Neste episódio da série LGBTQIA+ na prática – o que todo médico precisa saber, Vitor Henrique, médico ginecologista e conteudista do Portal PEBMED, fala sobre a dificuldade que as mulheres lésbicas enfrentam ao irem ao ginecologista.
Existem diversos mitos que envolvem a saúde sexual e a saúde feminina de mulheres lésbicas e bissexuais, a falta de treinamento adequado e de formação especializada dos médicos faz com que essas pacientes, que já partem de um local de preconceito social elevado, fiquem sem fazer seus segmentos de rotina e rastreamento para várias doenças da saúde feminina.
Confira o episódio!
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LGBTQIA+ na prática – o que todo médico precisa saber
A nova série LGBTQIA+ na prática – o que todo médico precisa saber, exclusiva do Portal PEBMED, vai trazer especificidades sobre cada uma das letras da sigla, e mostrará como um bom atendimento a população LGBTQIA+ contribui para a boa prática médica. Aperfeiçoar-se no tema permitirá que o médico se senta mais confortável no exercício profissional e tenha um melhor resultado terapêutico, além da relação médico-paciente.
Veja também:
- Série LGBTQIA+ – O que o médico precisa saber sobre a comunidade LGBTQIA+
- PEBMED e HA: Atenção à saúde da população LGBTQIA+: um olhar sobre acessibilidade
Tópicos abordados no vídeo
- Mitos que envolvem a saúde sexual e a saúde feminina das mulheres lésbicas e bissexuais
- Falta de treinamento adequado e formação especializada
- A contaminação do HPV
- Risco de desenvolvimento de câncer de mama e ovários em mulheres lésbicas
- Compartilhamento de acessórios sexuais
- Paciente lésbicas: anamnese direcionada à saúde mental
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(0:06) Olá, sejam bem-vindos!
(0:08) Eu sou Vitor Maga, médico ginecologista e conteudista do portal PEBMED.
(0:12) Hoje nós vamos conversar por que as mulheres lésbicas têm mais dificuldade de ir ao ginecologista e o que isso pode acarretar para sua saúde?
(0:21) Eu ouço muito no consultório, de várias pacientes lésbicas, ou bissexuais, que já tiveram muita dificuldade para conseguir marcar uma consulta no ginecologista.
(0:31) Elas falam assim: “Nossa, doutor, eu nunca me senti à vontade nas consultas de ginecologia.”
(0:37) E eu intrigado com o motivo. Elas falam: “Toda vez que eu falava que eu era lésbica, que eu não me relacionava com homens ou que não tinha sexo com penetração, pênis-vagina, simplesmente a consulta acabava. Parecia que o médico não tinha mais recurso nenhum para continuar.”
(0:53) Algumas me confessam que já chegaram a escutar que elas não precisariam estar ali, que o segmento ginecológico de rotina deve ser feito por mulheres que têm risco, e se ela não tem sexo com homens, ela não precisaria ir em consulta.
(1:06) Isso acontece muitas vezes por conta de diversos mitos que envolvem a saúde sexual e a saúde feminina de mulheres lésbicas.
(1:15) Muitas vezes, os profissionais, por falta de treinamento adequado e formação especializada, não conhecem as particularidades e muitas vezes não sabem como conduzir essas pacientes no atendimento clínico.
(1:29) Esse comportamento acaba produzindo um viés de cultura, onde os médicos, se sentindo inaptos para conseguir conduzir essas pacientes, acabam não oferecendo um atendimento e acolhimento adequado.
(1:43) E muitas vezes também por conta do preconceito social, isso eleva a vulnerabilidade social que essas pacientes têm.
(1:50) Dessa forma, a paciente tem uma dificuldade de se sentir bem na consulta e vai deixando de procurar os atendimentos de rotina, e isso pode acarretar uma série de problemas, porque essas mulheres vão ficar sem fazer o seguimento de rotina e rastreamento para várias doenças da saúde feminina.
(2:12) O portal PEBMED, então, se colocou nessa série para tentar ajudar você, médico, que tem interesse e quer aperfeiçoar o seu atendimento.
(2:19) Vamos entender algumas particularidades da saúde feminina. Incluindo vulnerabilidades maiores em mulheres lésbicas.
(2:28) Uma das questões que a gente tem é que os trabalhos científicos mostram que as mulheres lésbicas têm um maior risco para obesidade.
(2:36) Não se sabe exatamente o porquê disso, mas se sabe que muitas vezes encontra-se um número de mulheres com obesidade maior.
(2:45) Isso tem que ser abordado, porque a obesidade é uma doença crônica que vai gerar uma série de agravos à saúde.
(2:52) Além disso, percebe-se também que dentre as mulheres lésbicas, o uso abusivo de álcool, tabaco e às vezes até outras substâncias acaba sendo maior, mas principalmente o uso de álcool e tabaco. Alguns estudiosos tentam versar sobre isso e tentar entender o porquê acontece.
(3:12) As principais teorias é por conta do cenário de cultura onde elas estão estabelecidas.
(3:17) Muitas pessoas acabam fumando num cenário social onde o tabagismo acaba sendo levado.
(3:25) Outro fator é o uso abusivo de álcool e tabaco comparado as mulheres heterossexuais.
(3:32) A gente sabe que muitas mulheres lésbicas acabam tendo um maior risco de fazer uso abusivo de álcool e tabaco.
(3:40) Não se sabe exatamente o porquê, mas alguns estudiosos versam que esse comportamento seria por conta do cenário sociocultural.
(3:48) As mulheres lésbicas estariam inseridas num ambiente onde mais pessoas fumam e isso levaria a um contexto social que aumentaria o índice de tabagismo.
(3:59) O tabagismo e o uso crônico de álcool podem, por sua vez, levar a diversos outros agravos que se percebe nessa população, como o desenvolvimento de hipertensão arterial crônica, diabetes gestacional e piorando os quadros também de obesidade.
(4:14) Além disso, o tabaco é o principal risco para o desenvolvimento de câncer de pulmão, laringe e aparelho respiratório.
(4:22) Em relação à saúde sexual, percebe-se que existem diversos mitos em relação ao sexo lésbico ou até mesmo o sexo entre vulvas.
(4:31) As mulheres muitas vezes acham que o risco de contrair o vírus do HPV só acontece se tiver relações com homens ou relações pênis-vagina.
(4:42) Só que hoje já se sabe que isso não é verdade.
(4:45) O HPV é extremamente prevalente na população mundial, seja em sexo com homens ou com mulheres, ou sejam práticas sexuais, pênis-vulva ou até mesmo vulva com vulva.
(5:00) Por conta da prevalência do vírus HPV ser muito elevada, sabe se que a contaminação independe das parcerias.
(5:07) Isso faz com que muitas mulheres sejam acometidas pelo vírus do HPV, e o vírus do HPV é o principal fator para o desenvolvimento do câncer de colo de útero.
(5:18) Então a gente tem duas vulnerabilidades: mulheres que estão em fator de risco para desenvolver HPV e que muitas vezes não fazem o rastreamento de câncer de colo periódico nas suas consultas com ginecologistas.
(5:31) Assim, aumentando o risco de câncer de colo.
(5:35) Alguns trabalhos também mostram que o risco de desenvolvimento de câncer de mamas e ovários pode acontecer dentre as mulheres lésbicas.
(5:42) As explicações possíveis seriam nuliparidade ou baixa paridade, casos de obesidade, uso de tabaco e o menor uso de contraceptivos orais, que se sabe que muitas vezes têm um efeito protetor.
(5:56) Essa conjunção de fatores sociais acabam levando que essas mulheres tenham um maior risco.
(6:02) E como no câncer de colo, como elas não fazem rastreamento muitas vezes com seus ginecologistas, elas acabam descobrindo essas doenças no estágio mais avançado.
(6:13) Além de tudo isso, quando a gente fala da prática sexual, sabemos que é sim necessário fazer uma educação em saúde e conscientização para prevenção de ISTs, infecções sexualmente transmissíveis, nas práticas sexuais, incluindo o compartilhamento de acessórios sexuais.
(6:33) Muitas mulheres lésbicas não utilizam acessórios sexuais, mas se sabe que tanto a manipulação com boca ou com os dedos ou com qualquer acessório sexual com penetração vaginal pode sim levar ao cometimento de infecções sexualmente transmissíveis.
(6:50) Além de tudo isso, a saúde sexual feminina tem que contemplar o planejamento familiar.
(6:57) Se sabe que muitas vezes não é discutido com mulheres lésbicas a questão do desejo de constituir família. Se essas pacientes têm desejo ou não de, no futuro, engravidar.
(7:08) Por conta da vulnerabilidade e da falta de acompanhamento no ginecologista, muitas vezes, essa mulher não consegue planejar como gostaria de fazer isso.
(7:18) Sabe se que hoje tem muitos meios de reprodução assistida que poderiam oferecer condições dessas pacientes gestarem.
(7:26) Porém, existem muitos impeditivos para ela conseguir isso. Seja no acolhimento e no acesso à saúde ou até mesmo em relação ao próprio SUS.
(7:34) Hoje, infelizmente, o Sistema Único de Saúde tem um número muito pequeno de serviços que oferecem atendimento de reprodução assistida para essas pacientes homoafetivas.
(7:45) E isso, por muitas vezes, acaba deixando que o sonho de gestar seja algo muito distante de suas realidades.
(7:52) Por último, e para finalizar todas essas particularidades, nós temos que entender, assim como a gente já discutiu no vídeo anterior, que todos os membros da comunidade LGBTQIA+ podem sim sofrer por conta do stress de minoria devido ao preconceito social.
(8:11) Isso faz com que essas pessoas tenham uma maior vulnerabilidade para desenvolver problemas de saúde mental.
(8:17) Toda vez que uma paciente lésbica estiver em consulta, deve ser feita uma anamnese direcionada em relação à saúde mental. Tentando entender aquelas questões que eu já comentei, como o uso abusivo de álcool, tabaco e as vezes até outras substâncias, mas também em relação ao desenvolvimento de ansiedade, depressão, transtornos alimentares ou até outros problemas de saúde mental.
(8:43) Vamos lá? E agora? Como você, médico, pode aperfeiçoar o seu atendimento de uma forma muito mais acolhedora?
(8:49) Em primeiro lugar, quando receber uma paciente lésbica ou bissexual, não presuma heterossexualidade.
(8:56) Aquela mulher que está na sua frente, você não tem como garantir que ela é uma mulher heterossexual e que se relaciona com homens.
(9:03) Conduza a consulta de uma maneira que você se permita o acolhimento de outras práticas sexuais.
(9:10) Ao considerar de forma compulsória uma pessoa heterossexual, você limita que ela tenha espaço na consulta para te contar sobre as práticas sexuais que ela tem.
(9:20) Além disso, tente sempre ser gentil e respeitoso nas palavras. Demonstre que você entende as particularidades que discutimos nesse vídeo.
(9:29) Demonstre que você tem uma escuta ativa e que, ainda que você não tenha entendimento específico sobre alguma questão, você se coloca à disposição para tentar ajudar e acolher essas demandas e particularidades.
(9:42) E, por fim, oriente essa paciente que construa uma nova cultura em saúde.
(9:47) Através da sua educação em saúde, você pode orientá-la que é sim possível uma mulher lésbica receber um atendimento acolhedor, gentil e respeitoso.
(9:56) Dessa maneira, conseguiremos mudar a cultura que existe, em que mulheres lésbicas não precisam fazer o seguimento de rotina.
(10:03) Assim, terão prevenção para as doenças de maior acometimento e o rastreamento dos cânceres que são necessários em todas as mulheres.
(10:13) Se você gostou desse vídeo, acompanhe a nossa série para os cuidados integrais da saúde da população LGBTQIA+ e fique atento aos próximos vídeos que ensinaremos outras técnicas para o desenvolvimento de um atendimento muito mais acolhedor e respeitoso.
(10:30) Obrigado.