Paciente do sexo masculino, 36 anos, iniciou com dor tipo cólica no andar inferior do abdome e dor em membros inferiores há dois dias. Qual o diagnóstico?
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Introdução do caso:
Paciente do sexo masculino, 36 anos, iniciou com dor tipo cólica no andar inferior do abdome e dor em membros inferiores há dois dias. Portador de anemia falciforme, com múltiplas transfusões sanguíneas prévias, e de hepatopatia crônica fibrosante de diagnóstico recente. Nega etilismo e história familiar de hepatopatias. Diagnosticada crise álgica secundária à drepanocitose, sendo realizada admissão hospitalar para propedêutica laboratorial e de imagem – ressonância magnética (RM) do abdome –, a fim de elucidar a etiologia da hepatopatia.
Pergunta: Com base na história clínica, nos exames laboratoriais e na RM, qual a etiologia mais provável da hepatopatia?
Correto
Hepatopatia crônica fibrosante (HCF) sem causa definida requer definição etiológica por ser potencialmente tratável. Sorologias para hepatites virais negativas, autoanticorpos não reagentes, hiperferritinemia e aumento do índice de saturação de transferrina sugerem sobrecarga férrica.
Sobrecarga férrica pode ser secundária ao excesso de ferro administrado por via parenteral (v.g. transfusões múltiplas) ou por elevada absorção (v.g. hemocromatose hereditária). A história prévia de múltiplas transfusões, com afastamento de outras causas de hepatopatia, etilismo e história familiar de hemocromatose, sugerem sobrecarga secundária de ferro como etiologia da HCF.
Como o ferro não tem mecanismo de excreção ativa no corpo humano, seu excesso é absorvido por hepatócitos, cardiomiócitos e células de órgãos endócrinos, nos quais o ferro reage com o peróxido de hidrogênio produzindo espécies oxidantes que danificam o tecido, cursando com inflamação e fibrose. São consequências da sobrecarga de ferro: HCF, defeitos de condução cardíaca, diabetes mellitus e alterações pituitárias.
Para confirmação diagnóstica, o padrão-ouro é a biópsia hepática – exame invasivo e com considerável morbidade. Como alternativa, realizam-se exames de imagem, sendo a ressonância magnética (RM) com quantificação de ferro o principal deles (Figura 1) por permitir a quantificação da sobrecarga férrica, conforme descrito previamente, além de não empregar radiação ionizante. A tomografia computadorizada (TC) é outra opção, mas não é capaz de fazer essa quantificação (Figura 2).
Neste caso, a doença de Wilson é um diagnóstico diferencial importante de hepatopatia com ceruloplasmina baixa. No entanto, dizem contra essa possibilidade a dosagem de cobre urinário de 24h normal, história familiar negativa para hepatopatia e ausência de sintomas neuropsiquiátricos e de anéis de Kayser-Fleischer nos olhos.
A doença hepática gordurosa não-alcoólica, por sua vez, é um diagnóstico de exclusão. Seu aspecto ultrassonográfico é semelhante ao da hemocromatose (hiperecogenicidade do parênquima hepático), porém a cinética do ferro auxilia no diagnóstico diferencial. Além disso, na RM, o padrão da esteatose é de hipersinal em T2, enquanto o da hemocromatose apresenta hipossinal. À TC, por outro lado, a esteatose se traduz com hipoatenuação do parênquima hepático e a hemocromatose por hiperatenuação.
Há ainda a hepatite autoimune, que deve ser pesquisada especialmente em hepatopatas jovens. É mais prevalente em mulheres, com pico entre 10 e 30 anos, e está associada com positividade de autoanticorpos (FAN, anti-músculo liso e anti-LKM1) e hipergamaglobulinemia, devendo ser confirmada por meio de exame anatomopatológico (ver caso 312).
O tratamento da HFC secundária à sobrecarga de ferro implica flebotomias seriadas, quando os parâmetros hematimétricos dos pacientes permitem, e uso de quelantes do ferro, nos significativamente anêmicos. Os pacientes que recebem transfusões sanguíneas devem monitorar periodicamente a ferritina sérica, com alvo menor que 1000 a 1500 ng/mL.
Referências bibliográficas:
Leonis MA, Balistreri WF. Outros transtornos metabólicos hereditários do fígado. In: Feldman M, Friedman LS, Brandt LJ. Tratado gastrointestinal e doenças do fígado. 9 ed. Rio de Janeiro. Elsevier. 2014. p. 1283-1305.
Bourbon Filho LA, Ferrão TO, França AVC, Rocha RD, Dantas LD, Carvalho LFP, Moreira MDAB, Cipolotti R. Sobrecarga de ferro transfusional em portadores de anemia falciforme: comparação entre ressonância magnética e ferritina sérica. Radiol Bras. 2011;44(3):151-155.
Pinho IF, Nobeschi L, Goto RE, Munhoz BNS, Melo HJF. A importância da ressonância magnética no diagnóstico da hemocromatose hereditária. Atas de Ciência da Saúde. 2014;(2):01-13.
Schrier SL, Bacon BR, Kwiatkowski J. Approach to the patient with suspected iron overload. In: UpToDate.
Incorreto
Hepatopatia crônica fibrosante (HCF) sem causa definida requer definição etiológica por ser potencialmente tratável. Sorologias para hepatites virais negativas, autoanticorpos não reagentes, hiperferritinemia e aumento do índice de saturação de transferrina sugerem sobrecarga férrica.
Sobrecarga férrica pode ser secundária ao excesso de ferro administrado por via parenteral (v.g. transfusões múltiplas) ou por elevada absorção (v.g. hemocromatose hereditária). A história prévia de múltiplas transfusões, com afastamento de outras causas de hepatopatia, etilismo e história familiar de hemocromatose, sugerem sobrecarga secundária de ferro como etiologia da HCF.
Como o ferro não tem mecanismo de excreção ativa no corpo humano, seu excesso é absorvido por hepatócitos, cardiomiócitos e células de órgãos endócrinos, nos quais o ferro reage com o peróxido de hidrogênio produzindo espécies oxidantes que danificam o tecido, cursando com inflamação e fibrose. São consequências da sobrecarga de ferro: HCF, defeitos de condução cardíaca, diabetes mellitus e alterações pituitárias.
Para confirmação diagnóstica, o padrão-ouro é a biópsia hepática – exame invasivo e com considerável morbidade. Como alternativa, realizam-se exames de imagem, sendo a ressonância magnética (RM) com quantificação de ferro o principal deles (Figura 1) por permitir a quantificação da sobrecarga férrica, conforme descrito previamente, além de não empregar radiação ionizante. A tomografia computadorizada (TC) é outra opção, mas não é capaz de fazer essa quantificação (Figura 2).
Neste caso, a doença de Wilson é um diagnóstico diferencial importante de hepatopatia com ceruloplasmina baixa. No entanto, dizem contra essa possibilidade a dosagem de cobre urinário de 24h normal, história familiar negativa para hepatopatia e ausência de sintomas neuropsiquiátricos e de anéis de Kayser-Fleischer nos olhos.
A doença hepática gordurosa não-alcoólica, por sua vez, é um diagnóstico de exclusão. Seu aspecto ultrassonográfico é semelhante ao da hemocromatose (hiperecogenicidade do parênquima hepático), porém a cinética do ferro auxilia no diagnóstico diferencial. Além disso, na RM, o padrão da esteatose é de hipersinal em T2, enquanto o da hemocromatose apresenta hipossinal. À TC, por outro lado, a esteatose se traduz com hipoatenuação do parênquima hepático e a hemocromatose por hiperatenuação.
Há ainda a hepatite autoimune, que deve ser pesquisada especialmente em hepatopatas jovens. É mais prevalente em mulheres, com pico entre 10 e 30 anos, e está associada com positividade de autoanticorpos (FAN, anti-músculo liso e anti-LKM1) e hipergamaglobulinemia, devendo ser confirmada por meio de exame anatomopatológico (ver caso 312).
O tratamento da HFC secundária à sobrecarga de ferro implica flebotomias seriadas, quando os parâmetros hematimétricos dos pacientes permitem, e uso de quelantes do ferro, nos significativamente anêmicos. Os pacientes que recebem transfusões sanguíneas devem monitorar periodicamente a ferritina sérica, com alvo menor que 1000 a 1500 ng/mL.
Referências bibliográficas:
Leonis MA, Balistreri WF. Outros transtornos metabólicos hereditários do fígado. In: Feldman M, Friedman LS, Brandt LJ. Tratado gastrointestinal e doenças do fígado. 9 ed. Rio de Janeiro. Elsevier. 2014. p. 1283-1305.
Bourbon Filho LA, Ferrão TO, França AVC, Rocha RD, Dantas LD, Carvalho LFP, Moreira MDAB, Cipolotti R. Sobrecarga de ferro transfusional em portadores de anemia falciforme: comparação entre ressonância magnética e ferritina sérica. Radiol Bras. 2011;44(3):151-155.
Pinho IF, Nobeschi L, Goto RE, Munhoz BNS, Melo HJF. A importância da ressonância magnética no diagnóstico da hemocromatose hereditária. Atas de Ciência da Saúde. 2014;(2):01-13.
Schrier SL, Bacon BR, Kwiatkowski J. Approach to the patient with suspected iron overload. In: UpToDate.
Revisores: Gustavo Monteiro, Fernando Amorim, Bruno Campos, Luiz Gustavo, Rafael Valério, Prof. José Nelson Mendes Vieira, Profa. Viviane Santuari Parisotto Marino.
Orientador: Luciana Costa Faria, médica gastroenterologista e hepatologista, Professora Associada do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da UFMG.
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