Colchicina traz benefício na prevenção cardiovascular no pós-operatório torácico?

Esse é o maior estudo randomizado que avaliou uso de colchicina no perioperatório e os resultados mostraram que não há benefício no uso..

A colchicina, medicação com efeito anti-inflamatório, barata e disponível, usada em diversos cenários, vem mostrando benefício em redução de eventos cardiovasculares. No pós-operatório de cirurgia cardíaca reduz a ocorrência de síndrome pós pericardiectomia e fibrilação atrial (FA) perioperatória e no contexto de doença coronária aterosclerótica estável reduz MACE (eventos cardiovasculares adversos maiores).  

Alguns estudos já mostraram que marcadores inflamatórios aumentados tem relação com maior ocorrência de FA perioperatória e injúria miocárdica no pós-operatório de cirurgias não cardíacas (MINS, do inglês myocardial injury after non-cardiac surgery) e não é conhecido se o uso de anti-inflamatórios poderia reduzir a ocorrências dessas complicações.  

Assim, foi feito um estudo que avaliou se o uso de colchicina em baixas doses poderia reduzir a ocorrência de FA e MINS no pós-operatório de cirurgia torácica. A seguir se encontram os principais pontos deste estudo. 

 Saiba mais: Quais os fatores de risco e evolução esperada para a neuromiopatia por colchicina?

Colchicina traz benefício na prevenção cardiovascular no pós-operatório torácico?

Colchicina traz benefício na prevenção cardiovascular no pós-operatório torácico?

Métodos  

Foi um estudo randomizado, placebo controlado, realizado com pacientes de 11 países. Os critérios de inclusão eram idade de 55 anos ou mais, cirurgia torácica com uso de anestesia geral e necessidade de, pelo menos, um dia de internação hospitalar. Os pacientes foram randomizados para receber colchicina na dose de 0,5mg duas vezes ao dia ou placebo. A primeira dose era administrada quatro horas antes da cirurgia, a duração do tratamento era de dez dias e o seguimento de 14 dias. 

Os desfechos primários foram FA clinicamente relevante (com dor torácica, insuficiência cardíaca, hipotensão ou necessidade de controle de ritmo ou frequência) e ocorrência de MINS (infarto agudo do miocárdio (IAM) ou aumento de troponina de causa isquêmica). 

Resultados 

Foram avaliados 1608 pacientes no grupo colchicina e 1601 no grupo placebo. A idade média era 68 anos, 51,6% eram do sexo masculino, 21% eram tabagistas, 18,5% diabéticos e 52% hipertensos. Os procedimentos mais realizados foram ressecção pulmonar, incluindo ressecção lobar (63,6%), ressecção em cunha (20,3%) e ressecção segmentar (15,2%). Do total, 92,9% tinham câncer como causa da cirurgia. 

O número de pacientes que descontinuaram a medicação foi maior no grupo colchicina, que teve maior ocorrência de diarreia como causa da descontinuação. No grupo placebo a maior causa de descontinuação foi recusa. A maioria dos pacientes tinha pelo menos um eletrocardiograma nos primeiros três dias, sendo a maioria do primeiro dia e todos coletaram troponina. 

A FA ocorreu em 6,4% no grupo colchicina e 7,5% no grupo placebo. Já MINS ocorreu em 18,3% no grupo colchicina e 20,3% no grupo placebo. Ambos sem diferença estatística. O grupo colchicina teve maior incidência de diarreia (HR 3,64 IC95% 2,54-5,22), com mediana de duração de três dias, sem mudança na duração da internação. 

A ocorrência de FA e MINS, avaliadas em conjunto foi de 22,4% no grupo colchicina e 25,9% no placebo (HR 0,84; IC95% 0,73-0,97). Houve redução do risco de FA no grupo colchicina quando os pacientes eram submetidos a toracoscopia (HR 0,53; IC95% 0,36-0,77) e risco maior quando cirurgia aberta (HR 1,59; IC95% 1,07-2,35). Também houve redução de MINS quando o procedimento era via toracoscopia (HR 0,80; IC95% 0,66-0,98), sem diferença quando via aberta. 

Comentários 

Esse é o maior estudo randomizado que avaliou uso de colchicina no perioperatório e os resultados mostraram que não há benefício da medicação em redução de eventos nos pacientes submetidos a cirurgia torácica. Porém, a análise post-hoc mostrou redução de eventos quando analisados em conjunto.  

Na análise de subgrupos, houve benefício da medicação na redução de FA em pacientes submetidos a toracoscopia e potencial maleficio nos submetidos a cirurgia aberta. Em relação a MINS, também houve benefício da colchicina nos pacientes submetidos a toracoscopia, sem diferença na cirurgia aberta. Esse achado vai contra a hipótese inicial do estudo, que esperava resultado favorável à medicação na cirurgia aberta, e o motivo para isto não está muito claro.

Leia também: Colchicina pode ajudar na doença arterial coronariana?

Conclusão e mensagem prática 

Apesar de os resultados não terem mostrado benefício da colchicina, são geradores de hipóteses, já que sugerem que parece haver benefício para os pacientes submetidos a toracoscopia e mais estudos são necessários sobre esse assunto para esclarecer possíveis benefícios da medicação.

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Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo
  • Conen D, Michael Ke Wang, Popova E, Matthew, Landoni G, Cata JP, et al. Effect of colchicine on perioperative atrial fibrillation and myocardial injury after non-cardiac surgery in patients undergoing major thoracic surgery (COP-AF): an international randomised trial. The Lancet. 2023 Aug 1; doi.org/10.1016/S0140-6736(23)01689-6   ‌