Cientistas descobrem gene que “esconde” tumor e impede eficácia do tratamento

Foi observado que o DUX4 (presente nos tumores) pode impedir que as células cancerígenas sejam reconhecidas e combatidas pelo sistema imunológico.

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Pesquisadores americanos identificaram um gene que torna o câncer invisível ao tratamento com imunoterapia. Em uma análise laboratorial, foi observado que o DUX4 (presente nos tumores) pode impedir que as células cancerígenas sejam reconhecidas e combatidas pelo sistema imunológico. Os dados do estudo, publicado na revista Developmental Cell, podem contribuir para aprimorar terapias oncológicas existentes.

O gene DUX4

A função do gene DUX4 é fazer a síntese de proteínas que impedem que as células sejam atacadas pelo sistema imunológico. Geralmente, esse gene permanece “silencioso” nas células normais. Ele somente fica ativo na fase da gestação, como uma forma do bebê se proteger contra o sistema imunológico de sua mãe, que pode atacá-lo como um corpo estranho. Ou também em pessoas que apresentam distrofia muscular fácio-escápulo-umeral. No entanto, esse novo estudo mostrou que o gene DUX4 também está em atividade em determinadas células cancerosas.

“O aumento de expressão de DUX4 foi identificado em tumores que são normalmente resistentes a imunoterapia, como sarcomas, tumores de estômago, bexiga, endométrio, colo uterino, mama, ovário, rim, testículo e timomas”, aponta a oncologista clínica Veridiana Camargo, especialista em melanomas e sarcomas da clínica OncoStar e do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (ICESP).

A oncologista ainda complementa que, no estudo de melanoma com Ipilimumab, os pacientes começaram apresentando uma boa resposta, mas rapidamente depois o tumor progredia. “Um dos motivos é a expressão do DUX4, que fez com que o tumor conseguisse evadir o sistema imunológico”.

Metodologia

A equipe de pesquisadores do Centro de Pesquisa do Câncer Fred Hutchinson, nos Estados Unidos, analisou os perfis de expressão gênica de cerca de 10 mil cânceres de 33 tipos de tumores. Nas análises, foi descoberto que o DUX4 impede que as células imunológicas reconheçam as cancerígenas. Os cientistas explicam no artigo que pacientes cujos tumores expressavam o gene são menos propensos a responder à imunoterapia.

Como o DUX4 é expresso em muitos tipos de câncer, o bloqueio de sua atividade pode aumentar o sucesso dos inibidores do ponto de verificação imunológica.

“A imunoterapia pode ser incrivelmente poderosa contra cânceres previamente intratáveis, mas ainda não é eficaz para a maioria dos pacientes. Compreender os mecanismos que impedem o sistema imunológico de identificar e atacar tumores é um primeiro passo para encontrar a cura para todos os pacientes”, diz  em um comunicado para a imprensa, Robert Bradley, um dos autores do estudo.

Normalmente, o gene DUX4 é expresso no desenvolvimento inicial da doença, quando as células precisam evitar a detecção pelo sistema imunológico. “Esse estudo sugere que as células cancerígenas expressam DUX4 para sabotar um programa de atividade imunológica anticâncer precoce”, ressalta Robert Bradley.

Segundo os autores do estudo, não há aumento do risco de câncer em indivíduos com distrofia facio-escápulo-umeral, o que indica que as células cancerosas devem utilizar o gene exclusivamente para a sua defesa.  

Próximos passos

Com a identificação do DUX4, o próximo passo é desenvolver fármacos que inibam a ação da proteína sintetizada pelo gene. Ainda não temos uma medicação específica que age contra esse fator de transcrição, mas já está em estudos iniciais. Em breve, devemos ter alguma resposta em relação a isso”, comenta Veridiana Camargo.

Para a oncologista, outro passo é se certificar se a inibição do DUX4 pode realmente beneficiar os pacientes sem acrescentar toxicidade ao tratamento.

*Esse artigo foi revisado pela equipe médica da PEBMED

 

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