Avaliação pré-concepção de abortamento recorrente: valor adicional do estudo vascular e metabólico

Alguns fatores de risco maternos para abortamento recorrente estão entre fatores associados no aumento da prevalência e pior prognóstico.

O abortamento recorrente é definido como a expulsão dos produtos da concepção até as 24 semanas em duas ou mais oportunidades (definição corroborada pela Sociedade Europeia de Reprodução Humana e Embriologia). Essa situação acomete 1 a cada 50 casais tentando conceber e traz um desafio tanto para os casais como para a medicina. A fisiopatologia precisa ainda precisa de elucidação, uma vez que os dados conhecidos até agora não explicam todos os casos. Sabemos da relação de aborto recorrente e algumas condições como síndrome do anticorpo antifosfolípide, mal formações uterinas e aberrações cromossômicas parentais, entretanto a maioria dos casos ainda permanece sem causa definida.

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Avaliação pré-concepção de abortamento recorrente valor adicional do estudo vascular e metabólico

Riscos

Alguns fatores de risco maternos estão entre fatores associados no aumento da prevalência e pior prognóstico, como:

  • Idade materna avançada
  • Abuso de álcool
  • Tabagismo
  • Sobrepeso
  • Estresse

Coletivamente os estudos têm mostrado que essas pacientes com abortamento habitual têm mais risco de desenvolverem eventos cardiovasculares e metabólicos futuros como AVC, síndrome metabólica (aumento de IMC), entre outros. Desde 2011 a American Heart Association tem incluído em seus guidelines algumas patologias obstétricas como fatores de risco para desenvolvimento de doenças cardiovasculares futuras.

Um estudo piloto publicado em janeiro de 2022 no BMJ Pregnancy and Childbirth acompanhou 123 mulheres em idade reprodutiva em sua fase pré-concepcional com 2 ou mais perdas gestacionais antes de 24 semanas (critério da European Society for Human Reproduction and Embryology). Foram excluídas aquelas que apresentassem outras comorbidades obstétricas ou clínicas (como pré-eclampsia, restrição crescimento ou natimortos ou ainda patologias clínicas como síndromes autoimunes ou doenças renais).

O grupo foi então subdividido em 2:

  1. Mulheres com 2 ou 3 perdas (baixa ordem)
  2. Mulheres com 4 ou mais perdas (alta ordem)

Mulheres saudáveis com pelo menos uma gestação prévia não complicada formaram o grupo controle.

A avaliação de perfil de risco circulatório levou em consideração:

  1. Hipertensão arterial
  2. Diminuição plasma vascular
  3. Aumento da resistência vascular periférica
  4. Aumento do IP da artéria uterina (direita ou esquerda)

Já o perfil metabólico usou os seguintes parâmetros:

  1. Colesterol total
  2. HDL colesterol
  3. Triglicérides
  4. Glicose
  5. Insulina

Presença de síndrome metabólica definida como 3 ou mais dos seguintes parâmetros:

  1. Obesidade abdominal (definida como IMC > 30 Kg/m²)
  2. Hipertrigliceridemia (≥ 1,7 mmol/l)
  3. HDL colesterol baixo (≤ 1,9 mmol/l)
  4. Elevação de pressão arterial (valores acima de 130/85 mmHg) ou uso de medicações anti-hipertensivas)
  5. Hiperglicemia (glicose de jejum acima de 6,1 mmol/l ou uso de drogas hipoglicemiantes)

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Neste projeto piloto os pesquisadores não encontraram relação direta que explique as perdas gestacionais com os parâmetros cardiovasculares alterados estatisticamente, apesar da observação de mais de 80% das mulheres terem pelo menos 1 parâmetro cardiovascular de risco alterado e enquanto somente 27% terem parâmetros metabólicos alterados.

Com isso a presença de fatores circulatórios anormais antes da gravidez, e em menor grau constituintes da a síndrome metabólica, podem predispor ao risco de perdas gestacionais e oferecerem novas percepções para explicar sua fisiopatologia.

Referências bibliográficas:

  • Habets DHJ, et al. Preconceptional evaluation of women with recurrent pregnancy loss: the additional value of assessing vascular and metabolic status. BMC Pregnancy and Childbirth. 2022;22(75). doi: 10.1186/s12884-021-04365-5.

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