De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), entende-se como uso racional de medicamentos quando o paciente, diante de sua condição clínica, recebe os medicamentos em doses adequadas às suas necessidades individuais por um período adequado e com menor custo para si e a comunidade.
Estima-se que mais da metade dos medicamentos prescritos, dispensados ou vendidos os são feitos de forma inadequada e além disso, metade dos pacientes não os utiliza de forma correta. O uso irracional de medicamentos é considerado um dos maiores problemas a nível mundial.
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O novo desafio global lançado em 2017 pela OMS intitulado “Medicação sem Danos” destacou as seguintes três áreas prioritárias como foco de ações para proteção de danos ao paciente relacionados ao uso de medicamentos: situações de alto risco (extremos de idades), transição do cuidado e polifarmácia.
São exemplos do uso irracional de medicamentos, tais como polifarmácia (muitos medicamentos utilizados pelo paciente), uso inadequado de antimicrobianos (dose inadequada, sem indicações clínicas), automedicação inapropriada, entre outros.
Polifarmácia
Para fins de definição, o conceito de polifarmácia abrange o uso rotineiro de quatro ou mais medicamentos simultâneos por um paciente, sejam prescritos, isentos de prescrição ou de medicamentos tradicionais.
A temática é de suma importância e por isso, no dia 5 de Maio comemora-se o Dia Nacional do Uso Racional de Medicamentos. A data foi criada em 1998 pelo Conselho Nacional de Entidades Estudantis de Farmácia para alertar à população sobre os riscos à saúde em caso do uso indiscriminado de medicamentos e pela prática de automedicação.
A Atenção Primária em Saúde (APS) é um ambiente que tem discutido a temática por meio do termo “Saúde baseada em evidências” a fim de garantir um tratamento adequado ao paciente e administrando de forma mais racional os recursos da saúde pública por meio de evidências científicas. Sabe-se que as Unidades de Saúde da Família (USF) são locais propícios para desenvolver ações de educação em saúde e esclarecer a população que há situações em que o “menos é mais”.
Diante do exposto, vale destacar que há uma campanha mundial chamada “Choosing Wisely” iniciada nos Estados Unidos em 2012, que aponta para o excesso de exames e tratamentos. A campanha estimula a participação do profissional de saúde e do paciente na conduta terapêutica, a fim de que a escolha da terapêutica seja sábia. Ademais, objetiva a orientação dos usuários sobre o excesso e como ele pode trazer mais prejuízos que benefícios à saúde. Nesse sentido, o uso excessivo de medicações pode provocar efeitos adversos e levar a problemas de saúde mais graves aos usuários.
É importante destacar que, são necessárias mudanças da mentalidade dos profissionais da saúde e dos usuários a fim de garantir o uso racional de medicamentos. Outro fator necessário é o diálogo com o setor privado a fim de que os conflitos de interesses políticos e econômicos não interfiram na escolha terapêutica do indivíduo.
Como estratégias para melhorias no uso de medicamentos no âmbito da atenção primária evidenciam-se a implementação de protocolos clínicos e terapêuticos, ações de educação continuada dos profissionais envolvidos na prescrição, armazenamento, dispensação e administração de medicamentos, utilização de recursos de tecnologia da informação, realização da conciliação medicamentosa, padronização de medicamentos de aspecto e nomes parecidos e promoção de medidas de segurança.
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Um estudo com o objetivo de analisar o uso racional de medicamentos na APS a partir dos indicadores preconizados pela OMS (prescrição, serviço ou assistência) identificou que nenhum atendeu plenamente as recomendações, revelando práticas de uso irracional de medicamentos nesse cenário.
Em suma, a polifarmácia é considerada como um marcador de risco. Ou seja, quanto maior o número de medicamentos utilizado pelo indivíduo, maior deve ser a prioridade nas estratégias individuais e coletivas com enfoque na prevenção e busca ativa de danos associados ao uso de medicamentos.
Autores(as):
Mariana Marins:
Enfermeira, especialista em saúde da família. Mestre em educação pela Universidade Federal Fluminense. Experiência na gestão de unidade básica de saúde no Município do Rio de Janeiro e atualmente Gestora em Saúde no Município de Maricá.
Camila Tenuto:
São exemplos do uso irracional de medicamentos, tais como polifarmácia (muitos medicamentos utilizados pelo paciente), uso inadequado de antimicrobianos (dose inadequada, sem indicações clínicas), automedicação inapropriada, entre outros.