ESC 2023: Anticoagular pacientes com arritmias frequentes reduz eventos?

Pessoas saudáveis podem registrar arritmias como resposta a estímulos como: Excesso de álcool no organismo e altas doses de cafeína.

Pacientes com fibrilação atrial (FA) tem benefício em utilizar anticoagulantes para prevenção de eventos tromboembólicos e há dúvida na literatura se há benefício em anticoagular pacientes com episódios de arritmias atriais frequentes. Essa arritmia também tem associação com eventos embólicos, principalmente acidente vascular cerebral (AVC), porém com risco menor que na FA. Alguns médicos optam por anticoagular esses pacientes, principalmente na presença de outros fatores de risco associados, e atualmente a recomendação é de individualizar essa decisão de acordo com cada pacientes. Foi feito então o estudo NOAH-AFNET 6, apresentado nesta sexta-feira (25) no congresso da European Society of Cardiology, com objetivo de avaliar eficácia e segurança da anticoagulação em pacientes com arritmias atriais frequentes. 

Saiba mais: Trombose na síndrome do anticorpo antifosfolípide (SAF) e novos anticoagulantes

Anticoagular pacientes com extrassístoles atriais frequentes reduz eventos?

Métodos do estudo  

Foi um estudo duplo cego, multicêntrico, randomizado, que incluiu pacientes com 65 anos ou mais que tinham episódios de arritmias atriais frequentes documentadas por dispositivos cardíacos implantáveis, como marcapasso, desfibrilador ou ressincronizador ou ainda looper com capacidade de monitorização de longo prazo.  

Os pacientes incluídos deveriam ter arritmia com frequência atrial de pelo menos 170 batimentos por minuto (bpm) e duração mínima de 6 minutos associados a pelo menos um dos fatores de risco a seguir: insuficiência cardíaca, hipertensão, diabetes, AVC ou AIT prévios, doença vascular ou idade ≥ 75 anos. Os critérios de exclusão eram os pacientes com FA documentada em eletrocardiograma (ECG), síndrome coronariana aguda, angioplastia ou cirurgia cardíaca recentes, baixa expectativa de vida, contraindicação a anticoagulação, indicação de dupla antiagregação plaquetária.  

Os pacientes foram divididos nos grupos anticoagulação, que usou edoxabana (60mg 1x ao dia ou 30mg 1x ao dia quando peso ≤ 60 kgs, clearance de creatinina entre 15 e 50 ou uso associado de inibidor da glicoproteína P), e sem anticoagulação, que utilizou placebo ou aspirina 100mg 1x ao dia (quando havia indicação de antiagregação). 

O desfecho primário foi composto por primeira ocorrência e morte cardiovascular, AVC ou embolia sistêmica e o desfecho de segurança foi composto por sangramento maior e mortalidade por todas as causas. 

Resultados 

Os 2536 pacientes avaliados eram idosos (idade média 78 anos) e tinham múltiplos fatores de risco para AVC. A idade média foi 78 anos, 38% eram mulheres e mediana do CHA2DS2-VASc era 4. A mediana de duração das arritmias atriais foi de 2,8 horas, e 97% tinham frequência atrial maior que 200bpm, lembrando a FA. Aproximadamente metade dos pacientes do grupo sem anticoagulação fez uso de aspirina. 

O estudo parou precocemente (seguimento médio de 21 meses) por questões de segurança e tendência de futilidade. O desfecho primário ocorreu em 83 pacientes no grupo anticoagulação (3,2%/ano) e 101 pacientes no grupo sem anticoagulação (4,0%/ano), com HR 0,81 (IC95% 0,6-1,1; p = 0,15) e a taxa de AVC foi baixa nos dois grupos. O desfecho primário de segurança ocorreu em 149 pacientes no grupo anticoagulação (5,9%/ano) e em 114 (4,5%/ano) no grupo sem anticoagulação, com HR de 1,3 (IC95% 1,0-1,7; p = 0,03), principalmente as custas de sangramento maior (HR 2,1; IC95% 1,30-3,38, p = 0,002). FA foi diagnostica pelo ECG em 18% dos pacientes. 

Leia também: Manejo de sangramento em pacientes que utilizam anticoagulantes orais diretos

Comentários e conclusão 

A anticoagulação de pacientes comarritmias atriais frequentes com edoxabana aumentou sangramento e não levou a redução de eventos. Apesar de ocorrência de AVC ter sido menor que a esperada, mesmo incluindo pacientes de alto risco, este estudo mostrou que não devemos anticoagular pacientes com arritmias atriais frequentes na ausência de FA documentada. Não temos certeza se esses resultados podem ser extrapolados para os outros DOAC, sendo interessante mais estudos para confirmar esses resultados.  

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