Câncer de colo de útero: 6 em cada 10 mulheres na Bahia iniciam tratamento após período recomendado

Um estudo realizado na Bahia indica que 6 a cada 10 mulheres começam o tratamento de câncer de colo de útero após o período recomendado.

Na Bahia, são as mulheres com mais idade, com menos escolaridade e em estágio já avançado do câncer de colo do útero que começam mais tarde o tratamento da doença pelo Sistema Único de Saúde (SUS), conforme revelou um estudo realizado pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB).

65% delas começam o tratamento no SUS mais de 60 dias após receber o diagnóstico, descumprindo a Lei Federal nº 12.732/2012 ou, como é popularmente conhecida, a “Lei dos 60 dias”.

Leia também: Câncer de colo uterino: existe diferença na recuperação de histerectomia radical aberta ou videolaparoscópica?

O levantamento apresenta uma abrangência nacional, segundo a ginecologista, obstetra e especialista em Medicina Fetal, Flavia do Vale Araújo, que atua no Hospital Icaraí, em entrevista ao Portal de Notícias da PEBMED.

“O estudo reflete um problema de saúde nacional e uma realidade para as usuárias do SUS, devido à fragilidade da rede de assistência ao paciente oncológico. Dificuldades de acesso ao rastreamento universal pelo preventivo e, principalmente, uma dificuldade de oferecer uma rede especializada que ofereça tratamento do câncer são problemas nacionais. Vale lembrar que o Brasil é um país continental onde a distribuição de médicos especializados em algumas regiões é uma questão”, pontuou Flávia do Vale Araújo, que também é professora da Universidade Federal Fluminense (UFF). 

O estudo foi publicado no dia 21 de junho na revista Cadernos de Saúde Pública, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). 

câncer de colo uterino

Câncer de colo de útero

Com 570 mil casos novos por ano no mundo, o câncer do colo do útero é o quarto tipo de câncer mais comum entre as mulheres, sendo responsável por 311 mil óbitos por ano. 

Especificamente no Brasil, excluídos os tumores de pele não melanoma, o câncer do colo do útero é o terceiro tipo de câncer mais incidente entre mulheres. Trata-se de uma enfermidade de evolução lenta que acomete principalmente as mulheres a partir de 25 anos. 

Com base em dados de 2007 a 2018 do sistema de Registro Hospitalar de Câncer (RHC) da Bahia, foram encontradas 9.184 mulheres diagnosticadas com o câncer cervical em algum estágio da enfermidade.   

No estado, o câncer de colo do útero tem sido a segunda maior taxa de incidência entre as mulheres (12,51 casos novos por 100 mil mulheres). 

Conforme os dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA), até o final de 2022 são esperados 16.710 casos novos em todo o Brasil, com um risco estimado de 15,38 casos a cada 100 mil mulheres. 

Resultados do estudo

Os resultados do estudo apontam que 65% das mulheres começaram o tratamento depois dos 60 dias após o diagnóstico. Desse total, houve aumento da chance de tratamento tardio em 30% das pacientes com idades acima de 45 anos, de 24% entre as sem nenhum nível de escolaridade e aumento de 17% entre as que apresentavam o tumor em estadiamento avançado. 

De acordo com uma das autoras da pesquisa, a enfermeira Dândara Silva, doutoranda do programa de Biotecnologia e Medicina Investigativa da Fiocruz/Bahia, esse levantamento revela um dado triste e preocupante, demonstrando uma fragilidade da rede assistencial. 

“As pacientes com tumor em estágio avançado deveriam acessar o tratamento com a maior brevidade possível, mas o estudo demonstrou que, ao contrário disso, estas mulheres acabam tendo mais chance de atraso no início do mesmo” ressaltou a pesquisadora do Grupo de Pesquisa Integrada em Saúde Coletiva da Universidade do Estado da Bahia (UNEB). 

Retrato do atraso no tratamento

Outros estudos mostram que em cada quatro semanas de atraso entre o diagnóstico e o primeiro tratamento do câncer, ou entre a finalização de um tratamento até o início do próximo, pode ocorrer um aumento de 6 a 8% na chance de óbito do paciente. 

“É possível supor uma relação entre acesso ao diagnóstico e o local do tratamento disponível na rede de atenção do estado, sobretudo para mulheres residentes no interior. Sendo assim, frisamos que o tratamento em tempo inoportuno para o câncer do colo do útero continua sendo um problema de saúde pública da Bahia, necessitando de incremento e continuidade de medidas preventivas e intensificação do rastreamento, bem como da uma maior oferta de tratamento. Recomendamos a implementação de políticas que assegurem o tratamento precoce da enfermidade, em cumprimento ao que já está previsto em lei”, apontou Dândara Silva. 

Limitações da pesquisa

“Quanto maior a idade da mulher e menor a escolaridade, maior o tempo decorrido entre o diagnóstico e o tratamento. O atraso no início do tratamento especializado é considerado fator determinante para a sobrevida das pessoas com neoplasia cervical. Todavia, a pesquisa não analisa qual o impacto que esse atraso ao início do tratamento traz as chances de cura dessas mulheres”, ressaltou Flávia do Vale. 

Orientações aos médicos

Apesar das campanhas de incentivo à prevenção que são feitas pelo Ministério da Saúde, a incidência do câncer de colo uterino ainda é muito alta no país. Por isso, os médicos – principalmente os ginecologistas – devem orientar suas pacientes entre 25 e 64 anos a realizar o acompanhamento e monitoramento da do câncer de colo de útero. 

É necessário também atenção à presença de dores na região pélvica, corrimento vaginal persistente, sangramento vaginal após relações sexuais, entre outros sintomas que indiquem a necessidade da realização esse exame de forma gratuita na rede SUS. 

Vale lembrar ainda que a vacinação contra o HPV também está disponível nos postos de saúde públicos, o que não exclui os demais cuidados acima. 

“A vacinação contra o HPV é uma estratégia de suma importância na redução de mais de 80% do risco de desenvolver o câncer. Além disso, garantir o rastreamento com diagnóstico de lesões precursoras do câncer são estratégias que podem ter um impacto de quase erradicar o câncer de colo no país. Necessitamos de incremento e continuidade de medidas preventivas e intensificação do rastreamento, assim como da oferta de tratamento em tempo oportuno, principalmente entre mulheres com baixa escolaridade, diagnosticadas em estágio avançado da doença e com o avanço gradativo da idade”, concluiu a ginecologista do Hospital Icaraí.

*Esse texto foi revisado pela equipe médica do Portal PEBMED. 

Avaliar artigo

Dê sua nota para esse conteúdo

Selecione o motivo:
Errado
Incompleto
Desatualizado
Confuso
Outros

Sucesso!

Sua avaliação foi registrada com sucesso.

Avaliar artigo

Dê sua nota para esse conteúdo.

Você avaliou esse artigo

Sua avaliação foi registrada com sucesso.

Baixe o Whitebook Tenha o melhor suporte
na sua tomada de decisão.