Conflitos entre pais divorciados interferem na saúde mental do filho?

Pesquisadores do Arizona avaliam se conflito entre pais divorciados interfere em crianças desenvolverem problemas de saúde mental.

Pesquisadores da Arizona State University concluíram que o conflito entre pais divorciados ou separados parece estar associado ao aumento do risco de crianças desenvolverem problemas de saúde mental. Os resultados do estudo Longitudinal Effects of PostDivorce Interparental Conflict on Children’s Mental Health Problems Through Fear of Abandonment: Does Parenting Quality Play a Buffering Role?, de O’Hara e colaboradores, foi publicado no jornal Child Development.

A exposição ao conflito interparental (CIP), é considerada um dos eventos mais estressantes vividos por crianças cujos pais se divorciam/separam. No presente estudo, os pesquisadores avaliaram se o medo do abandono mediava a associação entre a exposição a CIP pós-divórcio e problemas de saúde mental posteriores. Além disso, analisaram se um relacionamento de alta qualidade entre ambos os pais-filho amortecia o efeito do CIP sobre o medo do abandono e se os relacionamentos mãe-filho e pai-filho proporcionavam diferentes efeitos. Para isso, os pesquisadores observaram essas relações longitudinalmente, em uma amostra de 559 crianças/adolescentes, de 9 a 18 anos, e usaram relatórios de filhos, pais e professores sobre os problemas de saúde mental infantil. As perguntas incluíam temas como: se os pais brigaram na frente das crianças, falaram mal um do outro ou pediram aos filhos para encaminhar mensagens.

Pesquisadores do Arizona avaliam se conflito entre pais divorciados interfere em crianças desenvolverem problemas de saúde mental.

O estudo com filho de pais divorciados

Das 559 crianças/adolescentes, 201 tiveram o pai como o responsável pelo programa e 358 tiveram a mãe; o responsável forneceu dados sobre problemas de saúde mental infantil. Em 40 famílias, mães e pais participaram do ensaio; dados do primeiro que se inscreveu no estudo foram usados. Os dados dos professores foram coletados apenas com a permissão dos pais. Das 559 crianças, 425 (76%) tinham permissão dos pais para coletar relatórios do professor e 375 (67,1% no total; 88% daquelas com permissão) tinham relatórios dos professores sobre seus problemas de saúde mental. As crianças tinham, em média, 12,48 anos e 50,6% eram do sexo masculino. Aproximadamente 93% dos responsáveis participantes eram legalmente casados com o outro progenitor do filho e 41,7% eram legalmente divorciados no início do estudo. Em média, as crianças passaram 2,44 noites por semana, ou aproximadamente 35% dos pernoites, com seus pais (fathers). A composição racial e étnica dos responsáveis era: 61,7% brancos não hispânicos, 29,5% hispânicos, 2,9% negros, 1,8% asiáticos e <1% índio americano ou nativo do Alasca; 3,9% foram identificados como multirracial.

As análises de mediações mostraram que o CIP pré-teste previu o medo de abandono três meses depois, assim como problemas de saúde mental relatados por crianças e professores dez meses depois. A interação entre CIP e qualidade do relacionamento sobre o medo do abandono foi significativa para os pais, mas não para as mães. Além disso, os pesquisadores não observaram uma hipótese de efeito protetor de relacionamentos ambos os pais-filhos de alta qualidade. O CIP previu o medo de abandono entre todas as crianças, exceto aquelas com relações pai-filho (somente o pai) de baixa e moderada qualidade, para as quais não estava significativamente associado ao medo de abandono. Os resultados do presente estudo destacam a necessidade de otimizar os programas de enfrentamento infantil e melhorar os programas de paternidade após o divórcio/separação, para reduzir o CIP.

Como reduzir essa questão?

Como ambos os pais podem mitigar os efeitos do CIP sobre o medo de abandono dos filhos e, por sua vez, os problemas de saúde mental? Para O’Hara e colaboradores, é importante garantir, em primeiro lugar, que os programas destinados a ajudar os filhos após o divórcio/separação os ajudem a lidar com quaisquer medos de abandono que possam ter. Em segundo lugar, é crucial melhorar os programas parentais para que trabalhem para ajudar ambos os pais divorciados a reduzir o conflito, ou pelo menos a exposição de seus filhos. Pode-se também auxiliar ambos os pais a se tornarem mais conscientes da importância de informar aos filhos que eles continuarão sendo cuidados, apesar de todas as mudanças que acontecem na família, após um divórcio/separação. Os pesquisadores descrevem que um intenso carinho (característica central de um relacionamento de alta qualidade), tende a atenuar o nível de ameaça percebida durante e após a exposição ao CIP, aumentando a sensação das crianças de que serão cuidadas. Além disso, quando ambos os pais divorciados estão envolvidos na vida diária de seus filhos, eles tendem a acreditar que os dois estarão disponíveis para eles de uma maneira confiável, o que pode reduzir o medo do abandono. Por fim, os filhos que se sentem próximos de ambos os pais, aceitos e capazes de se comunicar abertamente têm maior probabilidade de usar os pais como um recurso quando estão angustiados, o que pode reduzir o medo de abandono no contexto dos conflitos.

Referência bibliográfica:

  • O’Hara KL, Rhodes CA, Wolchik SA, Sandler IN, Yun-Tein J. Longitudinal Effects of PostDivorce Interparental Conflict on Children’s Mental Health Problems Through Fear of Abandonment: Does Parenting Quality Play a Buffering Role? Child Dev. 2021 Jan 12. doi: 10.1111/cdev.13539. Epub ahead of print. PMID: 33432998.

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