Brasil ainda investe pouco em prevenção e tratamento de câncer

A América Latina pode enfrentar um aumento de mais de 90% em novos casos de câncer até 2035, por conta de fatores como o envelhecimento. Saiba mais!

A América Latina pode enfrentar um aumento de mais de 90% em novos casos de câncer até 2035, por conta de fatores como o envelhecimento e o crescimento da população. Os dados, da Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (IARC), assustam e preocupam as autoridades de saúde mundiais.

Somente no Brasil, são estimados 600 mil novos casos com 200 mil óbitos anualmente. Por conta de suas características, como complexidade, abrangência e diversidade, a doença é considerada um grande desafio a ser combatido nos próximos anos.

Investimento em câncer no Brasil

Para identificar os principais desafios encontrados ao longo da jornada do paciente oncológico, a Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa (Interfarma) realizou, em parceria com a IQVIA e a Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), o levantamento “Câncer no Brasil: a jornada do paciente no Sistema de Saúde e seus impactos sociais e financeiros”. Os pesquisadores investigaram o panorama de tratamento oncológico no país, tanto no sistema público como na saúde suplementar.

Principais dados do estudo

Em comparação ao investimento realizado no combate ao câncer em 2017, o país apresentou os piores indicadores em comparação aos demais países latino-americanos.

Além disso, o paciente oncológico brasileiro perde quase o dobro de anos de vida saudável quando comparado a alguns países europeus e, praticamente o triplo de anos de vida em comparação a um paciente americano com câncer.

“O Brasil possui grandes deficiências no diagnóstico e tratamento de câncer, que afetam diretamente a possibilidade de cura quanto a qualidade de vida dos pacientes”, lamenta a médica Clarissa Mathias, presidente da SBOC.

Ainda de acordo com a pesquisa, os maiores gargalos do tratamento no país estão na desigualdade entre os recursos terapêuticos de cada região e nas significativas diferenças entre os atendimentos nos sistemas público e privado.

O maior obstáculo do paciente que depende do atendimento e do tratamento do Sistema Único de Saúde (SUS), que atende a 70% dos brasileiros, está na etapa anterior ao tratamento, antes da chegada aos centros de referência especializados.

“Quanto maior o atraso do diagnóstico e encaminhamento, mais avançado é o câncer e maiores são os impactos sociais e financeiros relacionados a ele. A falta de recursos e o desequilíbrio no acesso à rede assistencial também agravam o problema”, aponta Clarissa Mathias.

Veja mais: Brasileiras tem câncer de mama mais cedo do que em outros países

Além de todos os problemas sistêmicos, o estudo também analisou o impacto global da enfermidade, em aspectos sociais e financeiros. A pesquisa listou os gastos diretos com o câncer, como medicamentos, hospitalizações e cirurgias, além dos custos indiretos, como morte prematura, absenteísmo e aposentadoria por invalidez. O custo direto foi estimado em R$ 4,5 bilhões no SUS. Já na saúde suplementar, as despesas chegaram a R$ 14,5 bilhões em 2017.

No SUS, o paciente encontra problemas como falta de padronização no rastreamento para alguns tipos de câncer, dificuldade de acesso a exames preventivos e agenda de consultas, demora para a obtenção de resultados dos exames de estadiamento, restrição de acesso a medicamentos e a exames complementares.

Enquanto isso, no sistema privado, os pacientes até encontram agilidade no encaminhamento, mas têm sempre a possibilidade de ter o seu pedido negado ou ter o acesso dificultado aos testes que estão no Rol da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), além da demora para atualização de terapias e incorporação de tratamentos mais modernos.

Em relação aos custos sociais, os pacientes enfrentam incertezas desde o diagnóstico e, até mesmo depois do final do tratamento, para reorganizar a vida e conseguir voltar ao mercado de trabalho.

Leia também: Quando encaminhar o paciente com câncer para cuidados paliativos?

“É preciso aperfeiçoar todo o sistema de saúde, que depende da atuação abrangente tanto do governo, como dos profissionais de saúde, pacientes, gestores, pesquisadores e até da indústria. Os esforços devem abranger pilares, como agilizar o diagnóstico, oferecer acesso integral ao tratamento e disseminar informações corretas sobre a prevenção para empoderar a sociedade civil”, ressalta a presidente da SBOC.

Como vimos no início desta matéria, a América Latina pode vivenciar um aumento de mais de 90% em novos casos de câncer até 2035. Por conta disso, é muito importante debater alternativas para melhorar o atendimento oncológico e facilitar o acesso aos exames, medicamentos e terapias para todos os brasileiros.

“É necessário melhorar a gestão dos recursos, direcionar verbas para o tratamento e modernizar infraestrutura para reduzir os custos sociais, além de promover qualidade de vida digna aos pacientes com câncer”, diz Clarissa Mathias.

*Esse artigo foi revisado pela equipe médica da PEBMED

Referências bibliográficas:

Avaliar artigo

Dê sua nota para esse conteúdo

Selecione o motivo:
Errado
Incompleto
Desatualizado
Confuso
Outros

Sucesso!

Sua avaliação foi registrada com sucesso.

Avaliar artigo

Dê sua nota para esse conteúdo.

Você avaliou esse artigo

Sua avaliação foi registrada com sucesso.

Baixe o Whitebook Tenha o melhor suporte
na sua tomada de decisão.

Especialidades

Tags