ACP 2023: O que fazer frente a uma emergência médica em um voo?

O Dr. Jason Napolitano (UCLA) apresentou um tema interessante no ACP 2023: como agir em uma emergência médica em um voo.

No segundo dia do congresso do American College of Physicians (ACP 2023), uma das primeiras palestras do dia foi do Dr. Jason Napolitano (UCLA) com um tema interessante e talvez pouco usual da prática clínica e mesmo da educação médica: o que fazer frente a uma emergência médica em um voo? Estamos habilitados para prestar socorro? quais aspectos devemos nos atentar mais? 

aviao

Fisiologia

Em primeiro lugar, é necessário entender alguns conceitos físicos. A cabine de uma nave comercial é pressurizada em níveis próximos aos de uma altitude de cerca de 1500-2500 m acima do nível do mar. Nessas condições, ar e gases corporais tendem a expandir em proporção à redução na pressão, o que pode por exemplo, gerar expansão de gases intestinais em cerca de 30%. Normalmente isso não causará problemas, mas isso pode causar problemas a pacientes submetidos recentemente a cirurgias abdominais, onde anastomoses podem ficar mais sujeitas a leaks, por exemplo.  

Ainda, esse ambiente hipobárico pode gerar hipoxemia, sobretudo em pacientes com DPOC grave. Há em média uma queda na PaO2 de 25 mmHg. Os mesmos podem desenvolver descompensações em voos, havendo dispnéia e até mesmo insuficiência cardíaca direita. 

Quem pode necessitar de O2 suplementar durante o voo? 

  • Pacientes com PaO2 < 70 mmHg a nível do mar podem necessitar;
  • Pacientes com dispneia mMRC > 2 (após avaliações complementares como 6m walking test com queda de Spo2 para menos de 84%)
  • Spo2 < 95% em ar ambiente 

É preciso solicitar com antecedência para a empresa aérea providenciar. Sempre importante atentar para o risco de hipercapnia. 

Ainda, é importante salientar as contraindicações clínicas a uma viagem de avião, como: 

  • Cardiovascular: Arritmias descompensadas, IC descompensada, IAM < três semanas, angina instável;
  • Respiratórios: Efusão pleural grande, pneumotórax há menos de três semanas, DPOC exacerbada ou com PaO2 < 70 mmhg em ar ambiente ao nível do mar;
  • Outros: Gestante com mais de 35 semanas, anemia com Hb < 8,5 mg/dL.

Air Rage

Curioso: algo que frequentemente requer auxílio médico é uma situação chamada “air rage” (uma espécie de “raiva do voo”), onde um passageiro tem sintomas de agressividade, necessitando até mesmo de sedação química. É sempre importante atentar que grande parte desses pacientes ingeriram álcool e se atentar com o risco de interação de sedativos como benzodiazepínicos e álcool. 

Estar preparado a uma emergência: o que encontraremos e o que temos à disposição?

1) As emergências mais comuns: 

O Top 5 dos sintomas e emergências mais comuns são: 

  • Síncope ou pré síncope: 37,4% 
  • Sintomas respiratórios: 12,1% 
  • Náuseas ou vômitos: 9,5% 
  • Sintomas cardíacos: 7,7% 
  • Convulsões: 5,8%  

2) O que temos disponível 

  • Sempre toda a equipe de tripulação deve estar preparada para emergências e a decisão final de pousar acaba recaindo sobre o capitão.
  • Lembrar que hoje existem equipes de suporte médico na superfície que podem auxiliar mediante contato com a nave, via telefone ou rádio.

No kit de emergência, em geral, encontramos: 

  • Esfigmomanômetro 
  • Estetoscópio 
  • Luvas 
  • Vias aéreas orofaríngeas 
  • Bolsa-válvula-máscara 
  • Máscaras para PCR 
  • Kits para administração de medicações EV 
  • Solução salina 500 ml 
  • Agulhas, seringas 
  • Medicações padrão:  
  • Analgésicos, antihistamínicos injetáveis, aspirina, atropina, broncodilatadores inalatórios, dextrose 50%, epinefrina, lidocaína EV e nitroglicerina – Todas essas medicações são exigidas (pelo menos pelo governo dos EUA).

*Reparar que não há oxímetros, mas é comum que algum passageiro tenha trazido, ainda mais após a pandemia de covid-19. Também não há disponível antídotos como naloxona. 

Por fim: Como organizar um checklist mínimo para cumprirmos todas as etapas de um atendimento seguro (para o paciente e para o médico)? 

Conduta sugerida para emergências médicas em voos:

  • Se apresentar e anunciar suas qualificações médicas; 
  • Pedir permissão ao passageiro para o auxiliar, se possível; 
  • Pedir para a tripulação acesso ao kit médico e ao DEA, se necessário; 
  • Usar um intérprete de língua se necessário (atentar para a privacidade do paciente); 
  • Obter história e exame físico direcionados; 
  • Administrar tratamentos que estejam dentro do seu escopo de habilidades e qualificações, com o paciente permanecendo sentado em seu assento, quando possível; 
  • Recomendar o desvio/pouso do voo se a condição identificada for crítica; 
  • Se comunicar e coordenar com a equipe médica de suporte (do solo) da companhia aérea; 
  • Fornecer o cuidado médico até que o paciente esteja estável ou transferido a outro médico ;competente 
  • E sempre documentar o ocorrido!

Confira aqui a cobertura completa do ACP 2023!

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