A ostomização é um procedimento cirúrgico, agressivo e que pode gerar várias complicações à vida das pessoas que realizam o procedimento. Provoca mudanças corporais, instrumentais e psicossociais. Pode haver mudança significativa na vida pessoal, conjugal, social, no trabalho e pode ser provocadora de diminuição da autoestima, levando ao estresse, ansiedade e depressão, entre outras doenças. É um procedimento agressivo para as pessoas ostomizadas, sendo uma oclusão ou abertura, em órgão oco, por meio de procedimento cirúrgico, com objetivo de desviar o trânsito gástrico ou intestinal, na busca de gerar alimentação ou eliminação.
Algumas causas comuns podem levar a necessidade de ostomia, como por exemplo: diverticulite, doenças inflamatórias intestinais, tais como: cânceres, traumas abdominais, anomalias, doença de Crohn, colite ulcerativa. As Estomias mais comuns são aquelas realizadas no íleo, ileostomia; no cólon, colostomia; nos rins, nefrostomia; no ureter, ureterostomia.
Estomia é uma abertura cirúrgica realizada intencionalmente no corpo humano para a construção de um novo trajeto que pode ser utilizado para drenagem de fezes, secreções e urina, como por exemplo, colostomia, esofagostomia e vesicostomia; ou para a administração de oxigênio e alimentos, como a traqueostomia e gastrostomia. Após a colocação de uma estomia, a pessoa torna-se estomizada¹
A saúde mental das pessoas ostomizadas
A saúde mental das pessoas ostomizadas deve ser trabalhada de forma objetiva pela equipe de enfermagem, uma vez que a ostomia gera inúmeras vulnerabilidades psíquicas a pessoa. Estudos mostram que pessoas ostomizadas ficam com sentimentos difusos, dada tanto a mudança da dinâmica corporal quanto as modificações impostas pelos estomas na vida diária, sendo comum que as pessoas ostomizadas estejam mais vulneráveis a depressão, ao medo, ao isolamento social e ao afastamento de atividades laborais. A doença base, provocadora da ostomia já pode causar um desequilíbrio na pessoa, e, podemos ter a potencialização das vulnerabilidades frente ao adoecimento, quando a pessoa é submetida a procedimento cirúrgico para a constituição de um estoma. Esse fenômeno provoca a necessária intervenção dos profissionais de enfermagem no âmbito psíquico desses usuários, uma vez que necessitaram de planos de cuidado que valorizem o apoio emocional e psicológico.
O enfermeiro tem papel crucial no processo de orientação dos ostomizados, uma vez que suas habilidades profissionais, principalmente aquelas que estão relacionadas ao cuidado com o corpo, podem ajudar muito os usuários ostomizados. As habilidades voltadas as práticas sistematizadas podem contribuir para a identificação de problemas e por meio da construção de diagnósticos e a intervenções que contribuem para a superação dos problemas relacionados e com isso, contribuir para que as pessoas ostomizadas possam desenvolver a resiliência e a adaptação em seu novo contexto de vida. Podemos observar isso em: “a consulta de enfermagem é essencial para a readaptação de pacientes estomizados, pois, além de oferecer suporte necessário para o tratamento, oferece um sentido, guiando o paciente para a aceitação da estomia.”²
Questões que os enfermeiros podem receber
Vamos trabalhar questões sobre as ostomias de eliminação que são frequentes e podem gerar diminuição da saúde mental, quando não orientadas pelo enfermeiro. Supondo perguntas de pessoas ostomizadas, que são frequentes, e vistas na literatura como recorrentes vamos apresentar respostas que possam levá-las ao caminho do cuidado.
Sinto uma forte repulsa em relação a minha estomia. O que fazer?
Houve uma alteração anatômica importante no seu corpo e você precisará na medida do possível de adaptar a essa nova realidade. As pessoas reagem de formas diferentes diante dessa nova condição. Existem muitos cuidados que podemos te ensinar para que se possa ter uma vida normal, em sociedade. Vamos juntos trabalhar questões que traga sobre essa fase, seus anseios e preocupações. Você não está sozinha(o) e vamos vencer todas as dificuldades.
Posso usar minhas roupas? Aquelas que usava antes da cirurgia?
Sim, não haverá restrições para as roupas, o ideal é que sempre sejam confortáveis. Apenas indica-se que não haja pressão sobre o local da ostomia, ou seja, que não haja cinturação sobre a ostomia. No mais, fique livre para utilizar suas roupas e sair e se divertir, sendo necessário aprender algumas coisas relativas aos cuidados com a ostomia.
Como faço para evitar que a bolsa coletora fique balançando ou aparecendo no meu abdome? Parece que vai soltar, às vezes tenho vergonha!
Para cada pessoa, teremos uma solução para este problema, dependerá muito do local onde a ostomia se encontra. A melhor opção vai ser encontrada. Mas lembre-se: quando adoecemos e necessitamos de tal procedimento, podemos ver como uma limitação o uso de um dispositivo de eliminação. No entanto, muitas vezes o procedimento cirúrgico salva a vida dessas pessoas, sendo necessário uma adaptação. É importante olhar a vida como uma oportunidade única e breve, o que antes poderia ser irrelevante agora pode ser preterido. Mas somos seres resilientes por natureza e podemos nos adaptar e construir novas concepções de felicidade e bem-estar, o tempo todo. Por isso, seja forte e juntos vamos vencer essas preocupações.
O que eu vou fazer quando eu sair de casa?
Leve sempre o material para troca em uma bolsa ou mochila. Tenha em mãos lenços umedecidos ou pano limpo, bolsa coletora e base adesiva e clamp. Facilite as coisas em caso de necessidade de troca, por exemplo: leve a base adesiva já cortada. Tenha uma muda de roupa na bolsa. O que não poderá fazer é deixar de sair ou se divertir, a bolsa não vai alterar a beleza que você tem e não pode modificar seu sorriso, ou suas experiências na vida.
Posso realizar a prática de esportes?
Sim. Cada pessoa se recupera de uma forma e em seu tempo. É importante que, após a cirurgia, haja cicatrização para que se possa realizar a prática de esportes. Os esportes de contato são os que não são recomendados pelo risco de agressão a ostomia. Mas se forem praticados com adaptações podem ser realizados. O levantamento de peso pode provocar hérnias. Além disso, é recomendado o uso de cintas para manter a segurança das bolsas. Esportes aquáticos podem ser praticados devido a impermeabilidade das bolsas, mas lembre-se de esvaziá-las antes de nadar por exemplo ou de realizar a atividade física.
Vou poder trabalhar normalmente?
A maioria dos trabalhos podem ser realizados por pessoas ostomizadas. Após a cirurgia e recuperação/cicatrização, a pessoa pode voltar para as atividades laborais, com as mesmas orientações de se ir a qualquer local externo, levando equipamentos e roupas caso seja necessária troca da bolsa coletora ou esvaziamento.
Poderei viajar?
Após a liberação médica pós cirurgia não há impedimentos. Apenas é necessário planejar os equipamentos necessários de acordo com o tempo da viagem. Mas é importante lembrar que em uma viagem podem ocorrer imprevistos e por isso os materiais devem ser sempre colocados em maior número. Pois numa viagem pode ocorrer, na localidade dificuldade para compra de materiais ou aumento das atividades intestinais. è importante proteger os materiais do sol. Principalmente a bolsa coletora e a parte adesiva que em alta temperatura pode sofrer modificação.
Vou conseguir fazer sexo?
A atividade sexual pode ser retomada assim que ocorrer a cicatrização. Algumas medidas podem ser tomadas para que a pessoa se sinta mais segura. A faixa abdominal pode ser bem utilizada. O importante é manter a bolsa segura, lembrando que esta deve ser esvaziada antes do ato. Mas não deixe de tentar e conversar a respeito com seu parceiro. A vida continua e o sexo faz parte da vida, Devagar pode-se encontrar a melhor maneira para a realização de todas as atividades.
Bom, vimos algumas questões que podem alterar a saúde mental dos usuários, você pode sempre escolher a melhor forma de abordar os usuários do serviço de saúde que possuem ostomias. O período de adaptação vai requerer maior atenção dos profissionais de enfermagem e quando estes são jovens a atenção deve ser redobrada. A ansiedade e a depressão podem ser observadas nas fases iniciais então o monitoramento do paciente deve ser realizado de maneira constante e ativa. Marque consultas com pouco distanciamento temporal até que possa identificar que o usuário leva uma vida normal. Deixe o serviço de saúde sempre aberto para essas pessoas.
Referências bibliográficas:
1 – Almeida, AR.; et.al. Cuidado à saúde da criança estomizada: uma revisão integrativa da literatura. Pesquisa, Sociedade e Desenvolvimento , [S. l.] , 2020 9,(10), pág. e849108271,. DOI: 10.33448 / rsd-v9i10.8271.
2 – Citino, H.P.; et.al. Repercussões emocionais e processos adaptativos vividos por pessoas estomizadas. 2020; 57 (10); 3573-3584pp.
3 – Pereira Cirino, H., et.al. Repercussões emocionais e processos adaptativos vividos por pessoas estomizadas. Saúde Coletiva (Barueri), 2020, 10 (57), 3573–3596 pp. https://doi.org/10.36489/saudecoletiva.2020v10i57p3573-3596