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A bexiga neurogênica é uma das causas da doença renal crônica. Esta, por sua vez, já é considerada um problema de saúde pública com proporções mundiais. Estudos recentes mostram um crescimento no número de casos, com milhões de pacientes submetidos a tratamento através de substituição renal (diálise) ou transplante. O acometimento mundial já ultrapassa 10%, podendo alcançar 50% nos subgrupos de maior risco, especialmente, os portadores de bexiga neurogênica.
Na infância, a malformação congênita do tubo neural, a exemplo da mielomeningocele, está no grupo das causas mais comuns da bexiga neurogênica. A bexiga neurogênica é responsável por, aproximadamente, 25% das condições mais severas em urologia pediátrica. Desses, pelo menos 40% das crianças com esta condição, agravam para comprometimento renal.
Dentre os adultos e idosos, são diversas as causas e as estatísticas ainda não são claras. Contudo, na maioria dos casos, está relacionada a problemas orgânicos ou traumáticos.
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Bexiga neurogênica
Esta disfunção neurogênica das vias urinárias baixas contempla alterações nas funções vesicoesfinterianas que afetam portadores de doenças neurológicas centrais e periféricas. Podendo ser:
- Flácida: não realiza contração, enchendo a bexiga e transbordando, causando o gotejamento da bexiga;
- Espástica: contrações da bexiga de forma involuntária e com vontade de urinar, mesmo sem conteúdo na bexiga;
- Mista: apresenta comportamento de bexiga flácida e espástica.
A função das vias urinárias baixas é condicionada ao ciclo da micção de armazenamento em baixas pressões e esvaziamento vesical total. A medula espinhal e o sistema nervoso de controle neural regulam e coordenam o enchimento da bexiga e a micção. Isso depende da coordenação e controle voluntário, coordenação entre a função vesical e uretral de forma sincrônica e sinérgica, e envolvimento de inúmeros arcos reflexos e circuitos neurológicos.
O comprometimento renal em decorrência da bexiga neurogênica apresenta diversos fatores de risco, em especial o aumento da pressão, redução da capacidade e complacência vesical, dissinergia detrusor-esfincteriana e resíduo pós-miccional.
O tratamento precoce dos fatores de risco é primordial para reduzir as complicações relacionadas ao comprometimento renal. A avaliação urodinâmica é reconhecida como padrão ouro diagnóstico. Isso acontece por ser o único exame capaz de apontar de forma segura os fatores de risco. Ele avalia a coordenação e as variações pressóricas entre bexiga, uretra e complexo esfincteriano e a integração entre as fases de enchimento e esvaziamento vesical, aponta as causas da disfunção e orienta o tratamento adequado e o acompanhamento da doença.
A medida terapêutica mais importante para prevenir a lesão renal ainda é o cateterismo vesical intermitente. A fisioterapia também apresenta benefícios terapêuticos, contudo, ela não deve ser utilizada de forma isolada. Já os medicamentos podem inibir ou diminuir as contrações vesicais, como os anticolinérgicos e os antagonistas dos receptores beta-3 adrenérgicos. Atualmente, a toxina botulínica tem apresentado excelentes resultados.
É fundamental difundir e ampliar os conhecimentos a respeito da bexiga neurogênica, especialmente quanto à avaliação clínica e tomada de decisão relacionada às medidas terapêuticas e preventivas. O enfermeiro é o profissional que permanece diante do paciente a maior parte do tempo, contribuindo na manutenção da saúde e qualidade de vida dos pacientes, assim como, provê medidas para bons resultados nos processos de reabilitação.
Referências:
- Rocha, Flávio Eduardo Trigo; Gomes, Cristiano Mendes. Bexiga Neurogênica. Zerati Filho M, Nardozzo Júnior A E Reis Rb. Urologia Fundamental. São Paulo: Planmark, 2010.
- Magalhães, Ana Maria Müller De; Chiochetta, Fabiana Veiga. Diagnósticos De Enfermagem Para Pacientes Portadores De Bexiga Neurogênica. Revista Gaúcha De Enfermagem. Porto Alegre, 2002.
- Polita, Naiara Barros Et Al. Bexiga Neurogênica E O Cateterismo Vesical Intermitente. Journal Of Nursing Ufpe/Revista De Enfermagem Ufpe, 2010.
- Sartori, Nely R.; Melo, Márcia Rac. Necessidades No Cuidado Hospitalar Do Lesado Medular. Medicina (Ribeirão Preto. Online), 2002.