ACR 2022: Artrite reumatoide, espondiloartrites, lúpus, esclerose e miopatias

Neste texto trataremos dos principais estudos apresentados no ACR Convergence 2022, o maior evento de reumatologia mundial.

O Congresso Americano de Reumatologia (ACR Convergence 2022) é o maior evento de reumatologia mundial e recebe inúmeros trabalhos originais de todas as regiões do mundo. Dessa forma, é sempre uma oportunidade de avaliar as principais direções para as quais a evolução científica está caminhando. Confira alguns dos principais estudos apresentados no evento.

ACR 2022 Artrite reumatoide, espondiloartrites, lúpus, esclerose e miopatias

Artrite reumatoide

Tratamento da AR: houve publicação de um grande número de trabalhos demonstrando a eficácia e segurança do filgotinibe, um inibidor da JAK ainda não disponível no Brasil. Além disso, foram apresentados dados de estudos de extensão com o baricitinibe e upadacitinibe, que não demonstraram novas preocupações em relação ao seu perfil de segurança. Um estudo brasileiro realizou uma revisão sistemática com metanálise em rede comparando o risco de eventos cardiovasculares maiores e morte por todas as causas em pacientes em uso de iJAK ou tocilizumabe vs. anti-TNF; os autores concluíram que existe uma probabilidade significativa de que os iJAK aumentam o risco de eventos cardiovasculares e morte por todas as causas comparados com o placebo, e que o tocilizumabe parece se associar com um maior risco de morte quando comparado com o anti-TNF.

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Espondiloartrites

Tratamento das espondiloartrites axiais: foram apresentados estudos demonstrando a eficácia do tofacitinibe, ixequizumabe e bimequizumabe no tratamento das espondiloartrites axiais.

Tratamento da artrite psoriásica: foram apresentados mais dados demonstrando a eficácia do guselcumabe e tofacitinibe no tratamento da artrite psoriásica.

Lúpus eritematoso sistêmico

Adesão à hidroxicloroquina: é bastante conhecido que a hidroxicloroquina é um medicamento obrigatório no tratamento dos pacientes com LES sem contraindicação. Nguyen et al. conduziram um estudo interessante que avaliou a má adesão a essa medicação na coorte do SLICC, uma das mais importantes do mundo. Eles encontraram que a má adesão se associou com um risco aumentado de flare (RR 3,32, IC 95% 1,78-6,28), maior acúmulo de dano (RR 1,92 em 3 anos, IC 95% 1,05-3,50) e aumento de mortalidade (RR 5,41, IC 95% 1,43-20,39).

Voclosporina: foram apresentados diversos trabalhos relativos à eficácia da voclosporina, um inibidor da calcineurina ainda não disponível no Brasil. Os estudos vêm demonstrando sua eficácia em pacientes com nefrite lúpica e proteinúria nefrótica.

Síndrome antifosfolípide

Neste congresso, apresentamos dois trabalhos conduzidos em nossa população brasileira. No primeiro, demonstramos o potencial impacto negativo da presença de apneia do sono em pacientes com SAF.

No segundo, avaliamos prospectivamente 135 pacientes com SAF primária, com seguimento de 5,5 anos, e identificamos que a presença de diabetes mellitus no baseline aumentou o risco de recorrência trombótica em 3 vezes. Além disso, 60% das tromboses ocorreram com INR no alvo programado.

Esclerose sistêmica

Progressão de doença intersticial pulmonar: um estudo que avaliou a doença intersticial em pacientes com esclerose sistêmica identificou que sexo masculino, níveis de KL-6 elevados no baseline e gravidade da doença do refluxo se associaram com piora da pneumopatia intersticial. Eu trouxe esse estudo justamente para relembrar que a DRGE, extremamente frequente nesses pacientes, pode agravar o quadro pulmonar e deve ser lembrada sempre que o paciente apresentar uma piora dos sintomas respiratórios.

Saiba mais: Toxina botulínica no tratamento do fenômeno de Raynaud relacionado à esclerose sistêmica é eficaz?

Miopatias inflamatórias sistêmicas

Guidelines para o rastreamento neoplásico nas miopatias inflamatórias idiopáticas (Oldroyd, et al.):

Nesse trabalho, foi seguida a metodologia de Delphi para definição de estratégias de rastreamento neoplásico nos pacientes com miopatias inflamatórias. O resultado final foi:

  • Fatores de risco
    • Alto risco: idade > 40 anos, dermatomiosite, positividade para anti-TIF1-gama e para anti-NXP2, atividade de doença persistente apesar do tratamento, disfagia moderada a grave e necrose cutânea;
    • Risco moderado: sexo masculino, polimiosite, miopatia clinicamente amiopática, polimiosite, miopatia necrosante imunomediada, positividade para anti-SAE-1, anti-HMGCR, anti-Mi, anti-MDA5;
    • Baixo risco: síndrome antissintetase, síndromes de overlap, anti-SRP, anti-Jo1, anticorpos miosite-associados (PM-Scl, Ku, RNP, Ro, La), fenômeno de Raynaud, artropatias inflamatórias, doença intersticial pulmonar.
  • Modalidades de rastreamento, conforme sexo e idade:
    • Básico: hemograma, VHS, PCR, hepatograma, eletroforese de proteínas, EAS, radiografia de tórax
    • Estendido: TC de tórax, abdome e pelve, mamografia, Papanicolau, PSA, colonoscopia (autores recomendaram sangue oculto, mas a colonoscopia tem melhor rendimento), considerar USTV.
  • Recomendações:
    • Alto risco (≥ 2 fatores de alto risco): rastreamento básico e estendido no momento do diagnóstico e básico nos anos 1, 2 e 3;
    • Risco intermediário (≥ 2 fatores de risco moderados ou 1 fator de alto risco): rastreamento básico e estendido no diagnóstico;
    • Baixo risco (apenas fatores de baixo risco): rastreamento básico no diagnóstico.

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Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo
  • ACR Convergence 2022 Abstract Supplement. Arthritis Rheumatol. 2022 Sep;74 Suppl 9. DOI: 10.1002/art.42355.