Câncer de mama: a utilização de imagens 3D no processo de reconstrução mamária

O câncer de mama é a forma mais comum de câncer não cutâneo. Veja neste artigo o uso da tecnologia 3D na reconstrução da mama de pacientes.

O câncer de mama é a forma mais comum de câncer não cutâneo e a segunda de óbitos relacionados ao câncer. Uma abordagem personalizada para a doença é muito importante, pois trata-se de uma enfermidade heterogênea, onde o manejo depende de diversos fatores específicos da paciente. 

Geralmente, o tratamento inclui cirurgia de conservação da mama (BCS) ou mastectomia. Embora essa segunda opção de tratamento seja fundamental e definitiva para algumas pacientes, muitas vezes está associada a substanciais sequelas psicológicas, sociais e sexuais, assim como a distorção significativa da imagem corporal. 

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Por esses motivos, a reconstrução mamária após a mastectomia é parte fundamental do tratamento integral e multidisciplinar do câncer de mama, visando a melhoria da qualidade de vida e da autoestima das pacientes que passam pelo trauma da retirada de uma parte ou de toda a mama.  

Esse é um procedimento seguro, que não aumenta o risco de recorrência da doença e nem interfere na detecção da mesma. Mesmo assim, historicamente, apenas 20% das mulheres submetidas à mastectomia realizam a reconstrução da mama. 

câncer de mama

Tecnologia 3D na reconstrução mamária

Cada vez mais equipamentos com tecnologia 3D possibilitam ações mais efetivas na reconstrução mamária. Para suprir essas demandas crescentes, softwares associados à realidade virtual estão sendo desenvolvidos para contribuir no processo de reconstrução das mamas após a mastectomia. 

Um recente estudo intitulado “Uso de imagens tridimensionais para avaliar a eficácia do volume como variável crítica na seleção de implantes mamários” apresentou os resultados de uma coorte de 40 pacientes consecutivas que foram submetidas à mamoplastia de aumento de rotina com implantes anatômicos ou redondos. 

Cinco métodos de determinação do volume pré-operatório, incluindo o sistema de imagem computadorizada tridimensional Crisalix juntamente com uma ferramenta de realidade virtual associada, foram utilizados ​​para avaliar os desejos pré-operatórios das pacientes. Um questionário pós-operatório foi usado para avaliar a satisfação das participantes com cada método de determinação de volume. 

De acordo com o estudo, das 40 pacientes, 100% ficaram satisfeitas com o resultado. No entanto, dada a oportunidade, 12% teriam escolhido um implante com tamanho maior. A ferramenta de realidade virtual e dimensionadores externos se mostraram os mais eficazes na escolha de um implante, sendo considerada muito útil (62%), precisa (78%) e importante (88%) para ajudar os pacientes a escolher o tamanho de implante desejado. 

A conclusão dos pesquisadores foi que a priorização do volume como variável de seleção do implante na mamoplastia de aumento é um índice muito alto de satisfação das pacientes.

Como funciona o processo de reconstrução mamária

“O processo é basicamente esse: a paciente é fotografada em três ângulos diferentes e, em seguida, essas imagens são digitalizadas e transformadas em moldes 3D. A partir dessa etapa é possível estimar o volume das mamas, o posicionamento das aréolas e identificar se há alguma diferença entre ambos os lados. Além da reconstrução, é fundamental que se obtenha simetria entre as duas mamas. O equilíbrio entre os lados sempre representou uma limitação técnica, principalmente pela dificuldade de se estimar o volume e a forma para a escolha do silicone ideal”, explicou o cirurgião plástico Marcelo Sampaio, especialista em Cirurgia Geral e Cirurgia Plástica pelo Hospital das Clínicas (USP), com mestrado em Ciências Médicas (USP) e que atende no Hospital Sírio-Libanês, em entrevista ao Portal de Notícias da PEBMED. 

O cirurgião plástico destacou ainda que todas as próteses disponíveis no mercado são testadas para chegar a uma opção que se encaixe melhor para cada caso. Feito isso, a paciente pode colocar óculos de realidade virtual e se olhar para verificar como ficarão as suas mamas. 

Evidentemente, o programa não possui uma realidade 100%, uma vez que os tecidos orgânicos sofrem interferência de uma série de outros fatores, mas ainda sim, é possível chegar muito próximo do resultado real. 

Diferenciais da simulação em 3D

Marcelo Sampaio esclarece que os diferenciais estão ligados à proximidade da expectativa versus a realidade, uma vez que é possível “experimentar” diferentes tamanhos e formatos para encontrar uma versão mais próxima das mamas reais. Essa tecnologia fornece dados em relação ao volume correto das mamas, o que facilita na escolha do tamanho, não sendo necessário realizar testes com próteses menores ou maiores, reduzindo possíveis erros. 

“E mais: tudo isso realizado de uma forma não invasiva, indolor e sem colocar a saúde em risco. Esse processo também pode ser utilizado com finalidades estéticas, para caso de implantes simples”, esclareceu o cirurgião plástico Marcelo Sampaio, que coordenou por mais de doze anos o projeto filantrópico de cirurgia plástica de mama do Núcleo de Mastologia, do Hospital Sírio-Libanês, no qual foram atendidas mais de duas mil mulheres para a reconstrução da mama. 

O especialista contou ainda que atualmente é possível a obtenção de uma prótese sob demanda para tratar o pectus excavatum (peito escavado), uma deformidade óssea. “Você pode transformar essa deformidade em 3D e fabricá-la sob demanda, como se fosse uma impressão 3D no silicone. Mas essa possibilidade hoje em dia é somente para o pectus excavatum. Para reconstrução da mama, ainda não”, complementou Marcelo Sampaio. 

Valores e acessibilidade da tecnologia

A reconstrução de mama há muitos anos faz parte do tratamento do câncer de mama, não somente a reconstrução imediata quanto à reconstrução tardia, assim como a simetrização da mama contralateral, que não está doente. 

Ainda é previsto por lei que a mulher com câncer tem direito a reconstruir a mama que foi acometida pela enfermidade de simetrizar a mama contralateral para que ambas tenham um equilíbrio entre os lados, além da reconstrução da aréola e da papila. 

Não somente no Sistema Único de Saúde (SUS), mas também se determina que os convênios de saúde assumam financeiramente essa cirurgia. Pagando, inclusive, pelo silicone determinado pelo médico como a melhor opção para aquela paciente. 

“A disponibilização desta tecnologia nas clínicas envolve o investimento da ordem de U$10 mil a U$15 mil dólares. A programação e a simulação dos resultados não são cobradas da paciente. Normalmente, o médico adquire esse recurso para facilitar e aprimorar o trabalho, alinhando melhor as expectativas em relação aos resultados”, informou o cirurgião plástico. 

Mudança nos rumos do diagnóstico e tratamento

Na opinião de Marcelo Sampaio, no futuro será possível a reconstrução de um determinado tecido ou órgão em laboratório utilizando a bioimpressão 3D, mudando, assim, completamente o futuro da cirurgia. 

“Atualmente, são usados materiais aloplásticos, como, por exemplo, o silicone, ou a transferência de tecido de uma parte do corpo para outra. Já a engenharia dos tecidos, onde se enquadra a bioimpressão, estuda formas de criar tecidos por meio de um arcabouço sintético ou biossintético, para que assim seja possível recriar um microambiente daquela parte do corpo que deve ser regenerada. E utilizando a implantação de células-tronco será possível formar esse tecido com características muito parecidas ao original, que otimiza a  reconstrução corporal”, previu o cirurgião plástico, que acrescentou que em breve será possível fazer uma fotografia e transformá-la em uma impressão 3D. 

E, eventualmente, obter próteses produzidas especificamente para aquela paciente,  de acordo com as dimensões da mama, base e forma. “Será uma espécie de molde extraído de uma fotografia”, concluiu Marcelo Sampaio.

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Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo
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