Formação no Brasil está de acordo com demanda do atendimento na medicina sexual?

Ainda distante de um cenário acolhedor o atendimento em medicina sexual no país precisa ser mais humanizado e atualizado.

Na apresentação do professor da Harvard Medical School, o urologista Aria F. Olumi, foi apontada a desigualdade no atendimento que os pacientes transgênero enfrentam, por exemplo. Ao abordar o tema câncer de próstata em mulheres trans, o professor analisou que o desafio de como lidar com o diagnóstico pode começar no consultório médico.

“O número de mulheres trans com câncer de próstata vai aumentar e os critérios para os ensaios clínicos têm que se tornar mais flexíveis, para garantir a diversidade. Também devemos trabalhar com uma linguagem mais inclusiva e educar os profissionais de saúde para entender as necessidades desse grupo de indivíduos”, afirmou Olumi.

Na visão do ginecologista e obstetra do Instituto Ideia Fértil de Saúde Reprodutiva e pró-reitor de pós-graduação, pesquisa e inovação da Faculdade de Medicina do ABC (FMABC), Caio Parente Barbosa, é urgente a inclusão de mulheres trans nos ensaios clínicos.

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“Que eu saiba, não há nenhum trabalho sendo realizado quanto a isto. Mas é fundamental e urgente a inclusão dessa parcela da população em estudos sobre a incidência de câncer de próstata”, destacou Barbosa, em entrevista ao Portal de Notícias da PEBMED.

O ex-presidente e atual vice-presidente da Associação Brasileira de Estudos em Medicina e Saúde Sexual (ABEMSS) e coordenador do Departamento de Medicina Sexual do Hospital Municipal da Piedade, o urologista Francisco Coutinho, aponta que esse é um problema de saúde pública.

“Embora o câncer da próstata seja o segundo maior causador de morte entre as pessoas com pênis e próstata (linguagem esta que deveria ser adotada para evitar a LGBTQIA+fobia), somente menos da metade já fez o simples exame de PSA (auxilia na detecção precoce do câncer) e apenas 1/3 realizou o toque retal. Se um homem hétero já tem sua prevenção prejudicada o que falar da população TRANS, onde muitos profissionais não sabem nem o significado de uma mulher trans e nem mesmo das letrinhas do movimento LGBTQIA+”, ressaltou Francisco Coutinho, em entrevista ao Portal de Notícias da PEBMED.

Formação no Brasil está de acordo com demanda do atendimento na medicina sexual?

Atendimento humanizado e escuta inclusiva

Em sua apresentação, o diretor-executivo do Malecare and The National LGBT Cancer Project, Darryl Mitteldorf, mostrou como está distante um atendimento humanizado para casais LGBTQIA+ quando um deles é diagnosticado com câncer.

“Embora não tenha sido o fato de ser LGBTQIA+ que causou a doença, muitos pacientes se sentem desrespeitados, como se tivessem que dar explicações sobre sua vida sexual”, disse Darryl Mitteldorf, enfatizando a real necessidade de os médicos serem treinados para atender qualquer casal da mesma forma que atenderia um hétero — comportamento que deve ser estendido à equipe inteira.

“Se o paciente está acompanhado, permita que ele explique a natureza daquele relacionamento. Se estiver sozinho, pergunte sobre seu estilo de vida e pessoas próximas. Pessoas LGBTQIA+ têm esposos e esposas, filhos, amigos e parentes. No fim do tratamento, quando se fala de reabilitação sexual, o foco ainda é heterossexual, por isso é tão importante uma conversa franca no consultório”, orientou o diretor-executivo do Malecare and The National LGBTQIA+ Cancer Project.

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Para o urologista Francisco Coutinho, os profissionais da saúde não estão preparados para uma escuta acolhedora e inclusiva no atendimento. “Da mesma forma que o nosso país tem um racismo estrutural, tem também uma LGBTQIA+fobia estrutural que reflete na impossibilidade de uma abordagem mais humana e acolhedora. O problema se reflete na falta de preparação adequada dos profissionais da saúde associados com a homofobia estrutural, além das próprias crenças, mitos e preconceitos inerentes de cada pessoa que aborda o tema”, explicou o especialista, que acrescentou que é muito importante que o paciente se sinta acolhido, com a necessidade de uma escuta acolhedora e sem preconceito.

Parceria x parceira

“Um outro cuidado relevante é a forma de abordar e falar,  perguntando,  por exemplo, sobre sua parceria e não parceira, dando a oportunidade do paciente se abrir para expor suas dúvidas e dificuldades com a segurança e tranquilidade de que não será julgado”, ensinou o vice-presidente da ABEMSS.

Barbosa concorda que a formação dos médicos precisa ser reformulada para atender a todos os públicos, mas já observa alguns avanços neste sentido. “Na Faculdade de Medicina do ABC, por exemplo, temos uma disciplina de saúde sexual e reprodutiva com uma aula específica, que nos proporciona a oportunidade de discutir sobre o assunto”.

Este artigo foi revisado pela equipe médica do Portal PEBMED.

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