Como a influenza se comporta em pacientes imunossuprimidos?

Com o inverno, aumenta a preocupação com a circulação do vírus Influenza, contudo poucos estudos avaliaram a carga da doença em pacientes imunossuprimidos.

Com a chegada do inverno, aumenta a preocupação com a circulação do vírus Influenza, causador de infecções respiratórias que podem ser causa de hospitalizações, complicações respiratórias ou cardiovasculares e mesmo óbito. Embora prevalente, poucos estudos avaliaram o impacto da influenza em pacientes imunossuprimidos.

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Paciente imunossuprimido apresenta sintomas de influenza

Materiais e métodos

Um estudo observacional transversal norte-americano procurou avaliar, por meio de análise de banco de dados, as características e os desfechos clínicos de pacientes imunossuprimidos internados com infecção por Influenza confirmada laboratorialmente.

Foram incluídos adultos com Influenza comunitária. Definida como qualquer teste positivo para Influenza entre 14 dias antes e 3 dias depois da admissão hospitalar. Internados nos centros hospitalares que contribuem para o banco de dados nas temporadas de Influenza de 2011-2012 a 2014-2015. Pacientes que não possuíam informação sobre admissão em CTI, ventilação mecânica ou morte foram excluídos.

Foram considerados como imunossuprimidos indivíduos que possuíssem pelo menos uma das seguintes condições: infecção pelo vírus HIV/AIDS, câncer, transplante de células hematopoiéticas, transplante de órgãos sólidos, uso de imunossupressores não esteroidais, deficiência de imunoglobulina, deficiência de complemento, asplenia ou outras condições raras.

Os desfechos primários foram mortalidade por todas as causas durante hospitalização, admissão em CTI e duração da internação. Já os desfechos secundários incluíram pneumonia, ventilação mecânica e duração de internação em CTI.

Resultados

Dos 36.716 pacientes hospitalizados cujos dados foram reportados, 35.348 preenchiam os critérios de elegibilidade e foram incluídos na análise. Desses, 3.633 (10,3%) foram considerados imunossuprimidos pelos critérios estabelecidos no protocolo. As condições imunossupressoras mais comuns foram: câncer (44,4%), uso de imunossupressores não-esteroidais (44,1%), HIV/AIDS (18,2%) e transplante de órgão sólido (14,6%). Alguns pacientes apresentavam mais de uma condição imunossupressora.

Comparando com os pacientes imunocompetentes, os pacientes identificados como imunossuprimidos eram em geral mais jovens, tinham mais chance de ser homens e mais chance de serem tabagistas ou ex-tabagistas. Contudo, menos chance de apresentarem doenças pulmonares crônicas e doenças cardiovasculares concomitantes, e mais chance de terem recebido prescrição para vacinação contra Influenza.

Dados clínicos de admissão estavam disponíveis somente para os pacientes admitidos na temporada de 2014-2015. Estes mostraram que, tanto imunocompetentes, quanto imunossuprimidos, apresentaram em sua maioria febre, tosse e dispneia como sintomas mais frequentes. Os pacientes imunossuprimidos receberam tratamento antiviral mais frequentemente.

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Riscos e desfecho para pacientes imunossuprimidos

Pacientes imunossuprimidos apresentaram maior risco de morte durante hospitalização do que os imunocompetentes, resultado que se manteve após ajuste para possíveis fatores confundidores (OR ajustada de 1,46; IC 95% = 1,20 – 1,76). Na análise por subgrupos, pacientes com câncer e em uso de imunossupressores não esteroidais apresentaram maior risco de morte quando comparados com imunocompetentes. Não houve diferença entre pacientes com HIV/AIDS quando comparados com imunocompetentes (OR ajustada de 1,31; IC 95% = 0,75 – 2,28).

De forma semelhante, pacientes imunossuprimidos tiveram mais chance de admissão em CTI. Entretanto, após ajuste, houve diferença na chance de necessidade de terapia intensiva em pacientes imunossuprimidos de acordo com a idade, sendo maior em indivíduos entre 65-79 anos (OR ajustada de 1,25; IC 95% = 1,06 – 1,48) e naqueles com 80 anos ou mais (OR ajustada de 1,35; IC 95% = 1,06 – 1,73), mas sem diferença em relação aos imunocompetentes nos com menos de 65 anos. O tempo de internação também foi maior nos pacientes imunossuprimidos, tanto na análise primária quanto na análise ajustada.

Em relação aos desfechos secundários, o desenvolvimento de pneumonia foi mais comum entre pacientes imunossuprimidos e estes também foram mais propensos a necessitar de ventilação mecânica, mas não houve diferença no tempo de internação em CTI entre imunossuprimidos e imunocompetentes.

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Mensagens práticas sobre influenza e pacientes imunossuprimidos

Pacientes com alguma forma de imunossupressão parecem ter maior risco de desenvolvimento de desfechos desfavoráveis do que pacientes imunocompetentes quando desenvolvem infecção por Influenza com necessidade de hospitalização.

Os sintomas foram semelhantes aos encontrados em imunocompetentes, sendo febre, tosse e dispneia os mais frequentes.

Embora pacientes com HIV/AIDS sejam considerados como pertencentes ao grupo de risco para doença grave por Influenza, o risco de morte foi maior entre indivíduos com outras formas de imunossupressão.

Idade foi um fator importante para risco de admissão em unidade de terapia intensiva, com indivíduos a partir de 65 anos de idade apresentando maior risco do que seus pares imunocompetentes.

Esses resultados reforçam a necessidade de vacinação contra Influenza em pacientes imunossuprimidos e idosos. No Brasil, a vacina está disponível na rede pública de saúde para grupos de risco nas unidades básicas durante as companhas de vacinação e nos Centros de Referência para Imunobiológicos Especiais (CRIEs).

Referências bibliográficas:

  • Collins JP, et al. Outcomes of Immunocompromised Adults Hospitalized With Laboratory-confirmed Influenza in the United States, 2011-2015. Clinical Infectious Diseases 2020;70(10):2121–30 doi: 10.1093/cid/ciz638

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