Associação entre episódios de depressão e dieta vegetariana

Um estudo investigou a associação entre dieta vegetariana e a maior prevalência de episódios depressivos na população adulta brasileira.

Dietas são os temas mais atuais e difundidos no meio da nossa sociedade, cada dia surgindo novos e diferentes tipos. Não estão somente relacionadas a perda de peso mas também a uma melhora de qualidade de vida com uma busca por uma alimentação mais saudável e consequentemente um corpo com mais saúde. Porém muitas dietas são realizadas sem a orientação de profissionais capacitados e em determinadas situações, algumas podem até serem mais prejudiciais do que benéficas, principalmente em se tratando de déficit de determinados nutrientes e faixa etária da população.

As dietas vegetarianas e veganas estão no alvo de muitos estudos, principalmente por estarem bastante difundidas na população adolescente e adultos jovens e em alguns núcleos familiares, introduzidas ainda na primeira infância. Sabe-se que a ingesta de carne é bastante benéfica de forma nutricional e a sua carência na dieta pode levar a algumas alterações fisiológicas, apesar de haver outros componentes que podem substituir a carne, muitas vezes é difícil alcançar a quantidade proteica diária necessária.

Em relação a alterações cognitivas como a depressão, não existe um vínculo concreto e exato, porém alguns estudos vem demonstrando uma certa relação.

A depressão é uma das doenças mentais mais comuns da atualidade, sendo líder em promover incapacidades físicas, sociais e laborativas. De acordo com a OMS, é estimado que no Brasil haja uma incidência de 6% da população brasileira, em um total de 11,5 milhões de pessoas com depressão. A razão para o desenvolvimento de depressão ainda não está totalmente identificada, porém alguns estudos como o do Barros et al., 2017 e Wang et al., 2019 e Secretti et al., 2019 correlacionam o desenvolvimento de depressão com estilo de vida e alimentação.

Um estudo realizado pela ELSA-Brasil (Estudo Longitudinal de Saúde no Adulto), em relação ao consumo de carne vermelha e de carnes processadas, resistência a insulina e diabetes, demonstrou uma associação entre consumo de carne vermelha e saúde dos participantes. Porém ainda há uma grande divergência entre outros estudos como por exemplo: Lavallee et al., 2019 em uma larga análise demonstrou que dieta vegetariana não apresentava alterações cognitivas em relação a depressão na população americana, russa e alemã, porém apresentava um índice alto de ansiedade e depressão na população chinesa estudada. Outro estudo realizado por Hibbeln et al., 2018, demonstrou que homens que se consideravam vegetarianos apresentavam mais sinais de depressão dos que com dieta omnívora.

Em um larga análise (Dobersek et al., 2021) com 18 estudos comparativos, 11 demonstraram maior incidência de casos de depressão, ansiedade, auto agressão e alteração de humor em pacientes que não consumiam carnes. Porém nenhum desses estudo levou em consideração a população latina.

O presente estudo realizado pelo ELSA Brasil teve como objetivo investigar a associação entre dieta vegetariana e a maior prevalência de episódios depressivos na população adulta brasileira, onde a falta de ingesta de carne e a consequente pobreza nutricional possa desencadear episódios de depressão.

Hipertensão

Estudo

O estudo em questão foi uma análise seccional baseada em informações de bancos de dados do ELSA-Brasil, incluindo 14.216 brasileiros entre 35 e 74 anos. A dieta vegetariana foi identificada mediante um questionário específico e uma entrevista clínica direcionada (Clinical Interview Schedule-Revised (CIS-R) ) serviu como instrumento para identificar padrões depressivos de comportamento. A dieta vegetariana foi definida como ingesta “nunca ou quase nunca” de qualquer tipo de carne, como carne vermelha, porco, frango, peixes e frutos do mar. Algumas variáveis sociais foram ajustadas como estilo de vida, atividade física, padrão sócio econômico, tabagismo, entre outros.

Resultados

Nesse estudo foi encontrado uma relação bastante significativa entre a falta de ingesta de carne e episódios de depressão, sendo que os episódios depressivos foram encontrados duas vezes mais em indivíduos vegetarianos do que nos indivíduos que se alimentavam de carne regularmente. A razão de prevalências, no modelo bruto, variou de 2,05 (IC95% 1,00– 4,18) e no modelo amplamente ajustado, 1,93 (IC95% 1,03 – 3,59).

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Conclusão

Apesar de a dieta vegetariana ser certamente vinculada a uma melhor qualidade de saúde física, com redução de peso, diminuição da resistência à insulina, menor risco de desenvolvimento de doenças crônicas, doenças cardiovasculares, hipertensão, diabetes entre outras, a depleção de certos nutrientes cronicamente na dieta, podem levar a uma alteração na proporção dos macronutrientes. O fato de a depressão ainda não ter uma fisiopatologia certamente definida, com várias causas e o fato de alguns estudos demonstrarem uma maior incidência de depressão e alterações mentais relacionadas a dieta, pode-se dizer que a população que decide implementar o veganismo ou a dieta vegetariana como base da sua alimentação, pode sim apresentar episódios de depressão. Sendo assim, é importante que profissionais de saúde que tratam de saúde mental tenham em mente que a alimentação também pode estar fazendo parte direta do desenvolvimento de quadros depressivos nos seus pacientes.

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Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo
  • Kohl IS,et all.Association between meatless diet and depressive episodes: A cross-sectional analysis of baseline data from the longitudinal study of adult health (ELSA-Brasil). Journal of Affective Disorders.Volume 320, 1 January 2023, Pages 48-56. doi: https://doi.org/10.1016/j.jad.2022.09.059