Ceftazidima + avibactam para tratar enterobactérias resistentes a carbapenêmicos

Um estudo retrospectivo, de coorte, buscou avaliar a eficácia da ceftazidima + acvibactam para o tratamento de ERC com genes OXA-48 e/ou NDM.

As enterobactérias resistentes aos carbapenêmicos (ERC) são um problema de saúde global com diversos estudos buscando opções terapêuticas. Assim, os novos inibidores de betalactamases ganharam interesse significativo por seus resultados favoráveis ​​em termos de eficácia clínica e perfil de segurança. A ceftazidima + avibactam foi aprovada pelo FDA em 2015 para infecções complicadas do trato urinário, infecções intra-abdominais complicadas e, em 2018, para o tratamento de pneumonia hospitalar e pneumonia associada à ventilação mecânica.

paciente com infecção por enterobactérias recebendo ceftazidima + avibactam

Ceftazidima + avibactam

A ceftazidima + avibactam despontou como uma opção atual de tratamento e os poucos estudos que avaliaram o tratamento das ERC com genes OXA-48 e/ou NDM apontaram menor mortalidade (entre 8,3 e 22%) em 30 dias, porém, foram observacionais. As carbapenemases foram classificadas em três grupos diferentes: classe A (por exemplo, Klebsiella pneumoniae carbapenemase – KPC), classe B ou mettalo-beta-lactamase (por exemplo, VIM) e classe D (oxacilinase – OXA-48)

Um estudo atual, retrospectivo, de coorte, em um único centro buscou avaliar a eficácia clínica da ceftazidima + acvibactam para o tratamento de ERC com genes OXA-48 e/ou NDM.

Métodos

Foram incluídos pacientes com mínimo de 18 anos que receberam ceftazidima + avibactam isoladamente ou em combinação por pelo menos 72 horas como tratamento de uma infecção confirmada por ERC com genes OXA-48 e/ou NDM. Os pacientes foram estratificados em dois grupos (monoterapia ou terapia combinada). Pacientes com infecções polimicrobianas e aqueles que não receberam aztreonam em combinação com ceftazidima + avibactam para ERC com NDM foram excluídos.

Os desfechos primários foram a cura clínica ao término da terapia e taxa de mortalidade em 30 dias. Os desfechos secundários foram mortalidade em 60 dias e taxa de recaída em 30 dias após término de tratamento da infecção primária. Os dados de segurança incluíram eventos adversos. A cura clínica foi definida como melhora clínica sem sinais ou sintomas de infecção sistêmica ao término da terapia e a recidiva foi definida como reinfecção com o mesmo organismo dentro de 30 dias após o término do tratamento.

Leia também: ECCMID 2022: devemos usar terapia combinada ou monoterapia em infecções por organismos resistentes?

Um total de 233 infecções confirmadas por ERC foram identificadas entre janeiro de 2018 e novembro de 2020. Vinte e dois pacientes foram excluídos por não atenderem totalmente aos critérios de inclusão e 211 pacientes receberam, então, ceftazidima + avibactam para infecção por ERC durante o período do estudo. Para aqueles que receberam monoterapia (119), a média de idade foi de 66 anos e a maioria deles era do sexo masculino (55,6%). A terapia combinada foi prescrita para 92 pacientes (61% do sexo masculino) com idade média de 56 anos.

Resultados

Em comparação com o grupo de monoterapia, mais pacientes no grupo de combinação estavam em UTIs quando as culturas foram coletadas (61% versus 43%; P  = 0,025). O número de pacientes em ventilação mecânica invasiva e vasopressores também foi significativamente maior no grupo de terapia combinada (55% versus 39%; P  = 0,021 e 46% versus 32,8%; P  = 0,051, respectivamente).

Os patógenos mais frequentemente isolados foram K. pneumoniae (189/211; 90%), Escherichia coli (9/211, 4,3%) e Enterobacter spp. (9/211; 4,3%). A maioria das culturas foram coletadas do trato respiratório (31,3%), seguido de urina (27,5%) e sangue (25,6%). Mais de 80% dos isolados (171/211; 81%) carregavam genes OXA-48, seguidos por NDM ± OXA-48 (40/211; 19%). A suscetibilidade à ceftazidima/avibactam foi feita para 76 isolados (44 e 32 no grupo de monoterapia e terapia combinada, respectivamente) e estes eram todos suscetíveis e carregavam o gene OXA-48. Pneumonia (hospitalar e associada à ventilação mecânica) foi a mais frequente infecção diagnosticada (31,3%).

O tempo médio entre a identificação da bactéria e o início do tratamento foi de 24 horas em ambos os grupos. A duração média da terapia com ceftazidima + avibactam foi maior na terapia combinada (17 versus 14 dias; P  = 0,08). A terapia combinada foi prescrita para 92 pacientes, 45% dos quais receberam aztreonam; 27%, colistina; 20%, gentamicina; e o restante recebeu tigeciclina (17,4%) e amicacina (11%).

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A cura clínica foi significativamente maior no grupo de monoterapia em comparação com o grupo de terapia combinada (87% versus 67,4%; P  = 0,001). A taxa de mortalidade em 30 dias após a infecção foi de 16% e 27% ( P  = 0,05) nos grupos de monoterapia e terapia combinada e as taxas de mortalidade em 60 dias foram de 20,2% e 36%, respectivamente, o que foi uma diferença significativa ( P  = 0,011). As taxas de recidiva da infecção em 30 dias após o término da terapia com ceftazidima + avibactam foram de 7,6% e 13% em monoterapia e terapia combinada, respectivamente. No grupo de monoterapia, 6,7% dos pacientes apresentaram lesão renal aguda, em comparação com 8,7% no grupo de combinação. Quase 4% dos pacientes em cada grupo desenvolveram diarreia por Clostridioides difficile e 20% desenvolveram candidemia.

A terapia combinada pode estar associada a infecções mais graves, o que foi um potencial fator de confusão para desfechos clínicos ruins. Dessa forma, um escore de propensão foi calculado e a análise de regressão múltipla mostrou que o OR ajustado para terapia combinada em associação com mortalidade em 30 dias foi de 1,5 (95% CI 0,61–3,64); P  = 0,38, e em associação com mortalidade em 60 dias foi de 1,24 (95% CI 0,35–4,42); P  = 0,75.

Conclusões

Este estudo foi o maior estudo até o momento feito para avaliar os resultados clínicos associados ao tratamento com ceftazidima + avibactam das ERC com genes OXA-48 e/ou NDM. A cura clínica e a mortalidade em 30 dias foram consistentes com as de estudos anteriores e os achados sugerem que a terapia combinada com ceftazidima + avibactam não teve impacto direto nos resultados clínicos. Os pacientes que apresentaram choque séptico pareciam estar em maior risco de mortalidade.

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Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo
  • Alqahtani H, et al. Evaluation of ceftazidime/avibactam for treatment of carbapenemase-producing carbapenem-resistant Enterobacterales with OXA-48 and/or NDM genes with or without combination therapy. JAC Antimicrob Resist. https://doi.org/10.1093/jacamr/dlac104