preparados para identificar pacientes que se aproximam do momento final de vida, pois a identificação da proximidade da morte permite a elaboração de um novo plano de cuidados onde as ações são direcionadas para o conforto e bem estar do paciente e acolhimento dos familiares diante do sofrimento e luto.

Como função prática, constatar o óbito é responsabilidade da equipe médica, no entanto, todo o cuidado a ser prestado no pós-óbito é função da equipe de enfermagem. Segundo o Art. 19 do Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem (CEPE), os profissionais têm o dever de respeitar o pudor, a privacidade e a intimidade do ser humano, em todo seu ciclo vital, inclusive nas situações de morte e pós-morte.

Principais ações de enfermagem

Idealmente, uma vez que é identificado a proximidade com a fase final de vida os pacientes devem ser mantidos em quartos individuais onde familiares orientados sobre o processo possam ficar próximos. Visitas devem ser liberadas de acordo com o que foi estabelecido entre familiares e desejo prévio do paciente.

O ambiente deve ser calmo, com pouco trânsito de pessoas e as intervenções devem ser minimamente invasivas com objetivo de manter o paciente confortável até o momento de partida.

Leia também: Quando os nossos pacientes morrem: uma abordagem para os profissionais

Durante o óbito imediato:

Objetivo: Acolher familiares e deixar o paciente em posição digna em um ambiente calmo.

  • A equipe médica deve constatar a morte;
  • A comunicação da morte pode ser realizada pelo enfermeiro e deve ser balizada de acordo com protocolo da instituição;
  • Desligar aparelhos ou equipamentos que emitem sinais sonoros;
  • Proteger a privacidade do paciente e familiares. Em quartos compartilhados deve-se utilizar biombos e restringir o trânsito de pessoas neste momento;
  • Pedir licença à família durante o manuseio do familiar que acabou de partir;
  • Desconectar dispositivos que estejam em funcionamento durante o óbito (ex.: infusão de medicações);
  • Manter o silêncio e ambiente calmo;
  • Acolher familiares, ofertar conforto;
  • Posicionar o paciente em decúbito dorsal e braços posicionados ao lado do corpo, retirar travesseiros e almofadas;
  • Cobrir com um lençol até o ombro;
  • Elevar levemente a cabeceira;
  • Se necessário, colocar prótese dentária;
  • Cerrar os olhos e fechar a boca (obs: se necessário posicionar um coxim abaixo da mandíbula);
  • Respeitar o momento da família se despedir;
  • Perguntar se familiares querem um momento à sós com o paciente e explicar a necessidade de cuidados de enfermagem após o momento de despedida;
  • Respeitar rituais religiosos e espiritualidade da família.

Preparo do corpo pós-óbito:

Objetivo: deixar o corpo limpo e organizado, posicionado para sepultamento.

  • Comunicar familiares sobre a necessidade de preparar o corpo;
  • Solicitar que aguardem do lado de fora do quarto;
  • Orientar e esclarecer dúvidas;
  • Se necessário, encaminhar ao serviço de assistência social para orientações gerais;
  • Questionar algum costume ou ritual que deva ser respeitado;
  • Reunir material próximo ao paciente;
  • Utilizar Equipamentos de Proteção Individual (EPIs);
  • Seguir o protocolo institucional para o tamponamento, oclusão de orifícios e drenagem de fluídos.
    Retirar dispositivos e cateteres;
  • Realizar curativos se necessários;
  • Manter a aparência mais próximo do natural antes do enrijecimento cadavérico (rigor mortis), decúbito dorsal, mãos juntas acima da região epigástrica e pés juntos;
  • Identificar o corpo de acordo com padrão da instituição;
  • Cobrir com a proteção padrão da instituição (ex: lençol) para o trânsito até lugar destinado. Desde que possível evitar o encaminhamento na frente dos familiares;
  • Retirar EPIs e higienizar as mãos;
  • Materiais devem ser descartados ou encaminhados ao expurgo;
  • Os pertences do paciente devem ser reunidos e entregues ao familiar responsável.
  • Realizar anotações de enfermagem: data e horário do óbito, detalhes importantes, nome do médico que constatou o óbito, cuidados realizados, horário de transferência, quem recebeu os pertences e intercorrências que forem importantes;
  • Solicitar limpeza terminal do leito.

Veja ainda: Choosing Wisely: práticas comuns que a enfermagem deve questionar

Para aspectos práticos do cotidiano dos profissionais de enfermagem é importante que cada instituição possua treinamentos e protocolos que padronizem as ações durante o momento do óbito. Além disso, é importante lembrar que os profissionais de saúde não estão imunes ao luto ou a dor da perda, sendo assim, recomenda-se que as instituições possuam programas de suporte técnico e psicossocial aos profissionais expostos diariamente a situações de sofrimento.

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Referências bibliográficas:

  • Resolução COFEN nº 564/2017. Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem (CEPE). [Internet]; 2017; [citado em fevereiro de 2020].
  • Santos RA, Moreira MCN. Resiliência e morte: o profissional de enfermagem frente ao cuidado de crianças e adolescentes no processo de finitude da vida. Ciência & Saúde Coletiva. [Internet]; 2014;[citado em fevereiro de 2020].
  • Henry C et al. Personal care at the end of life and after death. Nursing Times. [Internet]; 2012; [citado em fevereiro de 2020].
  • Conselho Regional de Enfermagem de São Paulo. Câmara Técnica: Orientação Fundamentada Nº 21/2014 Revisada em fevereiro/2017. [Internet]; 2017;[citado em fevereiro de 2020].

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