Como retornar às atividades ortopédicas normalmente após o surto de Covid-19?

Em abril, um artigo recente aborda um tema que futuramente nos preocupará, o retorno à normalidade após a pandemia por Covid-19.

Em abril, um artigo publicado no Knee Surgery, Sports Traumatology, Arthroscopy, aborda um tema que futuramente nos preocupará, o retorno à normalidade após a pandemia por Covid-19. Devido à preocupação com o surgimento de novas ondas de casos ou com o achatamento da curva epidemiológica levando a maior duração temporal da onda inicial, o retorno à prática normal deve ser planejado de modo seguro e organizado se fundamentando nas evidências disponíveis na literatura. Este retorno possibilitará o melhor tratamento de pacientes com doenças crônicas e com condições ortopédicas semiurgenciais.

médico de ortopedia conversando sobre retorno pós-covid-19

Retorno às atividades ortopédicas pós-Covid-19

Uma revisão de literatura foi realizada com foco em artigos publicados e nas recomendações de organizações incluindo OMS, centros de controle de doenças americano e europeu, e academia americana de ortopedistas. Devido a heterogeneidade e carência de estudos a realização de uma revisão sistemática não foi possível.

Ainda não foram desenvolvidas diretrizes específicas para organizar o retorno, portanto questões específicas relacionadas ao atendimento ambulatorial e à realização rotineira de cirurgias foram levantadas de acordo com a literatura disponível.

Leia também: Quais as evidências sobre testagem da Covid-19 no perioperatório ortopédico?

Atendimento ambulatorial

O retorno ao funcionamento dos setores de atendimento ambulatorial deve seguir seis etapas:

  1. Triagem de sintomas e testes da equipe ortopédica (incluindo médicos, enfermeiros, equipe administrativa) com testes periódicos e afastamento por 14 dias dos testados positivos.
  2. Aplicação de questionários aos pacientes visando identificar pacientes infectados ou assintomáticos possivelmente infectados. Agendamento estratégico de pacientes que constituem grupo de risco em momento mais oportuno podendo iniciar a rotina de retorno aos atendimentos com pacientes jovens que não constituem grupo de risco.
  3. Controle de temperatura na entrada do setor de atendimento. Detecção de sintomas de doenças respiratórias também devem servir de sinal e alarme neste momento e indicam uma avaliação do paciente no setor de emergência. Fornecimento de máscaras de uso único para os pacientes e uso de máscaras pela equipe assistente assim como minimização de troca de documentos fisicamente são estratégias recomendadas.
  4. Áreas de espera deverão receber atenção especial quanto à higiene e ao distanciamento entre pacientes. Para evitar a ocupação da sala de espera pacientes devem aguardar em um ambiente externo como no estacionamento dentro do carro ou em lanchonetes e apenas se dirigirem à sala de espera próximo ao chamado para a consulta. Este ambiente deve ser frequentemente desinfetado.
  5. A consulta deve ser realizada de maneira objetiva eficiente e rápida. Informações subjetivas podem ser registradas digitalmente antes da entrada na sala de consulta. Após a consulta o consultório deve ser
  6. higienizado antes da entrada de outro paciente.
    As próximas consultas e o pagamento preferencialmente devem ser agendados de maneira digital minimizando o contato dos pacientes na recepção.

Retorno à prática cirúrgica

Fornecer informações adequadas aos pacientes no que diz respeito a organização hospitalar específica para prevenção de infecções é um passo importante pois uma parte significativa da população considerará o hospital como uma área de alto risco para infecção.

O rastreio de sintomas nos pacientes deve ser executado assim como o teste um dia antes da cirurgia. A chance de testes falso-negativos deve ser considerada. O teste RT-PCR (reverse-transcriptase polymerase chain reaction) apresenta especificidade de 100%, pode detectar a doença em 63% dos casos considerando a amostra nasofaríngea e em 32 na orofaríngea. Os testes rápidos de imunoensaios e sorologia carecem de validação e não são recomendados para este rastreio.

Veja também: Como se preparar para cirurgias ortopédicas e de trauma em pacientes com Covid-19?

A tomografia computadorizada (TC) também pode ser realizada previamente a cirurgia. Alguns artigos sugerem a TC como uma opção rápida e prontamente disponível, especialmente com a escassez do teste RT-PCR, que também consome mais tempo. A especificidade e sensibilidade gerais variam próximas a 61 e 97% com uma taxa de falso-negativo relatada de até 20% em pacientes sintomáticos.

Para pacientes que testaram negativo, técnicas de anestesia com bloqueios locais/locorregionais são preferidos à anestesia geral que dispersa mais aerossóis.

Para pacientes que testaram positivo, a cirurgia deve ser adiada em pelo menos três semanas, com confirmação de cura com a realização de dois testes negativos com 24h de intervalo entre eles.

O agendamento cirúrgico deve priorizar inicialmente casos com maior urgência relativa e posteriormente os casos mais eletivos, os quais podem ser agendados em um momento mais seguro com a progressão do retorno à normalidade. O processo de internação deve ser encurtado na medida do possível, priorizando adoção de estratégias de alta precoce.

O uso de completo de EPI pela equipe cirúrgica incluindo respiradores como PFF2, máscara cirúrgica, face shield, capotes impermeáveis, luvas e demais equipamentos permanecerão sendo recomendados.

Retornar inicialmente com procedimentos cirúrgicos em pacientes mais jovens, com menos comorbidades e com previsão de internação mais curta é recomendado. Pacientes com mais comorbidades e com previsão de internação mais prolongada, como para realização de artroplastias, devem ser operados em um segundo momento de restabelecimento do fluxo normal de funcionamento.

As salas de cirurgia devem estar equipadas com pressão negativa. A reciclagem de material não deve ser realizada. As salas cirúrgicas devem ser descontaminadas e mantidas por um tempo sem uso após a saída do paciente de acordo com critérios dos centros de controle de doenças.

Referências bibliográficas:

  • de Caro F, Hirschmann TM, Verdonk P. Returning to orthopaedic business as usual after COVID-19: strategies and options [published online ahead of print, 2020 Apr 27]. Knee Surg Sports Traumatol Arthrosc. 2020;1‐6. doi:10.1007/s00167-020-06031-3

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