Acondroplasia: integralidade nos cuidados à saúde e acessibilidade social

A acondroplasia (AC) é considerada uma das mais frequentes osteocondrodisplasias (displasia esquelética – DE) entre os recém-nascidos vivos.

Este conteúdo foi produzido pela PEBMED em parceria com BioMarin de acordo com a Política Editorial e de Publicidade do Portal PEBMED.

A acondroplasia (AC) é considerada uma das mais frequentes osteocondrodisplasias (displasia esquelética – DE) entre os recém-nascidos vivos¹. Sua prevalência é estimada em um a cada 25.000 nascidos vivos². Entretanto, compartilha juntamente às doenças relacionadas ao COL2A1, osteogênese imperfeita, doenças metafisárias do osso, entre outras, uma prevalência global de 3,5 a cada 10.000 nascimentos¹. Um terço das DE são consideradas muito graves e, na maioria dos casos, letal logo após ao nascimento³. 

A AC tem seu diagnóstico facilitado, tanto do ponto de vista radiológico como do ponto de vista molecular, pelo padrão radiográfico característico (Figura 1)4; assim como, por compartilhar uma única mutação do tipo ganho de função (G380R) no gene FGFR3 (fibroblast growth factor receptor-3)5 (Figura 2). 

acondroplasia

Figura 1 – (a) Principais aspectos radiológicos de uma criança com acondroplasia 5

img1_acondroplasia

Figura 2 – Eletroferograma ilustrando a mutação g.16084 (G380R) no gene responsável pela acondroplasia (FGFR3 – fibroblast growth factor receptor-3) (gentilmente cedido pelo Laboratório de Medicina Genômica – IFF/Fiocruz)4 11

img2_acondroplasia

É geralmente suspeitada na gravidez por conta do crescimento reduzido dos ossos longos; assim como, aumento do perímetro cefálico e polidramnia. Contudo, a avaliação neste período traz muitas incertezas prognósticas por conta da heterogeneidade da apresentação clínica e a letalidade de um terço das DE¹ ³. O parâmetro de gravidade é clínico e será avaliado caso-a-caso ao nascimento. 

A AC é conhecida pela baixa estatura desproporcional. No lactente e na criança, os membros curtos, a macrocefalia e hipermobilidade articular comprometem a biomecânica em geral e tendem a ter implicações nos marcos do desenvolvimento motor6. Assim como, a estenose do forame magno torna a medula cervical em nível da junção crânio-cervical vulnerável7 8. Em uma coorte de 39 crianças com AC avaliadas pela RMN entre 07 e 145 meses (mediana 29 meses) do serviço de neurocirurgia do IFF/Fiocruz, 25,6% apresentaram estenose da junção crânio cervical necessitando descompressão cirúrgica9. No grupo operado (7-77 meses; mediana 24 meses), se apresentava com hiperreflexia, Babinski e perda da força muscular; recuperando-se pós-cirurgia. Apenas 2,5% da amostra apresentou hidrocefalia9. O quadro 1 resume o impacto das principais complicações no tempo de vida da AC10-16.

Quadro 1 – Impacto das complicações no tempo de vida na acondroplasia 6 12-15

img3_acondroplasia 

A desproporção esquelética na AC gera muitas barreiras em sua qualidade de vida (e.g. higiene pessoal) e acessibilidade17 18 19. De igual importância, questões voltadas à sexualidade, autoestima e estigmatização social tornam-se relevantes nas diferentes faixas etárias20 21. 

Os métodos terapêuticos voltados para a AC envolvem minimizar as complicações do ouvido, nariz e orofaringe; sistema nervoso central; membro inferior, quadril e dorso; e, cardio-respiratório10 12 13 15 19.   Há procedimentos cirúrgicos disponíveis, como o alongamento ósseo 22; e, terapias medicamentosas, como o uso do hormônio do crescimento 23; os resultados terapêuticos são satisfatórios, porém limitados a minimizar somente a baixa estatura. Mais recentemente, um medicamento está em fase final de avaliação por autoridades sanitárias internacionais24. Trata-se do peptídeo natriurético do tipo C atuando na via celular do receptor FGFR3 11. Promissor nos ensaios clínicos, atua inibindo a via FGFR3; a mutação genética com ganho de função da via celular inibe a síntese da matriz óssea, diferenciação terminal e mitose no núcleo dos condrócitos. O novo medicamento atua “inibindo a inibição” produzida pela mutação; e, desta forma, libera os condrócitos a se diferenciarem nas placas de crescimento do osso 24. 

Por fim, há uma relação direta entre idade avançada paterna e a geração de mutações novas na linhagem germinativa; desta forma, doenças com herança autossômica dominante tendem a surgir pela primeira vez em famílias com pais saudáveis. É o caso da maioria dos AC25. O aconselhamento genético é necessário, especialmente para casais, ambos com acondroplasia e/ou outras combinações com DE, diante da letalidade do fenótipo clínico resultante da forma AC homozigota4. 

Referências bibliográficas: 

  1. Cavalcanti D, Fano V, Mellado C et al. Skeletal dysplsias in Latin America. Am J Med Genet C Semin Med Genet  2020; 184(4): 986-995. 
  2. Wynn J, King TM, Gambello MJ, et al. Mortality in achondroplasia study: A 42- tear follow-up. American Journal of Medical Genetics, Part A. 2007;143(21):2502- 2511.
  3. Savoldi A, Villar MAM, Novaes H, Llerena Jr JC. Fetal skeletal lethal dysplasia: Case report. Rev. bras. ginecol.obstet 2017; 39(10): 576-582.
  4. Gomes MES, Kanazawa TY, Riba FR et al. Novel and Recurrent Mutations in the FGFR3 Gene and Double Heterozygosity Cases in a Cohort of Brazilian Patients with Skeletal Dysplasia. Mol Syndromol 2018; 9(2): 92-99.  doi: 10.1159/000486697.
  5. Gaillard F, Sheikh Y. Achondroplasia.Reference article, Radiopaedi.org (acessed 07 Nov 2021). https://radiopaedia.org/articles/837.
  6. Pauli RM. Achondroplasia:a comprehensive clinicalreview. Orphanet Journal of Rare Diseases 2019; 14: 1. doi.org/10.1186/s13023-018-0972-6
  7. White KK, Bompadre V, Goldberg MJ et al. Best practices in the evaluation and treatment of foramen Magnum stenosis in achonroplasia during infancy. Am J Med Genet 2016; 170(1): 42-51. doi.org/10.1002/1jmg.a.37394 
  8. Unger S, Bonafé L, Gouze E. Current care and investigational therapies in achodroplasia. Cur. Osteoporos Res 2017; 15(2): 53-60. Doi: 10.1007/s11914-017-0347-2 
  9. Alves FA. Acondroplasia e suas implicações neurocirúrgicas em uma série de casos pediátricos. Rio de Janeiro. Tese [Mestrado em Ciências da Saúde] – Instituto Oswaldo Cruz; 2018
  10. Hecht JT. Handbook of Clinical Neurology 2014; 119: 551-563.
  11. Horton WA, Hall JG, Hecht JT. Achondroplasia. Lancet. 2007; 370:162-172.
  12. Hunter AGW, Bankier A, Rogers JG, et al. Medical complications of achondroplasia: a multicentre patient review. J Med Genet. 1998; 35:705-712. 
  13. Ireland PJ, Pacey V, Zankl A, Edward P, Johnston LM, Savarirayan R. Optimal management of complications associated with achondroplasia. Appl Clin Genet. 2014; 7:117–25.  
  14. Simmons K, Shahrukh S, Scheurle A et al. Mortality in babies with achondroplasia: Review. Clinical and Molecular Teratology. Birth Defects Research (Part A) 2014; 100:247–249. 
  15. Trotter TL, Hall JG. Health supervision for children with achondroplasia. Pediatrics. 2005; 116:771–81. 
  16. Horton WA, Hall JG, Hecht JT. Achondroplasia. Lancet. 2007; 370:162–72. 
  17. Pritchard E. The spatial experiences of dwarfs within public spaces. Scandinivian Journal of Disability Research 2016, 18(3):191-199. doi.org/10.1080/15017419.2015.1063542 
  18. Zero Project. Acessibility. Zero Project Report, 2018 
  19. Pfeiffer KM, Brod M, Smith A, Gianettoni J, Viuff D, Ota S, Charlton RW. Assessing physical symptoms, daily functioning, and well-being in children with achondroplasiaVolume185, Issue1 January 2021 Pages 33-45 
  20. EURORDIS Rare Disease in Europe. The voice of rare disease in Europe. 2021. www.eurordis.org 
  21. Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos. Promoção de direitos de crianças e adolescentes com acondroplasia ou nanismo. Brasília. Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos.2021. 
  22. Daisuke Harada D, Noriyuki NambaN, Yuki Hanioka Y, Ueyama K, Sakamoto N, Nakano Y, Izui M, Nagamatsu Y, Kashiwagi H, Yamamuro M, Ishiura Y, Ogitani Y e Seino Y. Final adult height in long-term growth hormone-treated achondroplasia patients. Eur J Pediatr (2017) 176:873–879 DOI 10.1007/s00431-017-2923-y  
  23. Matsushita M, Kitoh H, Mishima K, Yamashita S, Haga N, Fujiwara S, Ozono K,  Kubota T, Kitaoka T, Ishiguro N. Physical, Mental, and Social Problems of Adolescent and Adult Patients with Achondroplasia. Calcified Tissue International (2019) 104:364–372 https://doi.org/10.1007/s00223-019-00518-z 
  24. Savarirayan R, Irving M, Bacino CA, Bostwick B, Charrow J, Cormier-Daire V, Sang K-H LQ, Dickson P, Harmatz P, Phillips J, Owen N, Cherukuri A, et al. C-Type Natriuretic Peptide Analogue Therapy in Children with Achondroplasia. N Engl J Med 2019; 381:25-35.  DOI: 10.1056/NEJMoa1813446 
  25. Toriello HV, Meck JM. Statement on guidance for genetic counselling in advanced paternal age. Genet Med2008; 10 (6): 457-460. 

Avaliar artigo

Dê sua nota para esse conteúdo

Selecione o motivo:
Errado
Incompleto
Desatualizado
Confuso
Outros

Sucesso!

Sua avaliação foi registrada com sucesso.

Avaliar artigo

Dê sua nota para esse conteúdo.

Você avaliou esse artigo

Sua avaliação foi registrada com sucesso.

Baixe o Whitebook Tenha o melhor suporte
na sua tomada de decisão.