Recentemente, um artigo publicado no The Lancet Regional Health Americas avaliou uma lacuna no conhecimento sobre a associação entre a duração do Intervalo Entre Gestações (IEG) com ou sem resultados perinatais adversos anteriores e o risco de recorrência de desfechos como ter um filho Pequeno Para a Idade Gestacional (PIG), Parto Pré-termo (PPT) ou Baixo Peso ao Nascer (BPN).
Métodos
Foram elegíveis 4.788.279, de uma coorte brasileira de nascimentos entre 2001 e 2015 composta por 24.695.617 nascidos vivos. Os critérios de elegibilidade foram mulheres entre 14 e 50 anos, com pelo menos dois nascidos vivos consecutivos, gestações únicas e idades gestacionais entre 22 e 43 semanas. O IEG foi classificado como o tempo calculado em meses entre o nascimento e a gravidez subsequente.
Foi definido PIG (percentil abaixo de 10), PPT como o parto abaixo de 37 semanas e BPN com peso < 2.500 gramas. Foram examinadas a associação entre o intervalo das gestações e cada desfecho na gestação subsequente comparado a população geral e estratificado pelos desfechos PIG, BPN, PPT, após foi realizado um modelo de regressão logística ajustado pelas covariáveis maternas e fetais.
Os riscos absolutos foram estimados a partir do modelo de regressão logística e razões de risco (RR) com intervalos de confiança (IC) de 95%.
Leia também: Associação entre diabetes mellitus gestacional e infecções na gravidez
Resultados
Foram incluídas 3.804.152 mulheres e 4.788.279 intervalos. Destes 1.871.449 (39,1%) possuíam duração entre 23 e 58 meses, enquanto 5,6% tiveram duração extrema (< 6 meses) e 1,6% (> 120 meses).
O RR de PIG e BPN para IEGs < 6 meses foi maior para mulheres sem resultados adversos prévios (PIG: 1,44 [(IC) de 95%: 1,41–1,46]; BPN: 1,49 [1,45–1,52]) em comparação com aquelas com três desfechos adversos anteriores (PIG: 1,20 [1,10–1,29]; BPN: 1,24 [1,15–1,33]). IEGs > 120 meses foram associados a maiores aumentos no risco de BPN e PPT entre mulheres sem desfechos de parto anteriores (BPN: 1,59; [1,53–1,65]; BPN: 2,45 [2,39–2,52]) em comparação com mulheres com três desfechos adversos no índice de nascimento (BPN: 0,92 [0,78–1,06]; BPN: 1,66 [1,44–1,88]).
Discussão
O estudo encontrou riscos aumentados de PIG, BPN, PPT após IEG < 6 meses, sendo maiores em mulheres com resultados adversos anteriores. IEG > 120 meses foram associados a riscos aumentados apenas de PPT e BPN que persistiram após estratificação dos resultados adversos. Essas descobertas corroboram o que os estudos anteriores trazem.
Algumas descobertas mereceram discussão, como diminuição do risco de PIG após longos IEGs o que pode ser justificado por prevalência maior de problemas de saúde como diabetes e obesidade que podem levar a fetos grandes para a idade gestacional.
Limitações como o uso de métodos contraceptivos, intenção de engravidar, tabagismo, doenças maternas, uso de drogas na gravidez não estavam disponíveis e podem causar um viés e limitar a extrapolação dos resultados e cálculos do IEG.
Saiba mais: Progesterona vaginal em gestações gemelares para prevenir prematuridade
Conclusão
Os resultados sugerem riscos absolutos mais elevados de PIG, BPN, TPP subsequentes em mulheres com ocorrências anteriores, independentes da duração do intervalo, com riscos de desfechos desfavoráveis.
IEG inferiores a 6 meses associam a aumento de riscos para os três desfechos. Em contraste os IEG maior que 120 meses foram associados ao aumento dos riscos de TPP e BPN, mas diminuição de risco de PIG.
Medidas como planejamento familiar, uso de métodos contraceptivos podem modificar esses fatores de risco. Vale lembrar que a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda aguardar entre os partos pelo menos 24 meses, após um nascimento vivo.