Não é de hoje que as infecções fúngicas são uma ameaça na terapia intensiva. Contudo, com a pandemia de Covid-19 e o elevado número de pacientes em ventilação mecânica, esse assunto se tornou o foco de muitas discussões nos rounds de CTI.
No simpósio no congresso da American Thoracic Society – ATS 2021, o Dr. Matteo Bassetti discursa sobre as dificuldades de diagnosticar, identificar e tratar as infecções fúngicas intra-hospitalares. Fato é que os fatores de risco são inespecíficos e a apresentação clínica é muitas vezes atípica. Contudo, são infecções de fácil contaminação cruzada, associada à alta mortalidade, principalmente para o gênero Candida com cerca de 30 a 60% de mortalidade.
As infecções fúngicas na pandemia
Desde 2009, há elevada preocupação com o surgimento das Candidas sp panresistentes, como a Candida auris, sendo considerado uma grave ameaça à saúde pública. Com a pandemia, em 2020, houve um aumento importante no número de casos registrados. Nos EUA, por exemplo, o estado americano com maior incidência foi o de Nova York, mostrando relação direta com o elevado número de casos de Covid-19 grave, necessidade de suporte avançado de vida e o uso elevado de antibioticoterapia de amplo espectro.
![ATS 2021: infecções fúngicas](https://img.pebmed.com.br/wp-content/uploads/2021/05/18135959/ats_2021-300x158.jpg.webp.webp)
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Diversos trabalhos foram publicados no último ano, descrevendo os surtos de C.auris nos centros de terapia intensiva ao redor do mundo. O estudo do centro do Dr. Matteo traz a investigação molecular do grupo de C.auris que houve em seu CTI, revelando a facilidade de transmissão durante a pandemia. É sim uma ameaça global, principalmente relacionado ao não descalonamento adequado de terapias antibióticas em centros de terapia intensiva.
![ATS 2021: infecções fúngicas](https://img.pebmed.com.br/wp-content/uploads/2021/05/18140520/ats_2021-4-300x222.jpg.webp.webp)
Nos últimos anos, surge luz no fim do túnel, segundo Dr.Matteo. Há novos antifúngicos em desenvolvimento, alguns em fase 3 de estudo, outros em fase 2, com um bom espectro de atuação, contemplando inclusive a C.auris, como ibrexafungerpe e rezafungina.
Considerações
Dr. Matteo termina a palestra citando as 10 regras mais valiosas para o desenvolvimento de um programa de descalonamento de antifúngicos no CTI:
- Evitar ou restringir a profilaxia antifúngica
- Diferenciar infecção de colonização
- Usar métodos diagnósticos para a detecção precoce de candidíase invasiva
- Limitar o uso de terapia empírica para casos baseados nos fatores de risco
- Promover a terapia precoce baseado nos fatores de risco e biomarcadores
- Tratar de forma adequada em primeira tentativa (ecnocandinas)
- Ter controle do sítio (cateteres, abscesso, controle cirúrgico)
- Usar dose adequada e evitar subdose
- Descalonar dentro de 5 dias, se possível
- Interromper terapias desnecessárias e reavaliar o tempo de tratamento sempre
Estamos acompanhando o congresso da ATS 2021. Fique ligado no Portal PEBMED!
Veja mais do congresso:
- ATS 2021: novos tratamentos contra patógenos resistentes – uma pitada de esperança
- ATS 2021: abordagem de nódulos e massas pulmonares – práticas atuais
- ATS 2021: novidades na abordagem de tromboembolismo pulmonar
- ATS 2021: síndrome pós-Covid-19 e reabilitação pulmonar
Referência bibliográfica:
- Bassetti M, Kollef MH, Poulakou G. Principles of antimicrobial stewardship for bacterial and fungal infections in ICU. Intensive Care Med. 2017;43(12):1894-1897. doi:10.1007/s00134-017-4922-x