Vacinas terapêuticas para o tratamento de alguns tumores podem estar disponíveis até 2030, de acordo com o casal de cientistas co-fundadores da BioNTech, o laboratório alemão que, em parceria com a Pfizer, criou uma revolucionária vacina contra a covid-19 com base no RNA mensageiro.
“Sentimos que a cura para o câncer, ou para (ao menos) mudar a vida dos pacientes com câncer, está ao nosso alcance. Acreditamos que isso acontecerá, definitivamente, antes de 2030”, afirmaram a imunologista Ozlem Tureci e o professor de oncologia Ugur Sahin, em entrevista ao Sunday with Laura Kuenssberg da BBC, no último domingo (6).
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Estudos mais avançados
Entre a série de aplicações em testes pela BioNTech, as mais avançadas, na fase 2/3 dos estágios clínicos, são as injeções para o câncer colorretal, o melanoma, o melanoma avançado, além do câncer de cabeça e pescoço.
Há ainda outras vacinas que estão na etapa 1 dos estudos clínicos, direcionadas para o câncer de ovário, de próstata e tumores sólidos.
“O nosso objetivo é que possamos usar a abordagem de vacina individualizada para garantir que, diretamente após a cirurgia, os pacientes recebam uma dose personalizada e individualizada que induzam a uma resposta imune para que as células T (de defesa) do organismo consigam rastrear as células tumorais restantes e eliminá-las”, explicou Sahin.
Utilização da tecnologia de RNA mensageiro
Para isso, a empresa fundada pelo casal em 2008 apostou, principalmente, na tecnologia de RNA mensageiro (RNAm). A plataforma, que já era utilizada nas vacinas candidatas para prevenir doenças infecciosas e tratar tumores em testes pela BioNTech, foi comprovada como um método eficaz e seguro contra a Covid-19.
No início da pandemia, a BioNTech, em parceria com a farmacêutica americana Pfizer, foi a responsável pelo primeiro imunizante contra o novo coronavírus.
A aplicação do imunizante utiliza o RNAm para induzir os anticorpos e as células de defesa contra o novo coronavírus, e faz parte de diversas campanhas de vacinação pelo mundo, inclusive no Brasil.
“O RNAm age como um manual de instruções e permite que você diga ao organismo para produzir o medicamento ou a vacina que precisa. Neste caso, (são) os antígenos de câncer que distinguem as células cancerosas das células normais”, destacou Tureci.
Dessa forma, o sistema de proteção do organismo reconhece esses antígenos e passam a produzir defesas para atacá-los. No caso das vacinas da Covid-19, por exemplo, em vez de o imunizante introduzir o vírus inativado ou uma parte dele para que o sistema imunológico o reconheça e crie a proteção, o RNAm utiliza o próprio organismo como “fábrica” da proteína S do novo coronavírus, que, então, induz o corpo a produzir as células de defesa e anticorpos para o novo coronavírus.