Quais os fatores de risco e evolução esperada para a neuromiopatia por colchicina?

Para estudar a complicação da neuromiopatia por colchicina, realizou-se uma revisão sistemática sobre os fatores de risco, duração e evolução.

A colchicina é uma antiga aliada do reumatologista, sendo útil para o tratamento de diversas doenças reumáticas, como gota, doença de Behçet, febre familiar do Mediterrâneo, entre outras. Por serem os mais frequentes, os eventos adversos mais conhecidos são os gastrointestinais. No entanto, você sabia que o uso crônico da colchicina pode causar neuromiopatia?

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Quais os fatores de risco e evolução esperada para a neuromiopatia por colchicina?

Metodologia

Foi realizada uma busca de alta sensibilidade nas principais bases de dados, utilizando os seguintes termos: “(colchicine) AND (myopathy OR myalgia OR myositis) OR (neuropathy OR neuralgia OR neuritis)”.

Resultados

Foram analisadas 2.264 publicações; dessas, foram incluídas 113 após os procedimentos de exclusão. Foram identificados 162 pacientes (4 definitivos, 139 prováveis, 19 possíveis e 0 duvidosos —  avaliados pelo algoritmo de Naranjo) com neuromiopatia pela colchicina. Posteriormente, apenas 143 pacientes com diagnóstico definitivo ou provável foram incluídos na análise.

A idade média foi de 58±17 anos (mín. 5 e máx. 91 anos). A maioria tinha entre 40-49 e 60-69 anos. A maioria dos casos eram de gota, doença por depósito por pirofosfato de cálcio (CPPD) e febre familiar do Mediterrâneo (FMF).

A dose média foi de 1,25±0,6 mg/dia, sendo que a maioria dos casos receberam doses tipicamente prescritas (entre 0,6-1,2 mg/dia). A maioria dos pacientes estavam tomando colchicina há mais de 1 ano.

Sinais e sintomas de neuromiopatia foram encontrados em 140 casos (mialgia, miotonia, rabdomiólise, redução de sensibilidade e hiporreflexia). A maioria dos casos tinha manifestações combinadas de neuropatia e miopatia (72,5%); apenas 12 casos (9%) apresentaram neuropatia isolada. Além disso, uma boa parte dos casos (46%) apresentaram sintomas gastrointestinais concomitantes, sendo que estes geralmente se iniciaram antes das queixas neuromusculares.

A maioria dos pacientes apresentaram elevação de CK (94%). Estudos de condução nervosa (n=56) estavam alterados em 84%, geralmente com alterações de condução apenas discretas, sendo a desmielinização incomum. Já a eletromiografia (n=87) estava alterada em 97% dos casos (potenciais de unidade motoras de baixa amplitude e curta duração, fibrilações espontâneas, recrutamento precoce e ondas agudas positivas). Biópsia de nervo periférico foi realizada em 8 casos, sendo que 7 apresentaram alterações. Já a biópsia muscular foi feita em 59 pacientes, com alterações em 97% dos casos (mais comum: alterações vacuolares, sem necrose ou inflamação).

Mais de 80% dos pacientes apresentavam comorbidades significativas ou possível interação medicamentosa com a colchicina. Ambos os itens estavam presentes em 40% dos pacientes analisados.

Após a interrupção da colchicina, houve recuperação completa em 70% dos casos, com uma mediana de 21 dias; 23% apresentaram melhora do quadro, porém não retornaram ao basal. Foram descritas 3 mortes por disfunção orgânica múltipla, que não foram evitadas com a suspensão da droga. A colchicina foi reiniciada em doses mais baixas em 15 casos, e a maioria (73%) não apresentou recorrência do quadro.

Comentários

Esse estudo é importante por analisar todos os casos definitivos ou prováveis de neuromiopatia pela colchicina publicados na literatura médica. Por ser um evento adverso mais raro que os gastrointestinais, essas complicações são frequentemente esquecidas pelos médicos.

Como foi observado, o paciente é frequentemente sintomático, com alterações nos diversos exames utilizados para avaliação das queixas neuropáticas e miopáticas. Dito isso, é papel do médico que acompanha pacientes que fazem uso crônico de colchicina questionar ativamente sobre sinais/sintomas que possam sugerir a presença dessa complicação, especialmente naqueles com fatores de risco (comorbidades significativas — por exemplo, doença renal crônica — e uso de medicamentos que interagem com a colchicina).

A grande vantagem é que os sintomas, de modo geral, não foram graves e se resolveram completamente na maioria dos pacientes (70%), permitindo inclusive o retorno da medicação em doses mais baixas.

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Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo
  • McEwan T, Bhambra J, Liew DF, et al. Systematic review of colchicine neuromyopathy: Risk factors, duration and resolution. Semin Arthritis Rheum. 2023;58:152150. DOI: 10.1016/j.semarthrit.2022.152150

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