Restrospectiva 2022: os estudos que marcaram o ano na psiquiatria

Os principais estudos do ano trataram sobre esquizofrenia, depressão e transtornos, como abuso de álcool e TDAH.

A psiquiatria também teve destaque no ano de 2022. Alguns estudos trouxeram novidades e novas fronteiras para o tratamento psiquiátrico. Confira!

Estimulação magnética transcraniana

O tratamento de sintomas negativos da esquizofrenia é um grande desafio na prática clínica, com intervenções medicamentosas demonstrando um efeito pífio ou nulo. Apesar disso, estes sintomas são grandes responsáveis por uma piora na qualidade de vida e na funcionalidade dos pacientes.

Uma meta-análise em rede de 48 ensaios clínicos randomizados comparando vários protocolos de estimulação cerebral não invasiva (NIBS, do inglês non-invasive brain stimulation) com placebo ativo entre mais de 2200 pacientes com esquizofrenia, evidenciou que protocolos excitatórios no córtex pré-frontal dorsolateral estão associados com redução dos sintomas negativos.

Neuroestimulação

Um ensaio clínico randomizado, duplo-cego, paralelo, controlado com tratamento falso (pacientes do grupo controle receberam o mesmo dispositivo e eram submetidos a uma intervenção que mimetizava sensações táteis comumente relatadas na intervenção) foi realizado para avaliar a eficácia e segurança da estimulação transcraniana por corrente contínua (ETCC) realizada em casa para o tratamento de sintomas de desatenção em adultos com transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH).

64 adultos com TDAH participaram do estudo, recebendo 28 sessões diárias de ETCC, em casa, no córtex pré-frontal dorsolateral direito. Os pacientes que receberam ETCC apresentaram uma redução substancial na desatenção (34 vs 6%). Efeitos adversos leves, como cefaleia e hiperemia na pele foram relatados no grupo da intervenção.

Veja também: Mindfulness versus escitalopram no tratamento da ansiedade

Uso de psilocibina

Um ensaio clínico com 95 participantes com transtorno por uso de álcool que passaram por 12 semanas de terapia cognitivo comportamental e entrevista motivacional e foram randomizados para sessões de dois dias com psilocibina ou difenidramina. Ao longo de 32 semanas de seguimento, os participantes do grupo da psilocibina tiveram uma menor proporção de dias que beberam pesadamente (10 vs 24%) e média menor de drinks por dia (1,2 vs 2,3). Não houve efeitos adversos graves em nenhum dos grupos.

Um outro ensaio clínico duplo cego randomizado, envolvendo 233 pacientes, avaliou a dose aceitável, eficaz e segura de uma formulação sintética de psilocibina administrada conjuntamente com suporte psicológico em pacientes com episódio depressivo resistente ao tratamento. Foi realizada uma única sessão de administração de psilocibina com duração de 6 a 8h, onde os pacientes foram randomizados para grupos que receberiam uma dose de 25 mg, 10 mg ou 1 mg (controle), seguida de duas sessões de integração no dia 2 da aplicação e após 1 semana.

Os pacientes tratados com psilocibina apresentaram uma redução significativamente maior no escore da escala de depressão de Montgomery-Asberg (MADRS) na 3ª semana. Não houve diferença entre os grupos de 10 mg e 1 mg. No entanto, a resposta não foi sustentada e na 12ª semana não houve diferença estatisticamente significante entre os grupos.

Saiba mais detalhes do estudo aqui.

Uso de cannabis e cannabidiol

Foi realizada uma revisão sistemática nove ensaios clínicos e estudos de caso sobre o uso de cannabis em pacientes com transtorno do espectro do autismo (TEA). Alguns estudos evidenciaram redução do número e intensidade de diferentes sintomas, incluindo hiperatividade, automutilação e acessos de raiva, distúrbios do sono, ansiedade, inquietação, agitação psicomotora, irritabilidade, agressividade e depressão. Além disso, eles encontraram uma melhora na cognição, sensibilidade sensorial, atenção, interação social e linguagem.

Os efeitos adversos mais comuns foram distúrbios do sono, inquietação, nervosismo e alteração no apetite. Apesar dos achados promissores, são necessários estudos randomizados, cegos e placebo controlado para melhor elucidação dos efeitos da cannabis e do cannabidiol nos pacientes com TEA.

Veja também: Cannabis medicinal para transtornos psiquiátricos: o que temos de evidências?

Uso da testagem farmacogenética no tratamento de depressão resistente

Um ensaio clínico aberto, com aproximadamente 2000 pacientes, comparou os cuidados habituais com o uso da testagem guiando a escolha do antidepressivo para iniciar o tratamento. Apesar do grupo guiado por testagem ter prescrito um número maior de medicações com baixa interação farmacogenética, não houve diferença estatisticamente significante nas taxas de remissão após 24 semanas de seguimento.

TEPT e declínio cognitivo

O transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) é sabidamente associado com comprometimento de memória e atenção, mas um estudo prospectivo de mais de 12 mil mulheres com história de trauma prévio evidenciou que um alto número de sintomas de TEPT esteve associado com declínios no aprendizado, memória de trabalho, habilidades psicomotoras e atenção ao longo de 24 meses, mesmo quando ajustes para fatores de risco comportamentais (uso de álcool e tabaco, atividade física, padrão dietético) foi realizado.

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Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo
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